Motorista suspeito de causar acidente fatal que tirou vida de estudante de medicina é solto; Justiça impõe medidas restritivas
STJ revoga prisão preventiva de Felip Soares Silva, alegando que ele não pode mais interferir no processo investigativo. Família da vítima, Júlia Ferreira Demétrio, clama por justiça.
O Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou a revogação da prisão de Felip Soares Silva, suspeito de causar o acidente que resultou na morte da estudante Júlia Ferreira Demétrio, de 19 anos. A decisão, proferida pelo ministro Reinaldo Soares da Fonseca, considerou que, com o término da fase investigativa, não havia mais necessidade de mantê-lo detido. No entanto, foram impostas medidas cautelares, como a suspensão da Carteira Nacional de Habilitação (CNH) por 12 meses e restrições de circulação noturna.
O acidente ocorreu no dia 16 de março de 2024, na Avenida Espírito Santo, no loteamento Paquetá, em Catalão, Goiás. Júlia, que havia acabado de ser aprovada no curso de medicina, estava voltando de uma festa no carro conduzido por Felip quando o veículo capotou após uma tentativa arriscada de ultrapassagem.
As circunstâncias do acidente
De acordo com as investigações, Felip Soares, que havia ingerido álcool em uma festa momentos antes, ofereceu carona a Júlia e mais duas pessoas. Câmeras de segurança registraram o momento em que o carro, trafegando a mais de 80 km/h em uma via com limite de 60 km/h, capotou após uma manobra brusca.
Testemunhas, incluindo amigos do motorista e sobreviventes do acidente, afirmaram que Felip estava embriagado e participava de uma “brincadeira de ultrapassagens” com outro veículo. Segundo Beatriz Demétrio, irmã da vítima, o motorista foi fechado por outro carro, perdeu o controle e capotou.
“O motorista estava bêbado e brincando de ultrapassagens no trânsito antes do acidente. Não foi a primeira vez que ele cometeu uma irresponsabilidade dessas. Minha irmã pagou com a vida pela imprudência dele”, lamentou Beatriz.
Fuga e adulteração da cena
Após o acidente, Felip fugiu do local com a ajuda de amigos, que, segundo testemunhas, chegaram a desvirar o carro, alterando a cena do acidente. O suspeito só se apresentou à delegacia dias depois, quando já não havia possibilidade de realização do teste do bafômetro ou coleta de sangue para comprovar a embriaguez.
O laudo pericial confirmou que o veículo estava acima da velocidade permitida e que a dinâmica do acidente foi diretamente influenciada por uma tentativa de ultrapassagem em zigue-zague. (Vídeo abaixo)
Decisão do STJ
Preso preventivamente desde 18 de março, Felip foi solto no dia 24 de janeiro de 2025, após a decisão do STJ. O ministro Reinaldo Soares da Fonseca destacou que, com o término das investigações, não havia mais risco de interferência por parte do suspeito.
A defesa do motorista, representada pelo advogado David Soares, afirmou que a decisão é compatível com a Constituição e que já entrou com recurso para que a tipificação do crime seja alterada de dolosa (quando há intenção ou aceitação do risco de matar) para culposa (quando não há intenção), o que pode afastar um julgamento pelo Tribunal do Júri.
“Devemos respeitar a presunção de inocência e aplicar as restrições de liberdade de maneira proporcional”, declarou o advogado.
Clamor por justiça
A família de Júlia Ferreira Demétrio, inconformada com a decisão, teme que a impunidade prevaleça. Segundo Beatriz, a irmã tinha um futuro brilhante pela frente e sua vida foi ceifada por uma sequência de escolhas irresponsáveis.
“Nós perdemos uma filha, uma irmã, uma menina cheia de sonhos. Não queremos vingança, queremos justiça. Ele deve ser responsabilizado pelo que fez”, afirmou.
Impacto na comunidade
O caso gerou comoção em Catalão e levantou debates sobre a gravidade de crimes de trânsito no Brasil. O aumento de acidentes fatais relacionados ao consumo de álcool e direção imprudente reacendeu discussões sobre penas mais severas e fiscalização mais rígida.
Enquanto o processo segue na Justiça, a família de Júlia reforça a necessidade de responsabilização para evitar que outras famílias passem pela mesma dor.
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