Mosquitos com bactéria Wolbachia chegam a Goiás para revolucionar combate à dengue, zika e chikungunya
Mosquitos com bactéria Wolbachia chegam a Goiás para revolucionar combate à dengue, zika e chikungunya

A partir de agosto, duas cidades goianas localizadas no Entorno do Distrito Federal — Valparaíso e Luziânia — passam a integrar oficialmente o grupo de municípios brasileiros que adotam o Método Wolbachia, uma das estratégias mais promissoras e sustentáveis no enfrentamento das arboviroses urbanas: dengue, zika e chikungunya. A iniciativa, coordenada pelo Ministério da Saúde (MS) e chancelada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), prevê a liberação controlada de mosquitos Aedes aegypti infectados com a bactéria Wolbachia, que bloqueia a transmissão dos vírus causadores dessas doenças.
O método, já implementado em cidades como Niterói (RJ), Rio de Janeiro, Campo Grande e Belo Horizonte, demonstrou redução de até 70% nos casos de dengue. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se de uma solução inovadora, natural e segura, já utilizada com sucesso em 14 países e que agora avança para novas frentes com base em critérios epidemiológicos, estruturais e geográficos.
Como funciona a Wolbachia
A bactéria Wolbachia pipientis é encontrada naturalmente em cerca de 60% dos insetos do planeta, como borboletas, abelhas e pernilongos, mas não está presente no Aedes aegypti. A estratégia brasileira consiste em introduzir a Wolbachia nos ovos do mosquito, o que impede que o vírus da dengue e outras arboviroses se desenvolvam em seu organismo.
“Essa bactéria é natural, não transgênica e não representa nenhum risco à saúde humana ou ao meio ambiente. Ela atua como uma barreira biológica dentro do mosquito”, explica Luciano Moreira, entomologista e CEO da Wolbito do Brasil, empresa responsável pela produção dos chamados Wolbitos — como são apelidados os Aedes aegypti com Wolbachia.
Por que Valparaíso e Luziânia?
A escolha de Valparaíso e Luziânia não foi aleatória. Segundo Flúvia Amorim, subsecretária de Vigilância em Saúde da Secretaria de Estado da Saúde (SES/GO), os critérios envolvem alta incidência de casos, registro de óbitos e, sobretudo, a proximidade logística com o entreposto de distribuição de mosquitos instalado em Brasília. A biofábrica principal fica em Curitiba (PR) e é considerada a maior do mundo.
“Temos urgência em frear a propagação da dengue. Só em 2025, Goiás já confirmou mais de 72 mil casos, com 53 mortes registradas e 79 em investigação. A chegada da Wolbachia representa uma nova fase no enfrentamento das arboviroses no estado”, afirma Flúvia.
Etapas do projeto e impacto previsto
O método será aplicado em seis etapas, que incluem desde o planejamento técnico e criação dos mosquitos até ações de engajamento comunitário, liberação semanal dos Wolbitos e análises epidemiológicas.
Segundo o biólogo Gabriel Sylvestre, gerente de Implementação da Wolbito do Brasil, as liberações duram cerca de seis meses e ocorrem exclusivamente no período seco do ano — momento ideal para garantir a adaptação da Wolbachia ao meio ambiente local.
“A média global de impacto é observada após dois anos. Entretanto, em algumas localidades já notamos quedas significativas nos índices com apenas um ano de soltura”, afirma Sylvestre.
Aceitação e vigilância comunitária
Antes do início das liberações, a Wolbito realiza ações educativas em escolas, unidades de saúde e comunidades locais. Líderes comunitários, profissionais da educação e da saúde recebem capacitação para esclarecer dúvidas e evitar desinformação.
“É fundamental que a população compreenda a ciência por trás do projeto. O envolvimento social é determinante para o sucesso da iniciativa”, diz Flúvia Amorim.
A subsecretária pondera que a expansão para outros municípios goianos dependerá dos resultados obtidos, bem como da capacidade logística da biofábrica. “Já estudamos a possibilidade de instalação de uma unidade produtora em Goiás, mas isso exige estrutura robusta de agentes de endemias, frota e vigilância contínua”, complementa.
Resultados já comprovados
Segundo dados da Fiocruz, em Niterói, onde o projeto começou em 2015, as notificações de dengue caíram 70%, de chikungunya 60%, e de zika 40%, resultados confirmados em estudos independentes. Com base nesse sucesso, o Ministério da Saúde adotou o Método Wolbachia como política pública nacional de combate às arboviroses.
Para o secretário-adjunto de Vigilância em Saúde e Ambiente do MS, Rivaldo Cunha, “a Wolbachia representa um divisor de águas no controle de doenças transmitidas por mosquitos no Brasil, com potencial para alcançar mais de 70 milhões de brasileiros nos próximos cinco anos”.
O que esperar em Goiás
A liberação dos mosquitos em Luziânia e Valparaíso ocorrerá ao longo do segundo semestre de 2025. Os primeiros impactos, segundo as autoridades, devem ser observados já na próxima sazonalidade, entre o verão de 2025 e o início de 2026.
Enquanto isso, o Estado de Goiás segue monitorando indicadores e reforçando estratégias tradicionais de controle, como eliminação de criadouros, campanhas educativas e uso de agentes comunitários.
“A Wolbachia não substitui a prevenção. Ela complementa. E é esse reforço biológico que pode, enfim, mudar o rumo da luta contra essas doenças que tanto afetam nossa população”, conclui Flúvia Amorim.
Fontes consultadas:
- Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz)
- Ministério da Saúde (MS)
- Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES/GO)
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