9 de julho de 2025
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Julho Amarelo mobiliza país contra hepatites virais com foco em testagem precoce e combate ao silêncio da doença

Secretarias de Saúde reforçam ações de testagem, vacinação e conscientização durante campanha nacional que alerta para as hepatites como ameaça silenciosa, porém tratável; dados apontam quase 90 mil mortes em duas décadas
Campanha nacional reforça a importância da ampla testagem para prevenir complicações graves e mortes evitáveis. Freepik

Julho Amarelo, mês de conscientização sobre as hepatites virais, reforça em 2025 a urgência de identificar e tratar precocemente essas doenças silenciosas que acometem o fígado e podem evoluir para quadros graves, como cirrose e câncer hepático. A campanha nacional, instituída pela Lei nº 13.802/2019, é coordenada em todo o Brasil pelas Secretarias de Saúde estaduais e municipais, em articulação com o Ministério da Saúde e organizações como a Sociedade Brasileira de Hepatologia (SBH).

De acordo com o Ministério da Saúde, entre 2000 e 2023 foram notificados 785.571 casos confirmados de hepatites virais no país, com 89.638 mortes atribuídas a complicações decorrentes dessas infecções. A maior parte dos óbitos decorre das hepatites B e C, que são também as mais propensas a se tornarem crônicas e assintomáticas por longos períodos.

“Essas doenças frequentemente não causam sintomas durante anos. Quando a pessoa procura atendimento, o fígado pode já estar gravemente comprometido”, alerta o médico infectologista Marcelo Cordeiro, consultor do laboratório Sabin Diagnóstico e Saúde. Segundo ele, a hepatite C é particularmente traiçoeira por permanecer silenciosa por até duas décadas.


Prevenção estruturada e acesso ampliado

Durante o mês de julho, as Secretarias de Saúde intensificam campanhas de testagem gratuita, inclusive com unidades móveis, tendas em espaços públicos e parcerias com centros universitários e organizações não governamentais. A testagem é feita por meio de testes rápidos ou sorologias específicas disponíveis em postos do SUS — muitas vezes com resultado em menos de 30 minutos.

Segundo o infectologista Cláudio de Souza, diretor do Departamento de HIV/Aids, Tuberculose, Hepatites Virais e ISTs do Ministério da Saúde, o foco em 2025 será ampliar o diagnóstico em populações vulneráveis e subdiagnosticadas, como usuários de drogas, profissionais do sexo, população privada de liberdade e homens com mais de 40 anos — faixa etária que concentra maior incidência de hepatite C.

Além disso, a campanha reforça a vacinação contra hepatites A e B, amplamente disponível no SUS. A vacina contra hepatite B, por exemplo, é ofertada para todas as faixas etárias desde 2016. “Essa é uma das vacinas mais seguras e eficazes que temos”, pontua o médico infectologista Alexandre Cunha, da Universidade Federal de Goiás (UFG).


Transmissão e comportamento de risco

As hepatites A e E são geralmente transmitidas por ingestão de água ou alimentos contaminados, associadas a locais com saneamento precário. A hepatite A, no entanto, também pode ser transmitida por contato sexual oral-anal. Já as hepatites B, C e D são transmitidas por sangue contaminado, relação sexual desprotegida e compartilhamento de objetos perfurocortantes.

Por isso, além da testagem, a prevenção passa pela educação em saúde: uso de preservativos, práticas sexuais seguras, não compartilhamento de itens pessoais e o uso de materiais esterilizados em procedimentos estéticos ou médicos.


Tratamento e avanço terapêutico

Atualmente, a hepatite C tem cura em mais de 95% dos casos, graças à incorporação de antivirais de ação direta no SUS, desde 2015. São medicamentos modernos, com alta taxa de sucesso e efeitos colaterais mínimos. Já a hepatite B, quando crônica, pode ser controlada com antivirais de uso contínuo, evitando a progressão para cirrose ou câncer hepático. As hepatites A e E, por sua vez, tendem a se resolver espontaneamente, exigindo apenas cuidados de suporte.

O Ministério da Saúde mantém protocolos de atenção integral à saúde das pessoas com hepatites virais, oferecendo desde diagnóstico até tratamento gratuito, inclusive com exames de carga viral, biópsia hepática e acompanhamento médico especializado.


Goiás e outras regiões intensificam mobilização

No estado de Goiás, a Secretaria Estadual de Saúde (SES-GO) promove em 2025 uma série de ações itinerantes em regiões com menor cobertura de diagnóstico, priorizando cidades do entorno do Distrito Federal, municípios com baixo IDH e áreas rurais. Em Goiânia, a Rede de Atenção à Saúde oferece testagem gratuita durante todo o mês em unidades básicas, com reforço de horários ampliados e equipes multiprofissionais.

A superintendente de Vigilância em Saúde da SES-GO, Flúvia Amorim, destaca que “a interiorização das campanhas e a busca ativa por casos não diagnosticados são prioridades na estratégia estadual”. Ela acrescenta que o estado tem registrado avanço na testagem e no acesso ao tratamento desde a inclusão de novos fluxos laboratoriais e capacitação de profissionais.


Conclusão: silêncio que não pode ser ignorado

Julho Amarelo é mais que uma campanha de saúde pública: é um chamado para quebrar o silêncio em torno de doenças que ainda afetam milhares de brasileiros. Com políticas públicas robustas, acesso gratuito à testagem e tratamento no SUS, o país tem todas as ferramentas para reverter esse cenário — desde que a população busque o diagnóstico e a prevenção.

“A hepatite viral não escolhe idade, gênero ou classe social. Mas o diagnóstico precoce salva vidas — e está ao alcance de todos”, conclui o infectologista Marcelo Cordeiro.

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