9 de julho de 2025
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Facção disfarçada de torcida: líder da Força Jovem é preso por ataque a torcedor com filho de 3 anos em Goiânia

Pedro Paulo Martins de Oliveira, apontado como chefe da célula Zona Oeste da Força Jovem de Goiás, confessou ter coordenado emboscada contra torcedor do Atlético Goianiense. Agressão ocorreu diante da criança e foi motivada por disputa territorial entre facções travestidas de torcidas
Montagem de fotos de Pedro Paulo Martins de Oliveira após ser preso e no momento em que agride torcedor rival (Divulgação/Polícia Civil)

A escalada da violência protagonizada por torcidas organizadas em Goiás ganhou um novo e alarmante capítulo. Um ataque premeditado, realizado em plena via pública, diante de uma criança de três anos, expôs como tais grupos operam com estrutura e lógica de facções criminosas — não mais como associações de torcedores. O caso, registrado por câmeras de segurança e investigado pela Polícia Civil de Goiás, culminou na prisão de Pedro Paulo Martins de Oliveira, de 23 anos, apontado como líder da célula Zona Oeste da Força Jovem de Goiás.

O crime ocorreu em 4 de maio de 2024, mas só veio a público com a prisão do principal envolvido, realizada na quinta-feira (3), durante uma operação do Grupo Especial de Proteção ao Torcedor (Geprot). A vítima — torcedor do Atlético Goianiense — foi surpreendida por quatro indivíduos enquanto pilotava uma motocicleta com o filho pequeno na garupa, a caminho de casa, no Setor Vila União, em Goiânia.

“A emboscada foi articulada com base em critérios territoriais. Não havia histórico de desentendimento anterior. A motivação foi unicamente o fato de a vítima estar usando uma camisa de time rival em área dominada por essa célula da Força Jovem”, explicou o delegado Samuel Moura, responsável pela investigação.

Segundo o inquérito, Pedro Paulo e um adolescente abordaram a vítima com violência extrema. Ela foi derrubada da moto junto à criança e espancada com socos e chutes. Além das agressões físicas e ameaças, os criminosos roubaram a calça da vítima, o par de tênis, documentos pessoais, dinheiro e a carteira de sócio-torcedor do Atlético Goianiense. Imagens obtidas pelos investigadores mostram o momento em que o grupo obriga o homem a tirar a roupa diante do próprio filho. O constrangimento foi agravado com a divulgação do crime em redes sociais, onde os agressores ostentaram a calça roubada como um “troféu”.

A Polícia Civil confirmou que Pedro Paulo confessou integralmente os crimes, inclusive a autoria da violência física e a participação direta no roubo. Ele já possuía antecedentes criminais por condutas semelhantes, o que embasou sua prisão preventiva. Com ele, foram encontrados o celular usado no crime e os objetos subtraídos.

Os demais envolvidos — o adolescente e dois adultos — também foram identificados. Eles responderão pelos crimes de associação criminosa, roubo majorado pelo concurso de pessoas, dano qualificado e corrupção de menores. O adolescente será responsabilizado pela Vara da Infância e Juventude. Até o momento, apenas Pedro Paulo permanece preso.

Torcidas organizadas ou milícias esportivas?

A agressão chamou atenção por se tratar de um ataque direcionado a um torcedor do Atlético Goianiense — clube que historicamente não mantém rivalidade direta com a Força Jovem, que é ligada ao Goiás Esporte Clube. Para a polícia, o fato representa uma mudança no padrão das disputas entre essas organizações.

“É um comportamento típico de facções criminosas, que impõem controle territorial por meio da violência e da intimidação. A camisa do time se torna uma justificativa simbólica para o exercício do poder armado. Não estamos mais falando de futebol, mas de estrutura de milícia urbana”, destacou o delegado Samuel Moura.

A Força Jovem de Goiás não se pronunciou oficialmente até o momento, apesar de ter sido procurada pela reportagem. O silêncio reforça, segundo autoridades de segurança, a cultura de omissão e conivência que impera entre algumas lideranças dessas torcidas.

A divulgação do nome e imagem do investigado foi autorizada com base na Lei nº 13.869/2019, e na Portaria nº 547/2021 da Polícia Civil de Goiás, como forma de alertar a população e incentivar novas denúncias de vítimas que possam ter sofrido violência semelhante por parte do mesmo grupo.

O trauma invisível: uma criança como testemunha

Mais do que um roubo ou uma agressão entre torcidas, o crime acende um alerta sobre os impactos da violência urbana na infância. O filho da vítima presenciou todo o episódio: a abordagem violenta, o espancamento, o roubo, a humilhação pública do pai — tudo em uma fração de minutos. Especialistas em psicologia consultados pela reportagem alertam para os efeitos traumáticos em crianças expostas a situações de violência extrema.

Reação institucional

A Polícia Civil, por meio do Geprot, deve intensificar ações de inteligência e investigações contra torcidas organizadas com histórico de reincidência. Já o Ministério Público poderá requerer medidas cautelares mais duras, inclusive o banimento judicial de grupos que atuem com características típicas de organizações criminosas, como a Zona Oeste da Força Jovem.

O caso deve servir como divisor de águas na condução das políticas de segurança pública ligadas ao futebol goiano. A fronteira entre a paixão e a barbárie foi ultrapassada — e exige resposta firme e articulada do Estado.

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