Bolsonaro recebe título de cidadão aparecidense entre críticas e momento debilitado
Ex-presidente é homenageado em sessão na Câmara de Aparecida de Goiânia, apesar de parecer enfraquecido devido a cirurgias decorrentes do atentado de 2018; aliados projetam 2026 e criticam governo Lula.

Mesmo visivelmente debilitado e afirmando sentir-se febril, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) participou na noite desta quinta-feira (19) de uma sessão solene na Câmara Municipal de Aparecida de Goiânia, onde recebeu o título de cidadão aparecidense. A cerimônia, marcada por forte simbolismo político, foi conduzida por vereadores e parlamentares aliados e antecedida por uma oração, execução do Hino Nacional e a exibição de um vídeo exaltando a trajetória do ex-mandatário.
Em uma fala breve, porém repleta de conteúdo político, Bolsonaro agradeceu pela homenagem e voltou a atacar duramente o atual governo federal, presidido por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). “Vocês acompanham o trabalho do atual governo para nos censurar. O governo decide o que você pode ou não dizer nas redes sociais”, afirmou. “Essa tentativa de nos calar significa uma tentativa de arrumar as eleições de 2026 de acordo com seus interesses.”
Apesar de inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro tem intensificado sua agenda pública e vem sendo tratado por aliados como “líder do movimento conservador” e, potencialmente, “grande eleitor” do pleito presidencial futuro. A sessão em Aparecida se insere nesse esforço de preservação de sua imagem junto à base.
Presença debilitada e narrativa de resistência
Bolsonaro foi submetido recentemente a mais um procedimento cirúrgico abdominal, em decorrência das sequelas do atentado a faca que sofreu em setembro de 2018. Ainda em recuperação, o ex-presidente demonstrava cansaço visível, com voz embargada e semblante abatido. “Estou com febre. Mas não poderia deixar de vir aqui”, disse, ao final da cerimônia, antes de ser conduzido por assessores.
A fragilidade física, no entanto, não impediu seus aliados de construírem um discurso centrado em resiliência e perseguição. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) afirmou que “poucos homens suportariam o que Bolsonaro está suportando”. Já o senador Wilder Morais (PL-GO), em tom messiânico, afirmou: “O senhor é o nosso futuro e próximo presidente da República”.
Aliados exaltam Bolsonaro e atacam mídia e Judiciário
Durante a sessão, outros nomes do campo conservador goiano também foram homenageados, como Fred Rodrigues (PL), Gustavo Gayer, Victor Hugo Pereira (advogado do PL-GO) e o vereador Dieyme Vasconcelos (PL), responsável por propor a concessão do título. Todos enfatizaram um mesmo discurso: Bolsonaro como vítima de uma perseguição sistemática por parte da mídia tradicional, do Judiciário e do atual governo federal.
Fred Rodrigues, ex-candidato a prefeito de Goiânia, reiterou a tese da “perseguição da esquerda” contra o ex-presidente, mencionando as consequências físicas e políticas da facada de 2018. Já Vasconcelos afirmou que “Bolsonaro trouxe muitos recursos e benefícios para Aparecida de Goiânia, especialmente durante a pandemia”, e que “sua presença reacende o patriotismo e a esperança no país”.
Processos judiciais e projeto de futuro
Apesar da calorosa recepção e do clima de comício, Bolsonaro responde a diversas ações no Supremo Tribunal Federal (STF), incluindo o inquérito que o tornou réu por suposta tentativa de golpe de Estado. A oposição argumenta que o ex-presidente permanece como um agente político relevante mesmo sem poder disputar cargos eletivos — e que seu grupo ainda se move com vistas às eleições de 2026, promovendo nomes como Tarcísio de Freitas e Michelle Bolsonaro como possíveis sucessores.
“Estamos vivendo uma justiça relativa”, declarou Dieyme Vasconcelos sobre os processos judiciais em andamento. A frase ecoa o sentimento de parte expressiva da militância bolsonarista, que enxerga no Judiciário um dos principais obstáculos ao retorno do ex-presidente ao centro do poder.
Conclusão: um ato simbólico com peso estratégico
A homenagem em Aparecida de Goiânia vai além da diplomacia local. É parte de uma estratégia mais ampla do Partido Liberal (PL) de manter Bolsonaro politicamente ativo, mesmo fora das urnas. Ao posicioná-lo como referência moral, vítima de injustiças e voz da “resistência”, seus aliados esperam galvanizar o eleitorado conservador e projetar força nas próximas disputas eleitorais.
Num ambiente carregado de emoções, onde o hino se funde com a retórica da pátria ameaçada, o ex-presidente — mesmo febril — permaneceu no centro do tablado. Não apenas como um homenageado, mas como o catalisador de um movimento que ainda se recusa a deixar o palco político brasileiro.
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