9 de julho de 2025
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Produtor rural baleado por ex-parceiro morre após 14 dias internado: caso choca Israelândia e família clama por justiça

Alexandre Matias Casagrande, de 54 anos, foi atingido por disparo de rifle após discussão com antigo amigo. Suspeito do crime está preso preventivamente. Filha se despede com homenagem comovente e denúncia de um luto irreparável.
Alexandre Casagrande foi baleado, em Israelândia, Goiás — Foto: Arquivo pessoal/Giovanna Casagrande

O produtor rural Alexandre Matias Casagrande, de 54 anos, morreu na manhã do último sábado (21), após passar 14 dias internado em estado grave devido a um disparo de rifle que o atingiu durante uma discussão na zona rural de Israelândia, a cerca de 170 km de Goiânia. O autor do disparo é um antigo amigo e ex-parceiro de trabalho da vítima, segundo investigação conduzida pelo delegado Ramon Queiroz.

O crime aconteceu em 7 de junho, em uma propriedade agrícola da região oeste de Goiás. Alexandre foi socorrido com vida e levado ao hospital, mas não resistiu aos ferimentos. A filha da vítima, Giovana Casagrande, comunicou o falecimento pelas redes sociais e prestou uma homenagem emocionada: “Hoje me sobra uma cadeira vazia, uma saudade intensa e um buraco que nunca será preenchido”, escreveu ela.


Conflito entre antigos aliados: amizade rompida à bala

De acordo com a Polícia Civil, Alexandre e o suspeito, cujo nome ainda não foi oficialmente divulgado, mantinham uma relação de longa data, marcada por parcerias no setor agropecuário local. Testemunhas relataram que a discussão teve início por desentendimentos acumulados e culminou em agressões verbais de ambos os lados.

Em depoimento, o autor do disparo alegou ter sido “humilhado e xingado” por Alexandre antes de deixar o local da discussão, buscar um rifle em seu veículo e voltar para efetuar o disparo fatal. A arma utilizada no crime é de uso permitido para caça e defesa de propriedade rural, mas a forma como foi utilizada caracterizou, para a autoridade policial, um crime premeditado e violento.

“O autor saiu da cena, foi até o carro, pegou uma arma longa e disparou à curta distância contra a vítima. Estamos tratando de um homicídio qualificado, com indícios de que a ação foi deliberada e motivada por fúria desproporcional”, afirmou o delegado Ramon Queiroz à imprensa local.


Prisão preventiva após investigação

O suspeito se apresentou à delegacia apenas dez dias após o crime, em 17 de junho, prestando depoimento sem estar em flagrante. Segundo a Polícia Civil, como não havia mandado de prisão à época, ele foi liberado naquele momento.

Contudo, após a conclusão da primeira fase do inquérito e a gravidade da lesão confirmada pelo hospital, o delegado solicitou e obteve na sexta-feira (20) a prisão preventiva do investigado, que foi detido no mesmo dia. A tipificação do crime, conforme o Código Penal Brasileiro, é de homicídio qualificado, o que pode levar a uma pena entre 12 e 30 anos de reclusão.


Velório e comoção: corpo será enterrado em Marília (SP)

Após sua morte, o corpo de Alexandre foi levado para Marília, interior de São Paulo, cidade natal da família, onde o velório ocorreu neste domingo (22) e o sepultamento está marcado para segunda-feira (23). Nas redes sociais, amigos e parentes lamentaram a perda precoce e cobraram providências por parte da Justiça goiana.

Giovana Casagrande, filha do produtor, publicou mensagens comoventes lembrando os momentos que o pai não poderá viver. “Arrancado antes de entrar comigo na igreja, de segurar os seus netos, de criar meu irmão mais novo até que ele pudesse ter tanto orgulho do pai quanto eu tenho hoje”, escreveu ela, encerrando com um tributo: “O senhor era meu pai, meu herói, minha referência de força. Eu te amo mais do que palavras podem expressar. Descanse em paz, Papi Papito”.


Cresce a preocupação com violência em áreas rurais

O caso de Alexandre Casagrande lança luz sobre uma crescente tensão em zonas rurais do interior do Brasil, onde conflitos interpessoais, disputas de terras e desentendimentos comerciais muitas vezes extrapolam os limites do razoável, com desfechos trágicos.

Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2023, os casos de homicídios em áreas rurais tiveram aumento de 9% em relação ao ano anterior. Em muitas dessas ocorrências, como no caso de Alexandre, os envolvidos são conhecidos entre si, o que torna o ambiente ainda mais tenso e suscetível a atos impulsivos.

Especialistas defendem maior investimento em mediação de conflitos, apoio psicológico para produtores rurais e campanhas de desarmamento em áreas fora de contexto de legítima defesa. “As armas são instrumentos de trabalho e proteção em muitos rincões do país, mas precisam ser tratadas com a responsabilidade que exigem. O descontrole emocional e o fácil acesso a armamento resultam, cada vez mais, em tragédias anunciadas”, afirma a antropóloga e pesquisadora em violência rural, Maria Elisa Paredes, da Universidade Federal de Goiás (UFG).


A morte de Alexandre Matias Casagrande, além da dor familiar, reforça um alerta antigo: a convivência no campo não está imune à violência e aos extremos emocionais. O caso em Israelândia é emblemático de como laços de confiança podem se romper de maneira abrupta — e como a ausência de mecanismos eficazes de prevenção e mediação pode custar vidas.

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