Contradições Milionárias: Gestão Mabel mantém R$ 38,9 milhões em contratos da era Rogério Cruz, mesmo após críticas
Apesar das promessas de moralização e transparência, nova gestão renova sem licitação contratos herdados do governo anterior — muitos dos quais foram alvo de investigações do MP e TCM.

Prometendo romper com práticas anteriores e instituir um novo modelo de gestão pautado pela transparência, o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel (União Brasil), iniciou seu mandato anunciando uma devassa sobre contratos herdados da administração de Rogério Cruz (SD). No entanto, em apenas quatro meses de governo, a nova gestão já autorizou a continuidade de R$ 38,9 milhões em contratos originados no mandato anterior, inclusive sem licitação, em completa dissonância com o discurso adotado durante e após a campanha eleitoral.
A apuração revelou que seis dos oito novos contratos com duração de 12 meses firmados pela atual administração em 2025 envolvem empresas que já prestavam serviços à prefeitura via “carona” em atas de outros entes públicos — ou seja, sem concorrência direta em Goiânia. É o mesmo mecanismo que o atual prefeito tanto criticou como “mais caro que o mercado” e que prometeu substituir por editais próprios, com preços “negociados e justos”.
Entre promessas e renovações
No primeiro dia útil do mandato, Mabel assinou o Decreto nº 30/2025, suspendendo contratos por adesão a atas, alegando “moralização” e necessidade de “revisão técnica e orçamentária”. No entanto, já em 25 de janeiro, a Secretaria Municipal de Políticas para as Mulheres, Assistência Social e Direitos Humanos (Semasdh) renovou um contrato de R$ 2,36 milhões com a empresa Cuiabá Comércio de Alarmes, aderindo à mesma ata usada anteriormente pela Secretaria Municipal de Educação (SME), num pregão da Defensoria Pública do Mato Grosso (DPE-MT). A SME também contratou a mesma empresa por R$ 2,5 milhões.
A conexão entre os sócios da Cuiabá e da New Line Sistemas de Segurança, que atende a Secretaria Municipal de Saúde desde 2021, levanta mais suspeitas. Ambas pertencem a familiares e operam no mesmo ramo. O contrato com a New Line — também originado de uma adesão à ata da Prefeitura de Aparecida de Goiânia — foi renovado em fevereiro de 2025 por R$ 3,8 milhões, valor idêntico ao da renovação anterior. Curiosamente, esse aditivo não consta no Portal da Transparência.
Tecnologia com preço alto e pouca concorrência
Outros dois contratos relevantes envolvem serviços de tecnologia da informação — uma área em que, segundo especialistas ouvidos por O POPULAR, a Prefeitura de Goiânia está “refém” de estruturas montadas anteriormente, difíceis de desmontar sem impactos operacionais severos.
A Secretaria de Planejamento Urbano (Seplan) renovou contrato com a empresa Ikhon Gestão e Tecnologia, de Brasília, por R$ 2,2 milhões, também com base em uma ata da Agência de Tecnologia de Palmas (TO). Já a Secretaria de Inovação (SIT) prorrogou vínculo com a Argo Inteligência Digital, de Minas Gerais, por R$ 10,1 milhões, carona em ata do Tribunal de Contas do Mato Grosso.
Ambos os aditivos ainda não estão publicizados no Portal da Transparência, o que contraria os princípios defendidos pela nova gestão.
Sinalização e urbanismo: entre licitações e adesões
O contrato de maior valor renovado, por R$ 11,9 milhões, foi firmado com a goianiense Planex Engenharia, empresa que atua na sinalização viária da capital. Diferente dos demais, essa contratação originou-se de uma licitação promovida ainda na gestão de Iris Rezende (MDB), em 2020, e é o único exemplo da lista que seguiu rito licitatório próprio.
No entanto, em abril de 2025, a mesma Secretaria de Engenharia de Trânsito (SET) firmou novo contrato de R$ 167 milhões com a Jardiplan Urbanização e Paisagismo, de Itapetininga (SP), com validade de cinco anos e também sem licitação, via adesão a ata. A empresa já prestava o mesmo serviço à capital desde junho de 2024.
Investigação e pressão do controle externo
Diversos desses contratos foram alvos de questionamentos e investigações por parte do Ministério Público de Goiás (MP-GO) e do Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) ainda durante a gestão Rogério Cruz. Em nota anterior, o MP apontou “excessiva dependência de adesões”, o que “fragiliza os controles internos e pode gerar sobrepreço”.
Mesmo após as críticas e promessas de reforma administrativa, a atual gestão opta por manter estruturas questionadas, levantando dúvidas sobre a efetividade da auditoria prometida e o real comprometimento com uma ruptura administrativa.
O que diz a Prefeitura
Procurada, a Prefeitura de Goiânia afirmou, em nota sucinta, que as renovações se deram “dentro da legalidade” e que os contratos “estão sendo reavaliados em etapas”. Não comentou, porém, sobre a ausência de alguns aditivos no Portal da Transparência nem sobre a relação societária entre empresas contratadas.
Enquanto isso, o discurso de renovação parece colidir com a prática de continuidade, acendendo o alerta sobre a efetividade das promessas de transparência e o combate às velhas engrenagens do poder público municipal.
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