União Brasil determina base aliada a aprovar renovação de calamidade em Goiânia, apesar de impasse e silêncio do governo estadual
Líder da sigla, Lincoln Tejota, orienta voto favorável mesmo diante da ausência de consenso na Alego; projeto enfrenta resistência, silêncio estratégico do Palácio das Esmeraldas e críticas sobre suposta “politização” da medida.

O projeto de renovação do estado de calamidade pública da Prefeitura de Goiânia, protocolado pelo prefeito Sandro Mabel (UB), segue suspenso na Assembleia Legislativa de Goiás (Alego), mas ganhou novo impulso político após o líder do União Brasil, deputado Lincoln Tejota, orientar publicamente os parlamentares da base aliada ao governador Ronaldo Caiado (UB) a votarem favoravelmente à matéria, independentemente da data em que ela for pautada.
A fala de Tejota, feita no plenário da Casa nesta quarta-feira (25), ocorre em meio a um vácuo de decisão formal do Executivo estadual, que, por meio do líder do governo, Talles Barreto (UB), anunciou que os deputados aliados estarão “liberados” para votar como quiserem — um gesto que, embora diplomático, expõe o distanciamento do Palácio das Esmeraldas da crise política municipal.
Silêncio calculado e articulação partidária
A renovação do decreto de calamidade pública por mais seis meses foi solicitada pela Prefeitura no início de junho, sob a justificativa de déficit orçamentário agravado pela queda de arrecadação e dificuldades na execução de políticas públicas básicas. O primeiro decreto havia sido aprovado pela Alego em dezembro de 2024 com validade até 30 de junho.
Diferentemente daquela ocasião, a nova solicitação encontra resistência na Casa, especialmente por parte de opositores e independentes, que acusam o Paço Municipal de usar o estado de calamidade como instrumento político e contábil, especialmente para driblar regras da Lei de Responsabilidade Fiscal e realizar contratações e suplementações orçamentárias com menos rigor.
Com a base do governo estadual desarticulada em torno da matéria, o prefeito Sandro Mabel recorreu à força interna do União Brasil, que comanda a Prefeitura, a maioria da bancada na Alego e o governo estadual. A movimentação de Tejota visa alinhar a federação partidária (UB-PP) para garantir a aprovação do projeto, mesmo diante da neutralidade estratégica adotada por Caiado.
Um gesto público em meio ao impasse
A declaração de Lincoln Tejota foi feita após uma cobrança direta do deputado Clécio Alves (Republicanos), que pressionou o presidente da Casa, Bruno Peixoto (UB), a incluir o texto em pauta antes do recesso parlamentar de julho. O pedido foi negado. Peixoto alegou “falta de acordo político” para deliberar sobre o tema e informou que a matéria seguirá sobrestada.
Tejota, então, subiu o tom:
“Como líder do União Brasil e da federação nesta Casa, solicito aos colegas e às bancadas que dão sustentação ao governo que votem favoravelmente ao projeto de calamidade, no momento oportuno.”
O gesto de Tejota foi interpretado como uma tentativa de garantir coesão interna e preservar o capital político do partido diante de um cenário de desgaste crescente entre Mabel e parte da base na Alego. A posição também parece responder à ausência de posicionamento formal por parte do governador, que tem evitado se vincular diretamente às controvérsias administrativas do prefeito — seu correligionário.
Entre a técnica e a política
O impasse reacende o debate sobre o uso reiterado da calamidade fiscal como instrumento político. Técnicos do Tribunal de Contas do Município (TCM) já haviam alertado, em pareceres internos, que a manutenção do status de calamidade exige comprovação de anormalidade concreta e persistente, o que não foi cabalmente demonstrado pela Prefeitura.
Deputados da oposição e analistas políticos também veem na medida uma forma de ampliar a margem para manobras orçamentárias em um ano pré-eleitoral, no qual Mabel precisa apresentar resultados rápidos, especialmente em áreas como saúde, mobilidade urbana e limpeza pública — setores que enfrentam críticas recorrentes.
O que esperar após o recesso
Com a pauta sobrestada, a matéria só deve retornar à análise do plenário em agosto, na volta dos trabalhos legislativos. A orientação partidária de Tejota poderá ser determinante para formar maioria simples e aprovar a renovação, mesmo que o desgaste institucional com a sociedade e os órgãos de controle continue em aberto.
A decisão também será um termômetro da coesão interna do União Brasil em Goiás, especialmente diante das eleições municipais de 2026, nas quais o partido pretende manter o controle da capital goiana e ampliar sua influência em outras cidades estratégicas do Estado.
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