Treze jogadores, além de um atleta do Vila Nova, agora são réus em uma ação que acusa a manipulação de jogos. A denúncia foi aceita pela Justiça.
A Justiça aceitou a denúncia do Ministério Público de Goiás contra 14 pessoas, incluindo 6 integrantes de um grupo criminoso especializado em corrupção esportiva. Eles são acusados de manipular resultados em partidas da série B do Campeonato Brasileiro de Futebol de 2022. Agora, os réus são Bruno Lopez de Moura (vulgo BL), Camila Silva da Motta, Ícaro Fernando Calixto dos Santos, Luís Felipe Rodrigues de Castro, Victor Yamasaki Fernandes, Zildo Peixoto Neto, Allan Godoi dos Santos, André Luís Guimarães Siqueira Júnior (André Queixo), Mateus da Silva Duarte (Mateusinho), Paulo Sérgio Marques Corrêa, Ygor de Oliveira Ferreira (Ygor Catatau), Marcos Vinicius Alves Barreira (Romário), Joseph Maurício de Oliveira Figueredo e Gabriel Domingos de Moura. A investigação, conduzida pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), foi iniciada com base em indícios de corrupção esportiva apresentados pelo presidente do Vila Nova Futebol Clube. Ele apontou evidências da atuação ilícita de Bruno Lopez na manipulação dos resultados de três partidas para beneficiar apostadores, incluindo a realização de pênaltis em partidas específicas.
Após a deflagração da Operação Penalidade Máxima e as investigações do Gaeco, foi constatada a atuação de uma organização criminosa especializada em corromper atletas profissionais para manipulação de resultados de diversos jogos de futebol, inclusive em Goiás. Conforme a denúncia, os membros da organização abordavam jogadores profissionais oferecendo altas quantias em dinheiro, cerca de R$ 150 mil por atleta “contratado”, com um adiantamento de R$ 10 mil. A oferta tinha o objetivo de persuadi-los a manipular resultados ou garantir a ocorrência de eventos durante os jogos, como pênaltis no primeiro tempo, cartões amarelos ou vermelhos em uma determinada etapa da partida, diferença de gols no primeiro tempo, entre outros, sempre em jogos selecionados previamente. A corrupção visava garantir lucros expressivos aos denunciados em apostas em sites de casas esportivas, como bet365.com e betano.com, com um grande número de contas criadas em nome de terceiros para maximizar os ganhos com os crimes.
O Gaeco identificou que a organização criminosa desarticulada era composta por diversos núcleos que trabalhavam em conjunto para viabilizar as atividades ilícitas. O primeiro núcleo identificado foi o dos Financiadores, que ainda está sob investigação, e é responsável por assegurar a existência de verbas para pagar os jogadores aliciados e realizar as apostas manipuladas. O segundo núcleo é o dos Apostadores, composto pelos réus Bruno Lopez, Ícaro dos Santos, Luís Felipe Castro, Victor Fernandes e Zildo Neto, que eram responsáveis por contatar e aliciar jogadores, realizar pagamentos indevidos e promover apostas nos sites esportivos. O terceiro núcleo identificado foi o dos Intermediadores, que facilitavam a aproximação entre apostadores e atletas aptos a promoverem a manipulação dos eventos esportivos. Por fim, havia o Núcleo Administrativo, liderado pela ré Camila Silva, que era responsável por realizar transferências financeiras a integrantes da organização criminosa e jogadores cooptados. Outros núcleos ainda estão sob investigação.
Assim, esclarece-se que os réus nesta ação estão sendo acusados apenas do crime de promover, constituir e integrar organização criminosa, que ocorreu a partir do segundo semestre de 2022 até o presente momento, com relação aos membros já identificados no Núcleo Apostadores e também no Núcleo Administrativo. A acusação também inclui a imputação específica dos crimes cometidos na manipulação de três jogos da Série B em 2022: Nova x Sport, Tombense x Criciúma e Sampaio Corrêa x Londrina. No entanto, é importante ressaltar que outros integrantes de outros núcleos e outros crimes de corrupção praticados no esporte ainda estão sendo investigados pelo Gaeco.
Conforme explicado pelos promotores, devido à complexidade das atividades criminosas, ao grande número de investigados, à natureza difusa das atividades do grupo e ao modo de operação utilizado nos crimes, bem como à grande quantidade de novos fatos criminosos descobertos que requerem investigação aprofundada, foi decidido instaurar um novo procedimento investigatório, com base em elementos informativos coletados no Procedimento Investigativo Criminal (PIC) que fundamentou esta primeira acusação.
Investigação analisou movimentações de conta de empresa
Conforme a denúncia, Bruno e Ícaro frequentemente discutiam sobre as atividades do grupo criminoso, incluindo os pagamentos aos jogadores, a manipulação de resultados e as cobranças a jogadores que não cumpriram o combinado, tudo por meio do aplicativo WhatsApp. Além disso, a investigação apontou a significativa participação de Camila Silva, esposa de Bruno Lopez, na empresa BC Sports Management, que é utilizada para movimentação financeira do esquema delitivo, incluindo pagamentos a jogadores cooptados e intermediadores, bem como para as apostas nos jogos manipulados. A denúncia foi assinada pelos promotores Tarsila Guimarães, Gabriella Clementino, Paulo Parizotto, Marcelo Borges do Amaral, Diego Osório Cordeiro, Fabrício Lamas, Fernando Cesconetto e Juan Borges de Abreu, do Gaeco. Vale destacar que outros núcleos e fatos criminosos ainda estão sendo investigados.