Perícias do Sesi reduzem em 42% afastamentos de servidores em Goiânia e expõem suspeitas de irregularidades
Levantamento revela que média de dias concedidos por licença médica caiu drasticamente; mais de 8 mil processos ainda aguardam análise e prefeitura admite “fortes indícios” de abusos

A mudança no modelo de avaliação das licenças médicas de servidores municipais de Goiânia gerou impacto imediato e substancial: os dias de afastamento por atestados médicos caíram 42% desde que as perícias passaram a ser realizadas pelo Serviço Social da Indústria (Sesi), no início de abril.
Os dados foram levantados pelo jornal O Popular com base em informações oficiais da Secretaria Municipal de Administração (Semad).
Entre 1º e 17 de abril, o Sesi realizou 255 perícias médicas. Desse total, foram concedidos 5 mil dias de afastamento — número bem inferior aos 8.600 dias que haviam sido solicitados pelos servidores. Em termos práticos, para cada perícia, havia uma média de 30 dias pleiteados, mas apenas 17 dias foram efetivamente autorizados.
Além disso, o cenário evidencia um acúmulo de demandas: a prefeitura reconheceu a existência de mais de 8 mil processos de licença médica pendentes de análise, o que vinha pressionando a máquina pública e, segundo o prefeito Sandro Mabel, comprometendo a eficiência administrativa.
“Há fortes indícios de irregularidades”, disse Mabel, sem entrar em detalhes sobre eventuais procedimentos disciplinares ou investigações administrativas.
Contrato sem licitação e custo milionário
O serviço de perícia médica terceirizado foi contratado pela prefeitura sem licitação, com custo estimado em R$ 9 milhões para um período de um ano. A justificativa da gestão municipal para a dispensa de licitação foi a urgência administrativa diante do represamento de processos médicos.
Fontes internas da prefeitura, que pediram anonimato, afirmaram, que o novo modelo tem encontrado resistência em algumas categorias do funcionalismo, sobretudo na área da saúde e da educação, setores onde historicamente há maior número de afastamentos.
Impacto sobre os cofres públicos
Especialistas em gestão pública avaliam que a redução do número de dias afastados pode representar uma economia significativa para os cofres do município. Segundo o consultor em administração pública André Carvalhal, o excesso de licenças impacta diretamente na necessidade de contratações temporárias e no aumento de horas extras para suprir as ausências.
“Se há concessão desmedida de afastamentos, isso gera um custo oculto muito elevado, além de prejudicar o atendimento ao cidadão”.
A prefeitura ainda não divulgou projeções oficiais sobre quanto poderá economizar ao longo dos próximos meses com a nova sistemática.
Transparência e questionamentos
Apesar dos resultados positivos anunciados, o contrato emergencial com o Sesi e as suspeitas de fraudes levantaram questionamentos sobre a transparência do processo.
O Ministério Público de Goiás (MP-GO) informou que, até o momento, não há procedimento investigativo aberto relacionado ao contrato, mas acompanha o tema “com atenção”.
Organizações sindicais que representam os servidores públicos já manifestaram preocupação sobre eventuais arbitrariedades nas perícias e cobram mais diálogo e garantia de contraditório para os trabalhadores.
Enquanto isso, a prefeitura garante que, caso sejam confirmados indícios de fraude, os responsáveis serão submetidos a processos administrativos e possíveis sanções.
Tags: #Goiânia #ServidoresPúblicos #PeríciasMédicas #Sesi #AdministraçãoPública #SandroMabel #SaúdeOcupacional