Brasil avança no combate ao HIV e atinge meta da ONU, mas desafios na prevenção persistem
País diagnostica 96% das pessoas estimadas com HIV em 2023; especialistas destacam avanços no tratamento e alertam para negligência na prevenção.
O Brasil alcançou um marco importante no combate ao HIV em 2023, conforme os dados divulgados pelo Programa Conjunto das Nações Unidas para o HIV e Aids (Unaids). Segundo o relatório, o país diagnosticou 96% das pessoas estimadas de viver com o vírus, atingindo uma das metas estabelecidas para a eliminação da Aids como problema de saúde pública. Este avanço reforça o impacto positivo das políticas de testagem e tratamento implementadas ao longo dos anos, mas especialistas alertam para o crescente descuido com a prevenção, especialmente entre os jovens.
Dezembro Vermelho: um mês para conscientizar
No Brasil, o mês de dezembro é marcado pelo Dezembro Vermelho, campanha que reforça a importância da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento do HIV. O tema deste ano, “HIV. É sobre viver, conviver e respeitar. Teste e trate. Previna-se”, reflete o tripé essencial no combate ao vírus: conscientização, acesso à saúde e inclusão.
O papel do diagnóstico precoce
A infectologista Juliana Barreto, que atua no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia, destacou a relevância do diagnóstico precoce para o controle da doença. “O primeiro passo para o controle é identificar quem tem o vírus, especialmente entre aqueles que desconhecem sua condição. Pessoas sexualmente ativas devem incluir exames regulares para HIV e outras ISTs em seus cuidados de saúde”, orienta a especialista.
Apesar do avanço no diagnóstico, Juliana reforça a necessidade de ampliar campanhas educativas, especialmente entre os jovens. “A percepção de risco diminuiu. Com a introdução da PrEP (profilaxia pré-exposição) e tratamentos altamente eficazes, muitos abandonaram o uso do preservativo, o que levou ao aumento de outras infecções sexualmente transmissíveis além do HIV”, alerta.
Tratamento evoluído, mas prevenção é indispensável
Os tratamentos antirretrovirais disponíveis atualmente são extremamente eficazes, transformando o HIV em uma condição crônica gerenciável. Segundo Juliana Barreto, iniciar o tratamento precocemente quase sempre impede a progressão para a Aids, que ocorre quando o sistema imunológico já está comprometido por doenças oportunistas.
“A diferença entre HIV e Aids é a presença de doenças associadas. Quem faz o diagnóstico precoce e segue o tratamento dificilmente evolui para Aids. Hoje, os antirretrovirais têm menos efeitos colaterais e garantem qualidade de vida aos pacientes”, afirma.
Ainda assim, a especialista ressalta que o HIV é uma doença inflamatória crônica, exigindo acompanhamento contínuo para prevenir complicações futuras.
Vacina contra o HIV: um desafio científico
Embora os avanços no tratamento sejam notáveis, a criação de uma vacina contra o HIV ainda enfrenta grandes barreiras. Juliana explica que a alta capacidade de mutação do vírus torna o desenvolvimento de uma vacina eficiente extremamente desafiador. “O retrovírus tem uma evolução muito rápida, mudando seu sequenciamento genético constantemente. Isso dificulta o trabalho dos pesquisadores, mas os estudos continuam avançando”, observa.
Enquanto isso, métodos de prevenção, como o uso de preservativos, a PrEP e a profilaxia pós-exposição (PEP), permanecem como as principais ferramentas para evitar a transmissão do vírus.
Desafios e perspectivas
O Brasil é um exemplo de sucesso na testagem e no acesso ao tratamento gratuito pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No entanto, a negligência na prevenção, especialmente entre jovens, é um alerta para o fortalecimento de políticas públicas e campanhas educativas que promovam o uso contínuo de preservativos e práticas seguras.
A luta contra o HIV/Aids é sobre vidas, convivência e respeito. Além de eliminar estigmas, é essencial que o Brasil continue a investir em educação e saúde pública para garantir que os avanços conquistados se traduzam em um futuro livre da epidemia.
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