Goiás avança na unificação de dados de acidentes com criação do SIGO
Parceria entre Detran-GO e UFG busca eliminar divergências estatísticas, qualificar informações e fortalecer políticas públicas de segurança viária por meio de um sistema integrado e interoperável.
O Governo de Goiás iniciou um dos projetos mais estratégicos para a gestão da segurança viária no Estado: a implantação do Sistema Integrado de Ocorrências de Trânsito de Goiás (SIGO). A iniciativa, desenvolvida pelo Detran-GO em parceria com a Universidade Federal de Goiás (UFG), pretende consolidar em uma única plataforma todas as informações relacionadas a acidentes, hoje fragmentadas entre instituições de saúde, segurança, mobilidade e atendimento pré-hospitalar.
Com a participação de representantes de mais de 15 órgãos estaduais e federais, o encontro de pactuação, realizado na sede do Detran-GO, marcou o início da construção de um modelo interoperável que busca redefinir a forma como Goiás registra, analisa e utiliza seus dados de trânsito.
Diagnóstico preciso para políticas públicas mais eficazes
O presidente do Detran-GO, Waldir Soares, destacou que a falta de padronização nos bancos de dados tem comprometido tanto o planejamento público quanto a confiabilidade das informações divulgadas. Segundo ele, estatísticas contraditórias e levantamentos imprecisos têm dificultado decisões estratégicas, além de gerar desinformação.
Waldir citou episódios em que relatórios nacionais apontaram Goiás como líder em determinados tipos de acidentes, dados posteriormente identificados como inconsistentes. Para ele, a ausência de integração entre bases oficiais abre brecha para interpretações equivocadas e dificulta o controle de indicadores reais de violência no trânsito.
“É impossível formular políticas públicas de proteção à vida com números desconectados. A imprensa questiona, a sociedade cobra e, muitas vezes, os órgãos não respondem com a precisão necessária porque não existe um fluxo único de dados. O SIGO vai corrigir isso”, afirmou.
O papel da UFG na construção do sistema
Coordenadora do projeto, a pesquisadora Poliana Leite, da UFG, explicou que o desafio inicial é estruturar o ecossistema de produção e circulação de dados, que hoje funciona de maneira heterogênea e, em alguns casos, informal.
Ela destacou que muitos registros são incompletos, especialmente aqueles produzidos no momento da ocorrência, o que compromete a leitura da gravidade, do contexto e dos fatores de risco. Sub-registros também dificultam a análise de padrões, como concentração de acidentes por horário, tipo de via ou perfil das vítimas.
“Sem dados confiáveis, não há como enfrentar o problema das mortes no trânsito. O SIGO nasce para corrigir falhas de origem, padronizar formulários, qualificar equipes e criar um caminho contínuo para que cada ocorrência seja registrada de forma completa, desde o atendimento inicial até os desdobramentos hospitalares”, explicou.
Estrutura, duração e participação dos órgãos
O trabalho será desenvolvido ao longo de 18 meses, período dedicado ao mapeamento do percurso dos dados, à padronização de informações e à criação da plataforma unificada. O projeto inclui o uso de ferramentas de inteligência artificial para revisão e qualificação automática dos registros.
Cada órgão participante deverá indicar representantes técnicos responsáveis por alinhar suas bases internas ao sistema unificado. Instituições que ainda não possuem bancos formalizados receberão apoio para estruturar seus fluxos de informação.
O encontro contou com a participação de equipes da Secretaria de Segurança Pública, Secretaria de Saúde, Samu, Corpo de Bombeiros, Polícia Militar, Batalhão de Trânsito, Batalhão Rodoviário, Polícia Civil, Polícia Rodoviária Federal, OAB, Superintendência de Polícia Técnico-Científica, Guarda Civil Metropolitana e Secretaria Municipal de Engenharia de Trânsito, entre outras.
Transparência e participação social
Embora ainda não exista previsão para abertura pública do banco consolidado, o Detran-GO e a UFG afirmam que pesquisadores, jornalistas e cidadãos interessados poderão acompanhar a evolução do projeto. Segundo Waldir Soares, o SIGO será entregue “como patrimônio público e instrumento estruturante da política estadual de segurança viária”.
Para a UFG, o sistema representa um marco científico e social, capaz de aproximar universidades, instituições públicas e sociedade civil em torno de um objetivo comum: reduzir a violência no trânsito pela via da informação qualificada.
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