Motorista da Comurg é executado por colega: dívida e agiotagem por trás de crime brutal em Goiânia
Servidor foi executado a sangue frio no Jardim Balneário Meia Ponte. Polícia aponta crime motivado por cobrança de dívida com agiota que também atuava na Companhia.
A manhã da última segunda-feira, 2 de junho, começou com violência e perplexidade no ponto de apoio da Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg), no Jardim Balneário Meia Ponte. O motorista J.R.S., servidor da companhia, foi morto com dois disparos de arma de fogo em plena luz do dia. O crime chocou colegas e moradores da região, não apenas pela frieza da execução, mas pela revelação do motivo: o autor dos disparos seria um colega de trabalho, com quem a vítima tinha uma dívida ligada à prática de agiotagem.
Segundo o delegado Vinícius Teles, da Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios (DIH), o assassinato foi meticulosamente planejado. “A vítima devia um valor para o suposto autor, que praticava agiotagem entre servidores. A dívida gerou cobranças insistentes, discussões e tensão nos últimos dias. E hoje, de forma premeditada, o suspeito foi ao ponto de encontro dos funcionários da Comurg, aproximou-se da vítima de forma tranquila, fria, e efetuou dois disparos fatais. Depois, fugiu”, afirmou o delegado à imprensa.
Ambiente de trabalho sob tensão
Servidores da companhia, ouvidos sob condição de anonimato, relatam que esse tipo de relação econômica entre colegas não é rara, e que o clima de medo e pressão silenciosa entre alguns grupos é antigo. “Tem gente que recorre a colegas para pegar dinheiro emprestado porque não consegue no banco. Mas quando atrasa, vira um inferno. Já vi muita discussão por causa disso”, disse um trabalhador da limpeza urbana.
A identidade do suspeito ainda não foi divulgada oficialmente pela Polícia Civil, o que impede que sua defesa seja ouvida até o momento. Informações preliminares apontam que ele também era servidor da Comurg e atuava oferecendo empréstimos informais — uma prática que, embora ilegal, costuma ocorrer com frequência em ambientes de baixa renda e alta informalidade financeira.
Comurg se manifesta e oferece apoio psicológico
Em nota, a Comurg confirmou que o homicídio ocorreu nas imediações de seu ponto de apoio no Jardim Balneário Meia Ponte e prestou solidariedade à família da vítima. “A Companhia de Urbanização de Goiânia (Comurg) se solidariza com colegas, amigos e familiares de J.R.S. e está à disposição das autoridades para contribuir com as investigações”, disse a empresa.
A companhia também anunciou que colocará uma equipe de apoio psicológico à disposição dos servidores que atuam na unidade. “É uma tragédia que afeta profundamente o ambiente de trabalho. Estamos oferecendo atendimento psicológico aos servidores e reforçando o cuidado com a saúde mental da equipe”, declarou um representante da direção da empresa.
Agiotagem e violência: um problema estrutural
Especialistas em psicologia organizacional e direito trabalhista alertam para a necessidade de olhar com mais atenção para os vínculos interpessoais e econômicos que se formam dentro de empresas públicas e privadas. A falta de políticas institucionais de apoio financeiro pode levar trabalhadores a recorrerem a empréstimos informais — com juros abusivos e cobrança coercitiva.
“O ambiente de trabalho deve ser um espaço seguro, tanto física quanto emocionalmente. Quando há lacunas institucionais, surgem dinâmicas subterrâneas que podem culminar em tragédias. A agiotagem, além de ilegal, mina a confiança e o equilíbrio das relações profissionais”, afirma a advogada trabalhista e professora de Direito Público, Marília Menezes.
Investigações continuam
A DIH segue as diligências para localizar o suspeito, que permanece foragido. Segundo o delegado Vinícius Teles, o inquérito está avançado e deve incluir não apenas a motivação do crime, mas também a eventual responsabilização por exercício ilegal de atividade financeira.
O caso lança luz sobre um tema muitas vezes invisível na gestão pública: a vulnerabilidade socioeconômica de servidores e os riscos silenciosos que ela pode gerar dentro das corporações.
Enquanto a cidade de Goiânia se debruça sobre mais um caso de violência urbana, os servidores da Comurg — responsáveis por manter a cidade limpa — convivem agora com o trauma de ver a morte bater à porta do próprio ambiente de trabalho.
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