Investigação revela repasses milionários e celeridade em convênios com associação em Goiânia
União Mais Saúde recebeu quase R$ 30 milhões em 2024, incluindo contratos assinados e pagos em tempo recorde, alvo de operação da Polícia Civil e TCM-GO

Uma série de contratos milionários entre a Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) e a associação União Mais Saúde colocou a entidade no centro de uma operação da Polícia Civil, deflagrada na última terça-feira (17) e batizada de Speedy Cash. A investigação aponta supostas irregularidades nos convênios firmados, com destaque para a celeridade incomum na execução dos pagamentos e falta de justificativas detalhadas para os serviços contratados.
De acordo com apurações, a União Mais Saúde recebeu cerca de R$ 29,97 milhões da SMS apenas em 2024, um aumento 150 vezes superior ao montante de R$ 200 mil registrado no ano anterior. O foco principal da investigação é um convênio de R$ 10 milhões, assinado no dia 15 de agosto, com pagamentos efetuados apenas uma semana depois, entre os dias 19 e 22 de agosto.
Convênio de R$ 10 milhões: falhas e rapidez chamaram atenção
O contrato previa a realização de palestras, cursos de capacitação para atendimento a pessoas com deficiência e atendimentos de saúde em unidades móveis. Entretanto, o plano de trabalho, apresentado em 19 de julho, não especificava como os serviços seriam executados. Mesmo assim, em menos de um mês, o contrato foi assinado sob a gestão do secretário executivo Quesede Ayres Henrique, que respondia pela SMS devido ao afastamento temporário de Wilson Pollara por determinação do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás (TCM-GO).
Com a retomada de Wilson Pollara ao cargo, os pagamentos foram agilizados. Segundo o Ministério Público de Contas (MPC), a rapidez no repasse chamou atenção, especialmente porque:
- A assinatura ocorreu em período eleitoral, às vésperas do fim da atual gestão;
- Não houve chamamento público, o que impediu a participação de outras entidades interessadas;
- R$ 2 milhões foram destinados a despesas administrativas e R$ 1 milhão a assessoria jurídica, valores considerados incompatíveis para uma associação sem fins lucrativos.
Outro ponto crítico é que a demanda pelos serviços partiu da própria associação para a SMS, em vez de ser uma solicitação da pasta. O plano foi entregue em uma sexta-feira, analisado e aprovado já na segunda-feira seguinte, num processo que o MPC classificou como “anormalmente rápido”.
Mais contratos e repasses milionários
Além do convênio de R$ 10 milhões, a União Mais Saúde celebrou outros contratos com a SMS em 2024:
- R$ 14 milhões, pagos no dia 9 de agosto, referentes a termos de fomento assinados apenas uma semana antes, em 2 de agosto;
- R$ 5,7 milhões em emendas impositivas de oito vereadores, firmados em 9 de abril e pagos em menos de 10 dias, entre os dias 10 e 18 de abril;
- Três contratos menores somando R$ 330 mil, assinados em datas não especificadas.
Intervenção do TCM-GO e pedido de devolução
Diante das inconsistências, o TCM-GO suspendeu o convênio de R$ 10 milhões em setembro, acatando um pedido do MPC, e determinou a restituição integral dos valores repassados. A SMS enviou dois ofícios à União Mais Saúde solicitando a devolução, mas a entidade pediu dilação de prazo de 45 dias. Em novembro, o tribunal determinou a indisponibilidade cautelar dos bens da associação, visando garantir o ressarcimento.
Operação Speedy Cash: prisões e buscas
A operação Speedy Cash, coordenada pela Polícia Civil, cumpriu mandados de prisão e busca e apreensão em Goiânia. Entre os detidos estão:
- Wilson Pollara, ex-secretário da SMS;
- Quesede Ayres Henrique, secretário executivo da pasta;
- Marcus Vinícius Brasil Lourenço, presidente da União Mais Saúde;
- Wander de Almeida Lourenço Filho, procurador da associação;
- Veriddany Abrantes de Pina, sócia-administradora da empresa Mult Hosp Soluções Hospitalares.
Além das prisões, foram cumpridos 17 mandados de busca e apreensão em diferentes endereços, na tentativa de reunir provas das supostas irregularidades.
Impacto e próximos passos
A investigação levanta questionamentos sobre a transparência e o controle dos recursos públicos em convênios celebrados com organizações privadas. O MPC segue monitorando os repasses, enquanto a Polícia Civil busca identificar outros possíveis envolvidos e irregularidades em contratos semelhantes.
A população de Goiânia aguarda respostas sobre a utilização dos recursos, principalmente diante das deficiências nos serviços de saúde do município. O caso também reacende debates sobre fiscalização rigorosa de contratos públicos e práticas éticas na administração municipal.
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