21 de junho de 2025
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Jornalista é agredido por servidor público em Santo Antônio do Descoberto após denúncias contra gestão municipal

Ataque ocorreu em plena via pública, foi filmado e ganhou repercussão nacional. Servidor afirma que perdeu o controle após ser chamado de “ladrãozinho”. Sindicato e Fenaj repudiam agressão e pedem providências imediatas das autoridades.
Profissional acredita que reportagens dele tenha motivado a violência (Reprodução/Redes sociais)

Um episódio de violência contra a liberdade de imprensa provocou indignação em Santo Antônio do Descoberto, município goiano localizado no Entorno do Distrito Federal. O jornalista Ronaldo Chaves dos Santos, de 59 anos, foi brutalmente agredido com socos, tapas e até um “mata-leão” pelo servidor público municipal José Sobreiro de Oliveira Filho, de 43 anos, na última terça-feira (13). O caso foi registrado em vídeo e viralizou nas redes sociais, acendendo um alerta sobre a crescente hostilidade contra comunicadores no exercício de sua função.

As imagens mostram o momento em que o jornalista é abordado de forma súbita e agredido logo no primeiro golpe, que o lança contra uma motocicleta estacionada. Segundo Ronaldo, ele não teve tempo de se defender. “Foi brutal, inesperado. Estou há três meses de completar 60 anos, e fui espancado em plena luz do dia, apenas por exercer meu direito de informar”, declarou em entrevista.


Contexto: Reportagens sobre gestão e denúncias de crimes

O estopim da agressão teria sido uma série de matérias veiculadas por Ronaldo em seu portal de notícias independente, questionando a omissão da prefeitura e da imprensa local sobre casos graves ocorridos em uma escola municipal — incluindo, segundo ele, denúncias de estupro envolvendo crianças. O jornalista afirma ainda que vinha cobrando explicações pelo “silêncio de mais de dez páginas locais de notícias”, o que teria incomodado setores da administração pública.

O agressor, servidor lotado na prefeitura municipal, admitiu o ato e declarou estar “arrependido”, mas alegou que perdeu o controle ao ser chamado de “ladrãozinho”, além de relembrar supostos ataques antigos feitos pelo jornalista. “Me arrependo profundamente, jamais quis agredir alguém. Sempre respeitei a imprensa, mas perdi o juízo”, afirmou em sua defesa.


Envolvimento político e ameaças anteriores

Ronaldo também revelou ter recebido mensagens com tom de ameaça do deputado estadual André do Premium (Avante), esposo da prefeita Jéssica do Premium (União Brasil). O jornalista registrou duas ocorrências policiais: uma por lesão corporal causada pelo servidor e outra por ameaça, supostamente atribuída ao parlamentar.

O deputado André do Premium confirmou ter tido “problemas” com o jornalista, mas repudiou a agressão. “Não concordo com espancamento de ninguém. Já houve atritos, sim, mas violência não se justifica. E o servidor será exonerado — o decreto sai em breve”, declarou ao jornal O Popular.


Reações institucionais e investigação

O caso está sendo investigado pela Polícia Civil, sob responsabilidade do delegado Marcus Vinícius Berno Nunes de Oliveira, que informou que as diligências começaram oficialmente apenas nesta quinta-feira (15), em razão do feriado municipal na quarta-feira. “Vamos apurar com rigor. Ainda não tenho detalhes completos, mas o inquérito será aberto e os depoimentos, colhidos nos próximos dias”, disse o delegado.

A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de Goiás (Sindjor-GO) se manifestaram imediatamente após o episódio. Em nota conjunta, classificaram a agressão como “um atentado à liberdade de imprensa” e cobraram “ações firmes contra o agressor e possível autoria intelectual”.

“Não se trata de um caso isolado, mas de mais um capítulo da escalada de intimidações e violência contra jornalistas no Brasil. Esperamos das autoridades policiais locais a imediata ação contra o agressor e os mandantes”, diz o comunicado.


Liberdade de imprensa em risco

A agressão contra Ronaldo Chaves dos Santos expõe o ambiente hostil e perigoso enfrentado por comunicadores, sobretudo em cidades pequenas, onde a relação entre o poder político e a imprensa tende a ser mais conflituosa. Para Flávia Lima, especialista em direitos humanos e liberdade de imprensa consultada pela reportagem, “a violência contra jornalistas é um reflexo direto do enfraquecimento das instituições democráticas e da tolerância social com a censura e a intimidação”.

O caso será acompanhado por entidades de defesa da liberdade de expressão e dos direitos humanos, como a Artigo 19 e a Abraji, que já solicitaram informações às autoridades de Goiás e manifestaram preocupação com a integridade física do jornalista.

Íntegra da nota do servidor

Entre 2018 a 2020 fui secretário de finanças no município, e o Sr Ronaldo do Santos sempre me coagiu pedindo dinheiro para que ele não publicasse nada a meu respeito, algo que jamais cedi, e ainda disse que ele nunca veria um centavo do meu dinheiro. Aí o Sr Ronaldo passou a me difamar pelas redes sociais, me chamando de corrupto, ladrão e soltando vídeos meus em momentos de vida particular.

O que foi me dando nervoso cada vez mais, e por muito tempo ele soltou inverdades sobre mim. Até que ele se mudou para Goiânia e me deixou em paz. Ontem, dia 13, eu fui trabalhar, porém passei mal, fui para casa e decidi ir ao hospital para tomar medicamento, quando passei em um evento que estava acontecendo no Campo Gramado, para pedir a um amigo que fosse comigo ao hospital, o Sr Ronaldo passou por mim com uma moto e me chamou de “ladrãozinho”, e foi aí que entrei em estado de nervo e fui atrás dele, o vi parado em frente a Câmara e com a cabeça quente desferi tapas no rosto dele.

Me arrependo profundamente pelo ocorrido, jamais quis agredir alguém, sempre respeitei a imprensa, mas ouvir uma pessoa te chamar de ladrãozinho e lembrar de tudo o que ele falou ao meu respeito anos atrás eu perdi o juízo e aconteceu as vias de fato. Mas uma vez digo que me arrependo profundamente pelo ocorrido.

Íntegra da nota da Fenaj

O Sindicato dos Jornalistas de Goiás e a FENAJ — Federação Nacional dos Jornalistas — vem se solidarizar com o jornalista RONALDO CHAVES DOS SANTOS que atualmente atua na cidade de Santo Antônio do Descoberto, Goiás.

No dia 13 de maio de 2025 o jornalista estava na porta da Câmara Municipal da cidade quando foi agredido de forma covarde pelo senhor José Sobreira de Oliveira Filho, diretor de audiovisual da prefeitura de Santo Antônio do Descoberto. A ação premeditada foi toda filmada e, posteriormente, espalhada nas redes sociais da cidade.

O profissional já vinha sendo ameaçado por pessoas ligadas a prefeita Jéssica do Premium, esposa do deputado estadual André Gontijo, o André do Premium (Avante) pelas postagens feitas no perfil do veículo “14 de maio”, onde mostra os problemas da gestão desta cidade do entorno do DF. E as ameaças evoluíram agora para agressão física.

Esperamos das autoridades policiais locais a imediata ação contra o agressor e os mandantes. Cobramos que seja instaurado inquérito e que seja feita a justiça.

Goiânia, 14 de maio de 2025.

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