8 de dezembro de 2025
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Crédito mais caro no novo Plano Safra pressiona agronegócio e antecipa crise estrutural no setor

Juros mais altos, escassez de recursos e incertezas fiscais aprofundam vulnerabilidade financeira de produtores rurais. Especialistas alertam para risco de descapitalização em massa e necessidade urgente de reestruturação jurídica e operacional.
Luís Garcia e Luiz Felipe Baggio.

As medidas anunciadas no Plano Safra 2025/2026, com redução do volume de recursos e elevação das taxas de juros, acenderam o sinal de alerta em todo o setor do agronegócio brasileiro. Em um momento de transição fiscal, incertezas macroeconômicas e mudanças tributárias estruturais, o custo do crédito rural se torna não apenas um obstáculo conjuntural, mas um vetor de transformação forçada das operações agroindustriais.

De acordo com o governo federal, o novo Plano Safra destina R$ 400,5 bilhões ao setor, com juros variando de 8% a 12% ao ano para médios e grandes produtores — índices que contrastam com os 6% a 8,5% da edição anterior, e que colocam pressão adicional sobre um modelo produtivo amplamente alavancado.

Para Luiz Felipe Baggio, diretor de operações da Evoinc, advogado e especialista em estruturação patrimonial e sucessória no campo, a elevação das taxas de financiamento compromete a sustentabilidade financeira da atividade agropecuária, sobretudo para quem opera com margens comprimidas e fluxos de caixa já tensionados.

“Estamos diante de uma situação-limite. O crédito, mesmo com subsídios parciais, se tornou proibitivo para milhares de produtores. E o mais grave: isso ocorre num momento em que o Brasil implementa a maior reforma tributária desde a Constituição de 1988, com impactos que ainda não foram plenamente dimensionados pelo setor”, afirma.

Juros altos, reformas e risco jurídico-tributário

Baggio destaca que a combinação de custo elevado do capital com as mudanças previstas na reforma do consumo, no imposto de renda e no Código Civil configura um cenário de “choque operacional e jurídico sem precedentes”. Ele cita, por exemplo, a iminente adoção do modelo de split payment — sistema em que os tributos são recolhidos automaticamente no momento da transação — como um elemento que exigirá profunda reorganização contratual e financeira das cadeias produtivas.

“O produtor que não tiver um plano de reestruturação tributária e patrimonial multidisciplinar corre o risco de colapsar financeiramente. O agronegócio brasileiro sempre operou com alavancagem e informalidade tolerada; isso não será mais possível no novo ambiente normativo”, alerta o consultor.

Redução de estímulos e ameaça à produtividade

A análise é endossada por Luís Garcia, advogado tributarista, sócio do Tax Group e do MLD Advogados Associados, e especialista em direito empresarial. Para ele, o atual desenho do Plano Safra representa não apenas um retrocesso em termos de incentivo à produção, mas um indicativo da falta de prioridade do governo federal ao setor que mais contribui para o PIB nacional.

“Estamos vendo os reflexos de uma política fiscal desajustada. O governo reduz os recursos disponíveis, encarece os juros, mantém a Selic em dois dígitos e ainda cogita reverter a isenção de IOF para o crédito rural. O resultado será recessão no campo, desemprego e retração econômica generalizada”, avalia Garcia.

Ele acrescenta que, sem recursos acessíveis, o produtor não consegue investir em tecnologia, insumos, renovação de máquinas ou expansão da produtividade, o que compromete não apenas a próxima safra, mas a capacidade de exportação e competitividade global do agronegócio brasileiro.

Cenário internacional e pressão cambial

A situação se agrava diante do contexto internacional. Com a queda nos preços das commodities agrícolas, aumento nos custos logísticos e dólar volátil, os produtores nacionais já enfrentavam dificuldade para fechar contratos com margem positiva. O crédito caro, nesse sentido, empurra a estrutura de produção para o vermelho, principalmente entre médios produtores, que não têm acesso à proteção cambial nem ao hedge financeiro usado por grandes corporações.

A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), por meio de nota, afirmou que o Plano Safra 2025/2026 “ficou aquém do necessário” e que irá atuar junto ao Congresso Nacional para tentar recompor os volumes de recursos e garantir a continuidade de programas estruturantes como o Moderfrota e o Inovagro, que sofreram cortes drásticos.

Risco sistêmico e urgência de reforma no crédito rural

Estudos recentes do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) já haviam indicado que, sem uma modernização no modelo de financiamento rural, o setor se tornaria altamente vulnerável a choques fiscais e monetários. Com o novo Plano Safra, esse prognóstico se antecipa.

“Não se trata apenas de subsídio ou volume de recursos, mas da lógica do crédito. Hoje o agro precisa de crédito estruturado, com garantias flexíveis, securitização eficiente e linhas de longo prazo. O modelo baseado em equalização de juros via Tesouro está exaurido”, afirma o economista rural Rodrigo Gurgel, autor do estudo “Risco de crédito e o futuro do financiamento rural no Brasil”.

Conclusão: o agronegócio em ponto de inflexão

O cenário é claro: o agronegócio brasileiro enfrenta uma encruzilhada. A continuidade de sua expansão depende de mudanças estruturais urgentes no modelo de financiamento, nas práticas de gestão tributária e na relação com o Estado. Sem isso, o risco de descapitalização em cadeia, falências e perda de competitividade é concreto.

O momento exige planejamento estratégico, integração entre áreas jurídica, fiscal e contábil, e, sobretudo, vontade política para reequilibrar os pilares de sustentação da agropecuária nacional.

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Marcus

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