Governador Ronaldo Caiado reage a fala de Lula sobre tráfico: “Para ele, bandido é vítima”
Governador de Goiás critica declaração do presidente sobre traficantes; após repercussão negativa, Lula reconhece “erro de expressão”, mas mantém discurso voltado à responsabilidade dos usuários e à repressão ao crime organizado
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), criticou duramente a fala do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre o tráfico de drogas, classificando-a como uma inversão de valores e um “afronte à lógica da segurança pública”. A declaração de Lula, feita durante agenda internacional na Malásia, afirmava que “traficantes são vítimas dos usuários”, o que provocou forte reação de autoridades e setores da sociedade civil.
“Para ele, o bandido é vítima. Uma inversão completa do processo. Uma declaração textual do presidente da República — onde é que estamos chegando no país?”, questionou Caiado. O governador, que tem pautado sua gestão no endurecimento do combate à criminalidade, reforçou que não há justificativa para relativizar a responsabilidade de quem lucra com o tráfico, apontando que a fala de Lula “demonstra desconexão com a realidade da segurança pública brasileira”.
Após a repercussão negativa, Lula recuou parcialmente, afirmando que a frase foi “mal colocada” e que seu posicionamento é “muito claro contra os traficantes e o crime organizado”. Em publicação feita no X (antigo Twitter) às 14h15 desta sexta-feira (24), o presidente destacou que as ações do governo federal comprovam seu compromisso com o enfrentamento ao tráfico, citando como exemplos a maior operação da história contra o crime organizado, o encaminhamento ao Congresso da PEC da Segurança Pública e recordes na apreensão de drogas.
“Mais importante do que as palavras são as ações. O governo tem atuado firmemente no combate ao crime e ao tráfico de drogas”, afirmou Lula na nota.
Mesmo com a retratação, o episódio reabriu o debate sobre a política nacional de drogas. O presidente reiterou que o enfrentamento ao consumo deve envolver também ações voltadas aos usuários, sustentando que “a relação de dependência é um fenômeno social e de saúde pública”. Para Lula, o foco exclusivo na repressão “ignora as causas e perpetua o ciclo de violência”.
A fala, no entanto, foi interpretada por críticos como um gesto de leniência com o narcotráfico. Para Caiado, o discurso “enfraquece o papel das forças de segurança e confunde o cidadão que exige firmeza do Estado”. O governador lembrou que Goiás tem apresentado queda consistente nos índices de homicídios e tráfico, resultado, segundo ele, de uma política de “tolerância zero com o crime”.
Enquanto o governo federal tenta corrigir o tom, a reação de Caiado reforça o distanciamento político entre o Palácio do Planalto e governos estaduais que defendem uma agenda mais rígida na área de segurança pública. O episódio evidencia não apenas a divergência de estratégias, mas também o embate de visões ideológicas sobre como o Estado deve lidar com o tráfico, o consumo e o impacto social das drogas no país.
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