21 de junho de 2025
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“Boa noite, Cinderela”: Garotas de programa são presas suspeitas de dopar e roubar pelo menos dez homens no Entorno do DF

Operação da Polícia Civil de Goiás revela golpe em série com uso de substâncias para dopar clientes em motéis de Luziânia. Vítimas relataram perdas de até R$ 40 mil. Defesa das suspeitas nega as acusações e questiona ausência de provas periciais.
Ester Rocha da Silva e Tainá Carine Silva Costa (Divulgação/Polícia Civil)

A Polícia Civil de Goiás deflagrou, no último sábado (10), uma nova fase da investigação que resultou na prisão de duas mulheres suspeitas de aplicar o golpe conhecido como “boa noite, Cinderela” em pelo menos dez homens nas cidades de Luziânia e Valparaíso, no Entorno do Distrito Federal. As investigadas, Ester Rocha da Silva e Tainá Carine Silva Costa, são apontadas como garotas de programa que, segundo as autoridades, dopavam os clientes com bebidas adulteradas e depois realizavam saques, transferências e compras com os cartões bancários das vítimas.

De acordo com o delegado Ronivaldo Loureiro, responsável pelo caso, uma das vítimas teve prejuízo de cerca de R$ 30 mil, enquanto outro cliente, de 56 anos, perdeu quase R$ 40 mil em transações realizadas pelas suspeitas durante um único dia.

“Elas se aproximavam das vítimas com o pretexto de um encontro íntimo, geralmente marcado para um motel da cidade. Lá, ofereciam bebida supostamente batizada com substâncias entorpecentes. Com os homens inconscientes, subtraíam cartões e faziam compras por horas seguidas”, explicou o delegado.

A investigação aponta que o golpe não era pontual. As duas mulheres já haviam sido presas em 2024, mas foram liberadas para responder em liberdade. A reativação da prisão preventiva ocorreu após novas denúncias que apontam reincidência e mesmo padrão de atuação.

A Polícia Civil destaca que as imagens das suspeitas foram divulgadas com o objetivo de localizar outras possíveis vítimas, uma vez que a suspeita é de que o número de casos seja maior.


Golpe sofisticado e repetido

Os crimes ocorreram entre o fim de 2023 e o primeiro semestre de 2024, com registros documentados que revelam compra de bebidas alcoólicas, cosméticos, eletrônicos, e até pagamentos feitos em maquininhas de cartão com titularidade desconhecida. Os investigadores chegaram à conclusão de que as mulheres utilizavam dados bancários das vítimas por até sete horas seguidas, sempre logo após os encontros.

“O que chamou atenção foi a frieza e o método repetido. Não se trata de um episódio isolado, mas de uma prática sistemática de fraude, sempre com o mesmo roteiro”, relatou um agente envolvido nas diligências.


Defesa contesta acusações e fala em ausência de provas

A defesa de Ester Rocha da Silva, representada pela advogada Silvânia Shirles, declarou que a cliente colabora com as autoridades, mas ressaltou que não existem laudos periciais que comprovem a presença de substâncias químicas nos organismos das vítimas – algo que, segundo a defesa, é essencial para a tipificação penal do crime de envenenamento ou dopagem.

“Ela exerce de forma legítima o seu direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa. Acreditamos que a verdade será esclarecida com serenidade e responsabilidade institucional”, afirmou a advogada em nota.

Já os advogados de Tainá Carine Silva Costa, José Victor Barros Aguiar e Pedro Ricardo Guimarães da Costa, questionaram a inconsistência das provas técnicas. Segundo eles, não há evidências periciais de dopagem, nem clareza sobre como as suspeitas teriam tido acesso às senhas bancárias dos clientes.

“Buscaremos demonstrar que as acusações carecem de fundamento, e que Tainá é inocente dos fatos imputados. A investigação falha em provas objetivas”, destacaram. A defesa anunciou que ingressará com pedido de habeas corpus.


Contexto jurídico e social

O golpe do “boa noite, Cinderela” é enquadrado no Código Penal como furto qualificado, estelionato e lesão corporal, podendo também configurar tentativa de homicídio, dependendo do grau de dopagem e dos riscos à saúde das vítimas.

Especialistas em segurança pública alertam para o aumento de casos semelhantes no Brasil, principalmente em regiões de fronteira urbana com movimentação noturna elevada. “A combinação entre vulnerabilidade emocional, uso de substâncias e tecnologia bancária digital tem tornado esse tipo de crime mais frequente e mais difícil de detectar no momento em que ocorre”, avalia o criminólogo Danilo Alves, da Universidade de Brasília (UnB).


Próximos passos da investigação

A Polícia Civil afirma que prosseguirá com a análise de imagens de câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais, além da rastreabilidade das compras realizadas com os cartões das vítimas. Também está em curso a solicitação de perícia toxicológica retroativa, para tentar identificar possíveis resquícios de substâncias nos materiais coletados nas datas dos crimes.

As duas investigadas permanecem presas preventivamente e serão ouvidas em audiência de custódia nos próximos dias.


Se você foi vítima de golpe semelhante em Luziânia ou região, a Polícia Civil orienta a procurar a delegacia local ou denunciar de forma anônima pelo telefone 197.

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