Açúcar oculto: como alimentos salgados contribuem silenciosamente para o avanço do diabetes no Brasil
No Dia Nacional do Diabetes, especialistas alertam para o consumo excessivo de açúcar presente até em produtos salgados industrializados. Mais do que evitar doces, é preciso atenção aos rótulos e mudanças no estilo de vida para conter o avanço da doença.

A maioria das pessoas associa o açúcar a sobremesas, refrigerantes e guloseimas. No entanto, a presença dele vai muito além dos doces — e pode estar silenciosamente comprometendo a saúde dos brasileiros. Em pleno Dia Nacional do Diabetes, celebrado em 26 de junho, o alerta de especialistas é claro: o consumo excessivo de açúcar, mesmo quando invisível aos olhos e ao paladar, é um dos principais fatores de risco para o avanço do diabetes tipo 2 no país.
Segundo dados recentes da Organização Mundial da Saúde (OMS), o brasileiro consome, em média, 30 quilos de açúcar por ano — o equivalente a cerca de 80 gramas por dia, ou aproximadamente 18 colheres de chá. O recomendado, no entanto, é bem menos: de 25 a 50 gramas diárias, considerando uma dieta de 2 mil calorias. Isso significa que o consumo atual ultrapassa em mais de 50% o limite superior ideal.
Mas onde, afinal, está todo esse açúcar?
“Não é só nos doces que o açúcar aparece. Ele está nos alimentos ultraprocessados, nas bebidas açucaradas e também em muitos alimentos salgados que passam despercebidos”, afirma a nutricionista Sáskia Ribeiro, especialista em nutrição funcional, que atende no centro clínico do Órion Complex, em Goiânia.
Salgados adoçados: o vilão invisível da rotina alimentar
A grande armadilha, segundo Sáskia, está na presença camuflada de açúcar em alimentos industrializados salgados. Molhos prontos, massas instantâneas, pães de forma, patês, sopas enlatadas, embutidos e até temperos prontos muitas vezes contêm doses significativas de açúcar, que passam despercebidas pelo consumidor desatento. A estratégia das indústrias? Usar nomes alternativos nos rótulos.
“Açúcar pode aparecer com mais de 50 nomes diferentes. Sacarose, glicose, xarope de milho, maltodextrina, frutose, dextrose, açúcar invertido, agave e até ingredientes ‘aparentemente saudáveis’, como mel ou açúcar de coco, são formas de adoçar sem dizer explicitamente ‘açúcar’”, alerta a nutricionista.
Açúcar e diabetes: uma relação perigosa, mas não exclusiva
Embora o açúcar isoladamente não cause diabetes tipo 2, o seu excesso crônico contribui para o acúmulo de gordura visceral, desencadeando resistência à insulina, mecanismo central no desenvolvimento da doença.
“Ele não é o único culpado, mas é um agente significativo, especialmente quando associado ao sedentarismo, má alimentação, distúrbios do sono e altos níveis de estresse”, explica Sáskia.
Segundo o Ministério da Saúde, mais de 16 milhões de brasileiros vivem com diabetes, sendo a maioria com o tipo 2, que está fortemente relacionado ao estilo de vida.
Prevenção: muito além do açúcar
Mesmo pessoas com histórico familiar podem evitar o desenvolvimento da doença. A chave está na prevenção integrada, que vai muito além de cortar doces.
“O foco precisa ser a mudança no estilo de vida. Dietas equilibradas, atividade física regular, sono de qualidade e redução do estresse são pilares fundamentais. E claro, estar atento à leitura de rótulos para evitar armadilhas do açúcar escondido”, orienta a especialista.
Ela também ressalta que a adaptação do paladar é um processo gradual, mas possível. Trocar refrigerantes por água com gás e limão, reduzir o açúcar no café, evitar adoçar frutas e preparar sobremesas caseiras com frutas e ingredientes mais naturais são estratégias eficazes.
Descascar mais, desembalar menos
Para Sáskia Ribeiro, o lema é simples, mas poderoso:
“Descasque mais, desembale menos. Priorize alimentos in natura ou minimamente processados: frutas, verduras, grãos integrais, proteínas magras. Na dúvida, escolha produtos com poucos ingredientes e nomes compreensíveis no rótulo. Se o açúcar aparecer entre os primeiros da lista, é sinal de alerta.”
Perspectiva nacional: uma questão de saúde pública
O impacto do consumo exagerado de açúcar vai além da saúde individual: é uma questão de saúde pública. Os custos com o tratamento de diabetes e suas complicações — como doenças cardiovasculares, renais e oftalmológicas — já representam bilhões aos cofres públicos anualmente.
O Dia Nacional do Diabetes, mais do que uma data simbólica, serve como chamado à conscientização: conhecer o que se consome, entender os riscos ocultos nos alimentos cotidianos e fazer escolhas mais conscientes são atitudes fundamentais para mudar esse cenário.
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