Fraude em Fornecimento de Água Potável: Servidores da Saneago são Alvo de Investigação por Desvios Milionários no Entorno do DF
Ministério Público de Goiás apura conluio entre agentes públicos e empresa contratada por R$ 10 milhões; mandados de busca foram cumpridos em sete cidades durante a Operação Radiador. Dez dos investigados já figuram em outro inquérito por desvio de recursos em Formosa.

O Ministério Público de Goiás (MP-GO) deflagrou nesta terça-feira (24) a Operação Radiador, que investiga um suposto esquema de fraude à licitação e desvio de recursos públicos envolvendo 12 servidores da Companhia de Saneamento de Goiás (Saneago) e a empresa Senda Indústria Comércio Serviços Eireli, contratada para o fornecimento de água potável via caminhões-pipa a municípios do Entorno do Distrito Federal. O valor do contrato sob investigação ultrapassa R$ 10 milhões, e, segundo os promotores, os serviços contratados sequer teriam sido prestados em sua integralidade.
De acordo com a 3ª Promotoria de Justiça de Águas Lindas, responsável pelo inquérito, os investigados teriam agido para beneficiar indevidamente a empresa contratada, permitindo que ela recebesse pagamentos milionários mesmo diante da inexecução parcial ou total dos serviços. Em troca, os servidores supostamente teriam recebido vantagens indevidas, caracterizando crimes de corrupção passiva, fraude à licitação e peculato.
Sete cidades como alvos e documentos apreendidos
Ao todo, 15 mandados de busca e apreensão foram cumpridos em Goiânia, Águas Lindas, Luziânia, Cocalzinho de Goiás, Mimoso de Goiás, Padre Bernardo e Brasília (DF). A operação foi conduzida com apoio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) e do Centro de Inteligência do MP-GO.
Durante o cumprimento das ordens judiciais, foram apreendidos documentos físicos e digitais, computadores, celulares e contratos relacionados à prestação de serviços pela empresa Senda. O objetivo é confirmar indícios de conivência e favorecimento ilícito, bem como o suposto enriquecimento ilícito da empresa privada em prejuízo do erário estadual.
Nomes expostos, processo sob sigilo
Os nomes dos servidores investigados foram divulgados pelo MP-GO. São eles:
Danilo Caetano da Silva, Adolfo José de Oliveira, Rosamara de Jesus Braga Marques, Lourival Antônio Saraiva Andrade, Thiago Eloy da Silva, Thony Marques Arantes, Wilson Farias Pimenta, Waner Ergan de Souza Oliveira, Woguiton Vieira dos Santos, José Joaquim Nasário e Eldo de Souza Braga.
Por determinação judicial, todos os servidores deverão ser afastados preventivamente de suas funções por 180 dias, a fim de impedir a obstrução da investigação ou o desaparecimento de provas. O processo corre em segredo de justiça, e, por isso, as defesas dos citados não foram localizadas pela reportagem até o momento.
Investigação paralela: reincidência em fraudes
Dez dos doze investigados já figuram em outra investigação em curso, também sob responsabilidade do MP-GO, que apura fraudes em licitações de locação de caminhões para o município de Formosa (GO). Neste caso, os promotores descobriram um esquema que utilizava “laranjas” no registro de empresas e documentação forjada, com indícios de atuação organizada para o desvio de recursos públicos municipais.
Esse segundo inquérito reforça a hipótese de atuação contínua e estruturada dos envolvidos em diferentes núcleos administrativos, com transposição de modus operandi entre municípios e contratos, algo que pode caracterizar organização criminosa, crime ainda não formalmente incluído na denúncia, mas em análise pelo MP.
Impacto no abastecimento e reação institucional
A Saneago ainda não se pronunciou oficialmente sobre o afastamento dos servidores nem sobre os possíveis impactos da investigação no abastecimento de água potável nas regiões atendidas. Internamente, fontes indicam que haverá substituições emergenciais para garantir a continuidade do fornecimento.
Nos bastidores do governo estadual, a operação acende o alerta para a necessidade de revisão dos controles internos e de auditoria contratual dentro da Saneago, que é uma sociedade de economia mista controlada pelo Estado de Goiás, com papel estratégico na política pública de saneamento e abastecimento hídrico.
O que dizem especialistas
Juristas consultados pela reportagem avaliam que, caso os indícios se confirmem, o caso configura um dos mais graves escândalos recentes envolvendo contratos emergenciais de abastecimento hídrico no Centro-Oeste. Segundo o advogado criminalista e ex-promotor Leonardo Santoro, “trata-se de um exemplo clássico de oportunismo institucional, onde a urgência de um serviço essencial é manipulada para o favorecimento indevido de agentes públicos e empresários”.
A operação segue em andamento, e novas fases não estão descartadas. O Ministério Público já analisa a documentação apreendida para embasar futuras denúncias e ampliar o leque de responsabilização. A reportagem acompanhará os desdobramentos do caso.
Nota enviada pela Saneago

A Saneago explica que, ainda em 2022, a partir da Operação Nabucodonosor, a pedido da Diretoria abriu auditoria interna dos contratos existentes com caminhão-pipa. Inclusive, o relatório final desta auditoria compõe o processo do Ministério Público. O contrato com a referida empresa de caminhão-pipa, denunciada, foi rescindido em abril de 2023, com bloqueio preventivo de pagamento de R$ 1.095.295,38.
A Companhia reforça que implantou e vem reforçando a execução das melhores práticas de governança e compliance, incluindo Política de Due Dilligence de Integridade, desde a fase de contratações. Além disso, na atual gestão, o procedimento padrão é a apuração imediata após qualquer denúncia, como ocorrido desde o início deste caso.
A Saneago reafirma seu compromisso com a legalidade e, como sempre, seguirá prestando os devidos esclarecimentos. Por fim, a Companhia aguarda o recebimento da notificação para novas providências.
Atenciosamente,
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