30 de abril de 2025
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Máfia das Apostas: Esquema de Manipulação de Jogos Alcança Futebol Internacional

Operação Jogada Marcada revela atuação de grupo brasileiro em partidas da segunda divisão equatoriana, ampliando investigações sobre manipulação de resultados no futebol.
Print com o nome de um dos grupos usados pelos investigados suspeitos de manipulação de jogos. Mandados foram cumpridos em seis estados (Divulgação/Polícia Civil)

Na noite de 2 de agosto de 2023, o estádio do modesto Vargas Torres, no Equador, foi palco de uma partida que, à primeira vista, não diria nada ao torcedor comum. Em campo, o time da casa enfrentava o Club Deportivo em um jogo da segunda divisão nacional. A derrota era certa — e planejada. O combinado, nos bastidores, era perder por 3 a 0. Mas algo saiu do script.

O placar final marcou 2 a 0. Um gol a menos do que o necessário para validar uma aposta fraudulenta que movimentava centenas de milhares de reais no Brasil. Do outro lado da tela, em solo brasileiro, integrantes de uma organização criminosa cobravam — com raiva e em espanhol — explicações dos jogadores sul-americanos. Vídeos e áudios agora revelados pela TV Globo/Fantástico mostram empresários brasileiros, frustrados, pressionando os atletas como se fossem credores de um negócio ilícito que deu errado.

“Fala pra ele que eu quero esse dinheiro… cento e poucos mil”, exige um dos criminosos. “Aqui tem dois homens que perderam muito dinheiro e saúde também”, diz outro.

Esses homens são Fábio Francisco de Oliveira e Leonardo Lobo Araújo, presos no último dia 9 pela Polícia Civil de Goiás na Operação Jogada Marcada, que investiga a manipulação de resultados no futebol por meio de apostas esportivas ilegais.


O fio da meada: como Goiás se conectou a uma máfia internacional

O esquema só começou a ruir quando os criminosos tentaram expandir suas “operações” e encontraram resistência. No caminho deles estava o presidente do Goianésia Esporte Clube, Marco Antônio Maia, que também é delegado da Polícia Civil. A proposta: R$ 500 mil em comissões para fraudar jogos. A resposta: uma denúncia formal à corporação.

“Achava que se tratava de patrocínio. Comecei a conversar, mas logo percebi que não era nada legalizado”, contou Maia ao Fantástico. A partir dali, a PC-GO começou a monitorar conversas, transações e encontros. O que era uma tentativa de corromper um clube pequeno no interior de Goiás revelou um esquema com ramificações internacionais, com foco em times pouco visados da segunda divisão equatoriana.

O delegado Eduardo Gomes, que comanda as investigações, explica que os brasileiros aliciavam jogadores, dirigentes e empresários, oferecendo dinheiro para forjar pênaltis, forçar cartões ou perder jogos por placares exatos. Com isso, lucravam em apostas online realizadas em sites internacionais.

“Os investigados brasileiros já estavam em contato direto com os jogadores equatorianos. Eles exigiam o placar acordado. O problema é que o resultado foi frustrado, e eles queriam o dinheiro de volta”, detalha Gomes.


A máfia que caiu na mesa errada

A escolha de clubes pequenos — tanto no Equador quanto no Brasil — não era à toa. “São clubes frágeis financeiramente, mal geridos, que poderiam aceitar propostas em nome da sobrevivência”, diz o delegado. Mas eles erraram na leitura de cenário. No Goianésia, estavam lidando com um policial. No Vila Nova, outro caso semelhante envolveu Hugo Jorge Bravo, também presidente do clube e major da PM-GO, responsável por deflagrar a Operação Penalidade Máxima, que sacudiu o futebol nacional em 2023.

“Deram azar. Em Goiás, tinham eu no Goianésia e o Hugo no Vila”, afirma Marco Antônio Maia. “Isso é uma máfia. E não é só no Brasil. É no mundo inteiro.”


Apenas o começo

As duas operações — Penalidade Máxima e Jogada Marcada — expuseram o que especialistas já apontavam: o submundo das apostas esportivas se infiltrou no futebol. “Estamos falando de crime organizado, de uma estrutura transnacional”, reforça Gomes.

Para Marco Antônio Maia, o que foi revelado até agora é apenas “a pontinha do iceberg”.

“Muitos dirigentes não denunciam por medo, por não saber como agir ou até por conivência. Mas é hora de mostrar que o futebol não é terra sem lei. Vamos ter fase 1, 2, 3… até moralizar isso.”


O que diz a defesa

A defesa de Fábio Francisco de Oliveira, feita pelo advogado Caio Freitas, alegou que ele foi preso logo após uma cirurgia e que não houve audiência de custódia. Segundo a nota, ele foi solto por volta da meia-noite de domingo (13), após dois habeas corpus. A defesa afirma que ainda não teve acesso aos autos completos e que todas as manifestações serão feitas apenas perante a Justiça.

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