21 de novembro de 2024
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Colapso da saúde afeta goianienses e Ministério Público intervém na busca por soluções, em Goiânia

Pacientes enfrentam precariedade, dívidas acumuladas e falta de insumos; mães e famílias denunciam sofrimento e riscos enquanto aguardam atendimento.
Colapso na Saúde Pública em Goiânia leva ao desespero e Ministério Público intervém para garantir recursos. Fotos: (Sindsaúde)

Sonhos interrompidos, dívidas, falta de medicação e estrutura precária são os pilares da crise pela qual a saúde de Goiânia passa desde 2023. As reclamações são constantes por parte daqueles que visitam unidades em busca de atendimento para si ou familiares, mas a assistência é raramente encontrada.

Mesmo com uma arrecadação de R$ 60 milhões por mês, a Secretaria Municipal de Saúde está passando por um colapso sem precedentes, conforme informações do Ministério Público de Goiás. Do outro lado, o Secretário de Saúde de Goiânia, Wilson Pollara, revelou que contava com uma promessa de R$ 340 milhões de orçamento, mas que teria recebido ‘apenas’ R$ 40 milhões de verba.

Desde 2023 o Ministério Público investiga o colapso na saúde de Goiânia, uma situação que piorou e se deteriorou nos últimos cinco meses. Após longa apuração, chegou-se a conclusão de que diversas dívidas com fornecedores e prestadores de serviços não estão sendo pagas pelo dinheiro em caixa.

*Sonho interrompido*

Formar uma família é o sonho de muitas mulheres e assim imaginava a dona de casa Ashley Saraiva, que sofreu uma grande perda. Mãe de Yan, com cinco anos, ela se encontrou no meio de um pesadelo que não chegava ao fim. Ao receber a notícia de que sofreu um aborto, ela não conseguiu marcar a cirurgia para retirar o feto, devido à falta de profissionais na maternidade municipal Dona Iris.

“Cheguei com dores e sangramento. Recebia o medicamento e voltava para casa, quando estava com seis semanas, eu fiz o ultrassom, consegui ver o bebê, mas com sete semanas tive outro sangramento e me disseram que sofri um aborto”, revelou Ashley, que passou duas semanas com o feto morto dentro de si.

*Estrutura precária*

Gael, de quatro meses, nasceu com uma grave doença no coração. Juntamente com sua mãe, Stefany, viajaram do Pará até Goiânia em busca de um atendimento especializado. Porém, quando ela se deparou com a estrutura oferecida, o choque veio.

“A medicação que ele está tomando sou eu que estou comprando com o meu dinheiro, pois aqui no hospital não tem nenhuma medicação. Quem entrar lá vai ver, que as cadeiras e portas estão quebradas”, conta Stefany Safira de Jesus.

*Uma dívida sem precedentes*

O inquérito do Ministério Público está investigando a real situação das finanças da saúde municipal. A Secretaria de Saúde mantém um fundo que arrecada R$ 60 milhões por mês, mas mesmo com esses altos valores, todos os problemas citados seguem acontecendo com frequência cada vez maior.

A justiça acatou o pedido feito em uma ação civil pública, proposta pelo Ministério Público de Goiás e determinou que o repasse das verbas volte ao normal, mediante ao bloqueio nas contas da prefeitura.

“Há uma obrigatoriedade para que esse valor seja repassado à maternidade mês a mês, mas é bom pontuar que há ainda uma dívida enorme da secretaria municipal para com as maternidades. Essa dívida vem impactando negativamente na assistência à população”, destaca a promotora Marlene Nunes

Em uma nota oficial, a Secretaria Municipal de Saúde, informa que investiu quase R$ 896,3 milhões na saúde entre janeiro e agosto deste ano. Porém, a entidade admite que tem problemas em manter a atual estrutura, em especial as maternidades.

A classe médica contesta, e afirma que a gestão foi negligente. “Os dados que precisam ser enviados para o Ministério da Saúde para que novas viaturas possam ser enviadas para o Samu, por exemplo, não foram enviados. A atual gestão parou o envio dos dados e por conta disso novas ambulâncias não foram enviadas e o sistema ficou sucateado” conta a médica Ivana Sousa, Diretora Clínica do SAMU.

*A espera pode custar uma vida*

Quem amarga à espera de atendimento, sabe que cada minuto é precioso para salvar uma vida. “Tiraram o balão de oxigênio do meu bebê, e o medo agora é de que agora ele não resista a próxima crise cardíaca. Mas não vou sair daqui até que ele seja transferido” finaliza Stefany Safira de Jesus.