Empresário de concessionária de luxo é preso em Goiânia após golpes milionários
Polícia Civil desmonta sofisticado esquema de estelionato e associação criminosa; bens foram bloqueados, carros apreendidos e prejuízo pode ultrapassar R$ 12 milhões
Um empresário goianiense, dono de uma loja de veículos de luxo no Setor Bueno, foi preso na manhã desta quinta-feira (12) pela Polícia Civil de Goiás, suspeito de liderar um complexo esquema de estelionato e associação criminosa. A prisão é resultado da segunda fase da Operação Chave de Vidro, que já havia detido sua esposa, sócia e coautora dos crimes, na semana anterior. Segundo os investigadores, os golpes lesaram mais de 100 pessoas e os prejuízos podem ultrapassar R$ 12 milhões.
O grupo utilizava a revenda de carros de alto padrão como fachada para uma rede de fraudes sofisticadas envolvendo consignação, vendas fantasmas, pagamentos com cheques sem fundos e apropriação indevida de valores.
A engrenagem do golpe
De acordo com o delegado Diogo Rincon, responsável pela investigação principal, a estratégia consistia em atrair proprietários de veículos de luxo para consignação na loja, prometendo agilidade e valorização na venda. Contudo, após fechar negócio com os compradores, os criminosos simplesmente não repassavam o valor aos proprietários originais e tampouco transferiam o veículo para o nome dos compradores. Em alguns casos, eram entregues cheques sem provisão de fundos ou com assinaturas divergentes, estratégia usada para simular boa-fé e ganhar tempo.
“Eles lesavam simultaneamente quem vendeu e quem comprou. Criaram um sistema onde nenhuma das partes recebia o que era devido. Há registros de vítimas em diversos estados, o que indica um alcance interestadual da organização”, afirmou Rincon.
Apenas nos 25 primeiros casos apurados, o prejuízo já chegava a R$ 3 milhões. Agora, com mais de uma centena de denúncias reunidas, o montante estimado pode superar R$ 12 milhões, segundo a Polícia Civil.
Carros apreendidos e bloqueio de bens
A operação resultou na apreensão de toda a frota da loja, composta por veículos de alto valor como SUVs importadas, esportivos de marcas europeias e utilitários blindados. Além disso, R$ 3 milhões foram bloqueados judicialmente, tanto em contas pessoais quanto em ativos vinculados à empresa.
Os carros foram levados para um pátio da Polícia Civil, onde passam por verificação documental e serão periciados para identificação de origem e propriedade.
Esposa também foi presa por fraude paralela
Na primeira fase da operação, deflagrada no dia 3 de junho, a esposa do empresário — que também atuava como sócia na empresa — foi presa em Senador Canedo. Ela é acusada de aplicar um golpe estimado em R$ 2,5 milhões, com modus operandi semelhante: recebia carros em consignação e, após a venda, se apropriava integralmente dos valores, sem repassar o dinheiro aos proprietários.
A delegada responsável pela apuração dessa parte do caso, Igomar Caetano, explicou que a operação financeira da loja se tornou inviável e, para manter as aparências, o casal recorreu a práticas ilegais:
“Manter uma loja de luxo com oito funcionários e infraestrutura cara exige alto volume de receita. A comissão de 3% sobre vendas não era suficiente, então começaram a embolsar integralmente os valores dos carros vendidos. Isso criou um ciclo de fraude contínua, um verdadeiro efeito bola de neve”, destacou Caetano.
Alerta aos consumidores e próximas etapas
A Polícia Civil orienta que vítimas que tenham feito qualquer tipo de transação com a loja entre 2023 e 2025 procurem a delegacia com todos os documentos que comprovem a negociação — como contratos, comprovantes de depósito, cópias de cheques ou conversas de aplicativos.
O inquérito já contabiliza mais de 100 vítimas formalmente identificadas, mas o número pode ser ainda maior, já que parte das negociações eram feitas informalmente. A empresa, cujo nome ainda é mantido sob sigilo para não prejudicar novas diligências, operava de forma ostensiva e mantinha um padrão de sofisticação visual que gerava confiança imediata em clientes com alto poder aquisitivo.
A Justiça autorizou novos mandados de busca, apreensão e o aprofundamento da quebra de sigilos bancários, fiscais e telemáticos. A investigação também apura possíveis laranjas e empresas de fachada usadas para movimentar os recursos desviados.
Análise final
O caso escancara uma faceta pouco explorada do setor de revenda de veículos de luxo: a vulnerabilidade de clientes diante da falta de regulamentação e fiscalização rigorosa nos contratos de consignação. A confiança na aparência da empresa, muitas vezes reforçada por estruturas comerciais glamorosas e atendimento sofisticado, é uma armadilha eficaz para golpistas experientes.
Especialistas em Direito do Consumidor recomendam que toda negociação de alto valor seja formalizada com contratos autenticados, acompanhada de consulta à situação cadastral da empresa, verificação da regularidade de CNPJ e exigência de pagamento rastreável — jamais em dinheiro vivo ou cheques pós-datados.
Linha do tempo do caso:
Data | Acontecimento |
---|---|
03/06/2025 | Esposa do empresário é presa por desvio de R$ 2,5 milhões |
12/06/2025 | Empresário é preso em Goiânia pela Operação Chave de Vidro |
Até agora | +100 vítimas identificadas e prejuízo estimado em R$ 12 milhões |
Ações | Bloqueio de bens, apreensão de carros, novas diligências |
Para denúncias e mais informações, os consumidores podem procurar diretamente a Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon) ou o Ministério Público Estadual.
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