Filho é preso por furtar R$ 15 mil do pai idoso para apostar online em Rio Verde
Polícia Civil aponta que homem de 40 anos usou acesso ao celular do pai, de 68 anos, para realizar uma série de transferências via Pix a sites de jogos. Crime foi qualificado como furto mediante fraude eletrônica. Suspeito responderá em liberdade.
Um caso que expõe as vulnerabilidades no uso de tecnologias por pessoas idosas e o avanço das plataformas de jogos online como canal para fraudes mobilizou a Polícia Civil de Goiás nesta semana. Um homem de 40 anos foi preso em flagrante na última segunda-feira (30), em Rio Verde, suspeito de furtar R$ 15 mil do próprio pai, de 68 anos, e utilizar o dinheiro para apostar em plataformas digitais de jogos.
A prisão foi realizada pelo Grupo Especial de Repressão a Crimes Patrimoniais (GEPATRI) após o idoso procurar a delegacia e denunciar uma sequência de transferências bancárias não autorizadas, todas feitas via Pix. Segundo ele, o filho pediu o celular do pai para efetuar uma transferência de R$ 1.000, mas aproveitou o acesso ao aparelho desbloqueado para realizar diversas transações em benefício próprio.
Fraude qualificada e apostas compulsivas
A delegada responsável pela investigação, Luciana Fonseca, explicou que o homem foi autuado por furto qualificado mediante fraude eletrônica, uma tipificação prevista no artigo 155, §4º-B, do Código Penal, que trata de crimes cometidos com o uso de dispositivos eletrônicos. De acordo com as investigações, o golpe foi aplicado ao longo de três dias consecutivos, entre sexta-feira (27) e a tarde da segunda-feira (30), quando o saldo da conta bancária da vítima já estava completamente esgotado.
“O suspeito utilizou o celular do pai para acessar a conta bancária e realizar diversas transferências para carteiras digitais associadas a aplicativos de jogos de aposta”, afirmou Fonseca. “Não se trata de uma única transação isolada. Houve repetição deliberada da conduta com o claro objetivo de subtrair valores em série”.
Investigação e liberdade provisória
O homem foi preso em flagrante, mas após a audiência de custódia, foi liberado para responder ao processo em liberdade provisória. A decisão judicial levou em consideração o fato de que ele não possui antecedentes criminais, embora o Ministério Público tenha sustentado a manutenção da prisão preventiva como medida de proteção ao idoso e à instrução processual.
A reportagem tentou contato com a defesa do suspeito, mas, segundo a delegada, ele ainda não constituiu advogado, o que impediu a obtenção de um posicionamento formal.
Impactos emocionais e crime silencioso
Apesar de não ter sofrido agressão física, o idoso — aposentado e com problemas de saúde — relatou à polícia profunda decepção emocional, além da preocupação com o comprometimento de sua subsistência, uma vez que os R$ 15 mil representavam economias acumuladas para despesas médicas.
O caso também reacende o alerta sobre um crime crescente no Brasil: a violência patrimonial contra idosos praticada por familiares. De acordo com levantamento da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, o número de denúncias envolvendo apropriação indevida de bens por parte de parentes cresceu mais de 30% nos últimos três anos.
Panorama legal e tecnologia como ferramenta e risco
Especialistas em direito penal e digital observam que, embora os sistemas bancários modernos ofereçam praticidade, a proteção dos dados e senhas por parte dos usuários mais vulneráveis ainda é um desafio, especialmente no ambiente familiar. “É comum que pais confiem seus celulares ou senhas a filhos e netos, mas isso tem se tornado um fator de risco silencioso, quando o acesso é explorado para fins criminosos”, explica o advogado criminalista e professor de Direito Penal, Danilo Mendes.
No contexto da explosão das apostas esportivas online no Brasil, potencializada pela recente regulamentação parcial do setor, casos como o de Rio Verde revelam o lado sombrio da expansão desse mercado: jogadores compulsivos com acesso fácil ao dinheiro de terceiros e plataformas que, muitas vezes, não exigem critérios rígidos de segurança para depósitos e retiradas.
Desdobramentos
A Polícia Civil continua apurando se o suspeito atuava sozinho ou se houve intermediação de terceiros nas movimentações financeiras. Além disso, foi solicitada à Justiça a quebra do sigilo bancário de contas utilizadas para as apostas, bem como a notificação das plataformas envolvidas.
O crime de furto qualificado mediante fraude eletrônica tem pena prevista de quatro a oito anos de reclusão, podendo ser aumentada caso se comprove que a vítima era especialmente vulnerável.
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