Revolução na Oncologia? Ozempic e Similares Podem Reduzir Risco de Câncer em 7%, Aponta Estudo Promissor
Pesquisa de Grande Escala, Apresentada no Maior Congresso de Oncologia do Mundo, Sugere Que Medicamentos Para Diabetes e Obesidade Oferecem Proteção Contra 14 Tipos de Câncer Relacionados à Obesidade.

Uma descoberta que pode redefinir estratégias de prevenção do câncer está prestes a ser apresentada no palco da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (Asco), o maior congresso de oncologia do mundo, neste domingo (2). Um amplo estudo (ABSTRACT #: 10507) revela que medicamentos amplamente conhecidos como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, da classe dos agonistas de GLP-1, podem reduzir em 7% o risco de desenvolver 14 tipos de câncer relacionados à obesidade.
A pesquisa, liderada por Lucas A. Mavromatis, da renomada Escola Grossman de Medicina da Universidade de Nova York, analisou um vasto banco de dados de 170.030 pacientes com diabetes e obesidade em 43 sistemas de saúde nos Estados Unidos, cobrindo o período de 2013 a 2023. Os participantes, com idade média de 56,8 anos e um Índice de Massa Corporal (IMC) de 38 kg/m², foram o foco desta análise observacional.
“Embora a obesidade seja agora reconhecida como uma causa cada vez mais importante de câncer, nenhum medicamento comprovadamente reduz o risco de câncer associado à obesidade”, afirma Mavromatis. “Nossos resultados sugerem que eles podem reduzir modestamente a chance de desenvolver determinados tipos de câncer, especialmente os de cólon e reto, e reduzir as taxas de morte por todas as causas”.
Resultados Animadores, Mas com Cautela Científica
Durante um período de acompanhamento de aproximadamente quatro anos, metade dos pacientes recebeu tratamento com agonistas de GLP-1, enquanto a outra metade foi tratada com inibidores de DPP-4, medicamentos para diabetes que não promovem perda de peso. Os dados são promissores: o grupo que utilizou os medicamentos da classe do Ozempic não só apresentou 7% menos risco de desenvolver cânceres associados à obesidade, mas também uma redução de 8% na chance de morrer por qualquer causa. Em termos práticos, isso representou 170 casos a menos de câncer no grupo que utilizou os agonistas de GLP-1.
A proteção se mostrou particularmente significativa para tumores colorretais, com uma notável redução de 16% para câncer de intestino e 28% para câncer retal. Analisando por gênero, os benefícios foram mais pronunciados em mulheres, que apresentaram 8% menos risco de câncer e 20% menos chance de morte.
O oncologista Mauro Donadio, da Oncoclínicas, avalia os achados com otimismo, mas pondera sobre a natureza do estudo. “É um resultado bastante interessante e que merece atenção da comunidade médica. Já sabemos há muito tempo da associação entre obesidade e o risco aumentado de diversos tipos de câncer, por isso qualquer intervenção que possa contribuir para a redução desse risco é bem-vinda. No entanto, é fundamental destacar que se trata de um estudo observacional, e não de um ensaio clínico controlado. Ou seja, os dados levantam uma hipótese relevante — a de que a medicação pode reduzir o risco de desenvolvimento de tumores —, mas essa relação ainda precisa ser confirmada por estudos futuros”, esclarece Donadio.
Limitações e Próximos Passos da Pesquisa
A natureza observacional do estudo significa que ele pode identificar associações, mas não estabelecer uma relação direta de causa e efeito. “Esses dados são tranquilizadores, mas são necessários mais estudos para comprovar a causalidade”, reconhece o próprio Lucas Mavromatis.
Robin Zon, presidente da Asco, reforça a relevância do tema. “Atendo muitos pacientes com obesidade e, dada a clara ligação entre câncer e obesidade, é importante definir o papel clínico dos medicamentos GLP-1 na prevenção do câncer. Embora esse estudo não estabeleça a causa, ele sugere que esses medicamentos podem ter um efeito preventivo”.
Os pesquisadores já planejam dar continuidade ao trabalho, acompanhando os pacientes por períodos mais longos e realizando novos estudos em pessoas sem diabetes que utilizam esses medicamentos para entender melhor o mecanismo de ação e a abrangência da proteção.
Cânceres Associados à Obesidade Avaliados no Estudo:
- Adenocarcinoma do esôfago
- Mama (em mulheres pós-menopáusicas)
- Intestino
- Reto
- Útero
- Vesícula biliar
- Parte superior do estômago
- Rins
- Fígado
- Ovários
- Pâncreas
- Tireoide
- Meningioma (tipo de câncer cerebral)
- Mieloma múltiplo
Uma Tendência Crescente na Pesquisa Científica
Este estudo não é um caso isolado. Em julho do ano passado, uma pesquisa publicada na renomada revista JAMA Network Open, com 1,6 milhão de pacientes diabéticos, já havia apontado uma redução em pelo menos 10 tipos de câncer ligados à obesidade com o uso de agonistas de GLP-1.
Mais recentemente, outro estudo apresentado no Congresso Europeu de Obesidade, em Málaga, encontrou resultados similares aos observados em pacientes submetidos à cirurgia bariátrica, sugerindo que os mecanismos de proteção desses medicamentos podem ir além da simples perda de peso.
“O interesse científico nesta área está crescendo rapidamente”, observa o oncologista Mauro Donadio. “Os agonistas de GLP-1 podem ter efeitos anti-inflamatórios e de modulação do metabolismo que vão além do controle glicêmico e da perda de peso. Mas ainda precisamos de mais evidências antes de considerarmos seu uso específico para prevenção de câncer”.
A apresentação completa dos resultados que prometem agitar a comunidade científica e médica está marcada para às 13h40 (horário local) deste domingo (02/06), durante a sessão de Prevenção de Câncer da Asco 2025.
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