Polícia Civil desmonta megaesquema de fraudes em seguros com desvio de cargas em Goiás: prejuízo chega a R$ 65 milhões
Organização criminosa aliciava motoristas para simular roubos e lucrar com sinistros forjados. Operação Depositário Infiel II cumpre 24 mandados de prisão, apreende mais de 80 veículos e bloqueia patrimônio milionário em seis cidades goianas.

A Polícia Civil de Goiás, por meio da Delegacia Estadual de Repressão a Roubos de Cargas (Decar), desencadeou nesta quinta-feira (3) uma das maiores operações contra fraudes no setor de transporte e seguros do estado. A segunda fase da Operação Depositário Infiel mira uma sofisticada organização criminosa acusada de desviar cargas, simular roubos e fraudar seguros, gerando prejuízos estimados em R$ 65 milhões a empresas e seguradoras.
Ao todo, foram cumpridos 24 mandados de prisão preventiva, além da apreensão de mais de 80 veículos, entre caminhões, utilitários e automóveis de luxo. Também foi determinado o bloqueio judicial de bens e contas bancárias dos envolvidos, com o objetivo de garantir a recuperação dos valores desviados. Os alvos estão distribuídos em seis cidades goianas: Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Trindade, Palmeiras de Goiás e Gouvelândia.
Estrutura profissional e fraudes em série
De acordo com o delegado Alexandre Bruno Barbosa, titular da Decar, a organização operava com alta sofisticação logística e contábil, em conluio com motoristas, empresários do ramo de transporte e intermediários. “Os motoristas eram aliciados para desviar cargas, especialmente produtos de alto valor como eletrônicos, defensivos agrícolas e alimentos. Depois, eram orientados a registrar boletins de ocorrência falsos, simulando roubos à mão armada, para acionar o seguro e viabilizar o ressarcimento fraudulento”, explicou.
O golpe consistia, basicamente, em inserir empresas fictícias no ciclo logístico, dificultando o rastreamento da carga e diluindo a responsabilidade. Em muitos casos, as mercadorias desviadas eram revendidas no mercado paralelo, com participação de receptadores previamente articulados.
A investigação, que durou mais de três anos, revelou padrões recorrentes de atuação, como a repetição de boletins de ocorrência em locais específicos, uso de notas fiscais adulteradas e triangulação de rotas para simular trajetos reais de entrega.
Impacto econômico e judicialização
Empresas de transporte e seguradoras foram diretamente lesadas pelo esquema. Segundo fontes ligadas à Federação Interestadual das Empresas de Logística e Transporte de Cargas (FENATAC), o prejuízo estimado ultrapassa R$ 65 milhões, valor que pode crescer com a análise de novos documentos apreendidos.
A Justiça determinou o bloqueio de contas bancárias, imóveis e veículos registrados em nome dos suspeitos e de laranjas, visando o ressarcimento às vítimas. A Polícia Civil ainda analisa possíveis ramificações do grupo em outros estados da Região Centro-Oeste.
Operação foi batizada em alusão ao Código Civil
O nome da operação, Depositário Infiel, faz referência à figura jurídica do depositário que se apropria de bens confiados a ele, prevista no artigo 640 do Código Civil. No caso, os motoristas e empresas envolvidas atuavam como falsos depositários, simulando perdas forjadas para se beneficiarem indevidamente.
A primeira fase da operação, deflagrada em 2022, já havia levado à prisão de outros integrantes da quadrilha, o que permitiu a análise detalhada de registros contábeis, extratos bancários e mensagens criptografadas trocadas pelos membros.
Um modelo que preocupa o setor
O setor de transporte de cargas, responsável por quase 60% da logística nacional, tem sido constantemente alvo de ações criminosas de alto nível de organização. Segundo dados da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística (NTC&Logística), o Brasil registrou mais de 14 mil ocorrências de roubos de carga em 2023, sendo o Centro-Oeste a terceira região mais afetada.
Casos como o de Goiás chamam atenção por envolverem não apenas o roubo de bens, mas fraudes estruturadas que comprometem o equilíbrio do setor de seguros e distorcem a concorrência entre transportadoras.
Desdobramentos
Os presos serão ouvidos ao longo dos próximos dias, e as provas obtidas serão remetidas ao Ministério Público de Goiás. Os crimes apurados incluem organização criminosa (art. 2º da Lei 12.850/13), falsidade ideológica, fraude em seguro (art. 171, §2º do Código Penal), lavagem de dinheiro e receptação qualificada.
O delegado Alexandre Bruno afirma que novas fases da operação não estão descartadas: “A complexidade do esquema exige aprofundamento. Nossa meta é descapitalizar completamente a quadrilha e responsabilizar todos os envolvidos — do motorista ao receptador”.
A Polícia Civil deve divulgar, nas próximas semanas, um balanço final com a lista de empresas lesadas e o detalhamento dos valores recuperados.
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