Câncer de Pulmão: Além do Tabagismo, Poluição do Ar Ganha Destaque Como Fator de Risco
No Brasil, o câncer de pulmão é um dos mais comuns, e a poluição atmosférica surge como uma preocupação crescente na incidência da doença
O câncer de pulmão é uma das formas mais agressivas da doença e, no Brasil, ocupa a terceira posição entre os homens e a quarta entre as mulheres, segundo o Instituto Nacional de Câncer (INCA). Embora o tabagismo continue a ser o principal fator de risco, outras causas têm atraído a atenção da comunidade científica, como a poluição do ar, exposição a agentes químicos, como radônio e asbestos, e até o tabagismo passivo.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 95% da população mundial respira ar poluído, e essa exposição crônica aumenta significativamente o risco de desenvolver câncer de pulmão. A poluição atmosférica contém diversos agentes cancerígenos, como as emissões de motores a diesel, poeira de sílica, benzeno e produtos de combustão de carvão. Esses contaminantes são amplamente reconhecidos por sua capacidade de danificar o DNA das células pulmonares, causando processos inflamatórios que podem desencadear o câncer, mesmo em pessoas que nunca fumaram.
A Poluição como Vilã Silenciosa
O oncologista clínico e membro do Comitê de Tumores Torácicos da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. William Nassib William, reforça que o grande problema da poluição atmosférica é o material particulado presente no ar. “Quando essas partículas são inaladas, elas podem causar danos ao DNA celular, levando a mutações que, eventualmente, se transformam em câncer. Esse risco é especialmente alarmante em áreas urbanas, onde os níveis de poluição são maiores e a exposição é constante”, destaca o especialista.
A poluição do ar não só aumenta os riscos de câncer de pulmão, como também está associada a desconfortos de saúde menos graves, mas ainda assim significativos, como dores de cabeça, irritação nos olhos, coriza e tosse. Esses sintomas, no entanto, podem mascarar os sinais iniciais de algo mais grave, como o desenvolvimento de um tumor.
Sintomas e Diagnóstico: O Perigo do Diagnóstico Tardio
Os sintomas do câncer de pulmão incluem tosse persistente, falta de ar, dor torácica, sangramento, emagrecimento involuntário e fadiga. No entanto, o Dr. William alerta que, em muitos casos, a doença só é diagnosticada tardiamente, quando os sintomas já estão avançados. “Infelizmente, a maioria dos casos é descoberta em estágios avançados, especialmente em pacientes que não têm histórico de tabagismo, o que dificulta ainda mais o tratamento”, comenta.
Pessoas que não fumam podem levar ainda mais tempo para buscar ajuda médica, por acreditarem que não estão em risco. O diagnóstico precoce, no entanto, é crucial para melhorar as chances de sucesso no tratamento.
Rastreamento: A Importância de Exames Preventivos
Atualmente, o rastreamento do câncer de pulmão é recomendado apenas para pessoas com histórico de tabagismo considerável – o equivalente a fumar um maço por dia durante 20 anos. A Sociedade Brasileira de Cirurgia Torácica, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia recomendam que indivíduos com idade mínima de 50 anos e que se encaixem nesse perfil de risco sejam submetidos a uma tomografia de baixa dose para a detecção precoce da doença.
“O ideal seria detectar o câncer antes mesmo dos sintomas se manifestarem. No entanto, devido ao custo elevado e à falta de acessibilidade para um rastreamento mais amplo, essa prática é indicada apenas para os pacientes de alto risco, que são, majoritariamente, fumantes”, afirma Dr. William.
Tratamentos Modernos e Personalizados
O tratamento do câncer de pulmão tem avançado significativamente nos últimos anos. Além das abordagens tradicionais, como cirurgia e radioterapia, os tratamentos medicamentosos têm se tornado uma peça-chave na luta contra a doença. A cirurgia robótica, embora ainda gere debates sobre sua eficácia em comparação com técnicas convencionais, tem possibilitado intervenções mais precisas e menos invasivas.
A radioterapia também evoluiu com técnicas que focam na minimização dos danos ao tecido saudável, preservando partes do pulmão que não foram afetadas pelo tumor. “A radioterapia moderna é uma ferramenta essencial, pois conseguimos tratar áreas específicas do pulmão, o que ajuda a reduzir efeitos colaterais e melhorar a qualidade de vida dos pacientes”, explica o oncologista.
Nos últimos anos, a imunoterapia e as terapias alvo revolucionaram o tratamento do câncer de pulmão. A imunoterapia fortalece o sistema imunológico para que ele reconheça e combata as células tumorais, enquanto as terapias alvo bloqueiam moléculas que impulsionam o crescimento do câncer. Essas técnicas, geralmente administradas por via oral, têm mostrado resultados promissores, com menor toxicidade em comparação à quimioterapia tradicional.
Prevenção: Além do Controle do Tabaco, Medidas Contra a Poluição
Embora o tabagismo continue sendo a maior preocupação para a prevenção do câncer de pulmão, a poluição do ar está ganhando atenção global como um fator de risco alarmante. “A conscientização sobre os perigos da poluição é tão importante quanto as campanhas antitabagistas. Devemos combater a poluição com a mesma seriedade, já que estamos falando de algo que afeta bilhões de pessoas diariamente”, conclui Dr. William.
Campanhas de prevenção, que antes se focavam quase exclusivamente no tabaco, precisam agora incluir a poluição atmosférica como uma ameaça real à saúde pública. Investimentos em energias limpas, redução das emissões industriais e controle de materiais de construção cancerígenos são apenas algumas das ações necessárias para reduzir o impacto da poluição no desenvolvimento de doenças pulmonares.
Fontes:
- Organização Mundial da Saúde (OMS)
- Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC)