Entressafra pressiona mercado e eleva preço do etanol, em Goiás
Alta acima do registrado nas usinas acende alerta sobre repasses na bomba; Procon autua nove postos após constatar margens de lucro bruto superiores a 30% no etanol comum.

O preço do etanol voltou a subir com força em Goiás e provocou reação imediata dos órgãos de defesa do consumidor. Nesta quarta-feira (10), o litro já chegava a R$ 5,27 em alguns postos da Região Metropolitana, movimento que contrasta com a variação mais modesta registrada nas usinas nas últimas semanas. O Procon Goiás autuou nove postos – sete em Goiânia e dois em Aparecida – após identificar aumentos considerados incompatíveis com o comportamento do mercado primário do biocombustível.
A análise técnica do órgão, baseada em notas fiscais de compra dos últimos 30 dias, revelou variação superior a 30% na margem de lucro bruto por litro do etanol comum em quase todos os estabelecimentos fiscalizados. A elevação é considerada expressiva, principalmente quando comparada aos dados consolidados pelo Cepea/Esalq-USP, que apontam aumento de R$ 0,20 no preço do hidratado comercializado pelas usinas goianas entre o início de novembro e o início de dezembro — de R$ 2,68 para R$ 2,87.
O distanciamento entre os reajustes na origem e o que chega ao consumidor final fomentou a ação fiscalizatória, que seguirá ativa durante todo o período de entressafra.
Safra menor, estoques apertados e transição para o etanol de milho
De acordo com o presidente do Sifaeg, André Rocha, a elevação nos preços é consequência direta da transição para a entressafra da cana-de-açúcar, período em que a oferta do biocombustível diminui. Ele explica que a colheita 2024/2025 frustrou expectativas: Goiás tinha previsão de aumento de até 5 milhões de toneladas na moagem, mas avançou apenas cerca de 500 mil. No País, a retração foi generalizada.
Rocha atribui a queda à estiagem prolongada e a incêndios que comprometeram o desenvolvimento dos canaviais. Com menor disponibilidade de cana, cresce a dependência do etanol de milho, cuja produção tende a ser mais estável, porém não completamente suficiente para suprir a redução da oferta.
Mesmo com esse cenário, ele destaca que Goiás manteve um dos menores preços industriais do País até meados de novembro — embora esse comportamento não tenha se refletido na bomba.
Distribuidoras e postos alegam defasagem e repasses acumulados
O presidente do Sindiposto, Márcio Andrade, afirma que os postos têm recebido aumentos sucessivos desde outubro, acumulando cerca de R$ 0,30 no período. Como cada estabelecimento tenta evitar iniciar o repasse e perder competitividade, segundo ele, o mercado fica represado até que o primeiro reajuste seja anunciado. Depois disso, há uma reação em cadeia — a chamada correção simultânea de margens.
Andrade afirma que o custo de aquisição já bate R$ 3,99 nas distribuidoras, valor influenciado não só pela entressafra e pela menor produção de cana, mas também pelo aumento de custos operacionais, como:
- reajuste de quase 19% na energia elétrica;
- despesas típicas do fim de ano, como pagamento de 13º salário;
- queda esperada nas vendas em janeiro, que historicamente reduz a demanda.
Com o encarecimento do etanol, muitos consumidores devem migrar para a gasolina, uma vez que o biocombustível já ultrapassa a relação de 70% do preço da gasolina, referência usada para definir o melhor custo-benefício.
Fiscalização continua e pode atingir novas regiões

O Procon Goiás deve ampliar as ações nos próximos dias para verificar se os aumentos observados correspondem a custos reais ou configuram prática abusiva. A fiscalização deve incluir análise documental, comparação de séries históricas de preços e verificação de padrões de ajuste simultâneo considerados atípicos.
O órgão reforça que práticas de reajuste desproporcional podem resultar em autuações, multas e responsabilização administrativa conforme o Código de Defesa do Consumidor.
O avanço da entressafra, a menor disponibilidade de cana, a dependência crescente do etanol de milho e o comportamento das distribuidoras mantêm o setor em tensão. A evolução dos preços nas próximas semanas deve indicar se o mercado se estabilizará ou se novos repasses ocorrerão.
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