TRT-GO suspende greve dos motoristas do transporte coletivo e estabelece nova rodada de negociações para segunda-feira
Sem acordo entre empresas e trabalhadores, paralisação é temporariamente interrompida a pedido da Justiça do Trabalho. Categoria mantém mobilização e ameaça retomar greve a partir do dia 1º de julho caso não haja avanço nas tratativas.
Após horas de impasse na audiência de mediação realizada nesta quinta-feira (26), o Tribunal Regional do Trabalho da 18ª Região (TRT-GO) determinou a suspensão temporária da greve dos trabalhadores do transporte coletivo de Goiânia e da Região Metropolitana. A medida, acatada a pedido da Justiça do Trabalho, não representa o fim do movimento grevista, mas abre espaço para uma nova rodada de negociações marcada para a próxima segunda-feira (1º de julho), às 9h30, na sede do tribunal.
A informação foi confirmada pelo advogado Nábson Santana, representante do Sindicato dos Trabalhadores em Transportes Coletivos Urbanos de Goiânia (Sindicoletivo), que lamentou a ausência de acordo entre patrões e empregados. “Não houve consenso. Porém, atendendo à solicitação do TRT, a categoria suspendeu a paralisação, confiando no avanço das tratativas na próxima audiência”, afirmou ao Mais Goiás.
Tensão entre reajuste e resistência patronal
Durante a mediação conduzida pelo desembargador Wildenilson de Oliveira, relator do dissídio coletivo, o Ministério Público do Trabalho (MPT) e o próprio TRT sugeriram um reajuste mínimo de 7,5% sobre os salários. No entanto, a proposta ainda está distante da única oferta formalizada até o momento pelas empresas, representadas pelo Sindicato das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros de Goiânia (SET), que propuseram apenas 5,36%, sendo 4,86% de reposição inflacionária e 0,5% de ganho real.
A categoria, por sua vez, reivindica reajuste de 10% nos salários e 15% de aumento no vale-alimentação, além de melhorias nas condições de trabalho, como intervalos adequados, fim das jornadas excessivas e segurança nos terminais.
Segundo o Sindicoletivo, os trabalhadores enfrentam pressão crescente em meio à precarização do sistema, sobrecarga operacional e ausência de contrapartidas significativas após anos de congelamento salarial real. “A base está mobilizada e consciente. Não há clima para retrocesso”, afirmou Nábson.
Interrupção estratégica e ameaça de retomada
Com a suspensão do movimento grevista, a operação dos ônibus será retomada normalmente nesta sexta-feira (27), sem restrições de frota. No entanto, caso não haja avanço substancial nas negociações, o sindicato já anunciou a retomada da greve a partir da meia-noite de terça-feira, 1º de julho.
A estratégia, segundo analistas ouvidos pela reportagem, segue um padrão recente de greves “táticas” no setor de transporte, em que paralisações são suspensas provisoriamente para preservar o apoio da Justiça e da opinião pública, sem que isso signifique abdicar das reivindicações.
Silêncio empresarial e participação do poder público
Procurado pela reportagem, o SET confirmou apenas que participou das reuniões desta quinta-feira e que estará presente na nova rodada de mediação. A entidade não se manifestou sobre o teor das propostas discutidas nem indicou possível flexibilização nos índices de reajuste.
Já o Governo de Goiás e a Prefeitura de Goiânia, integrantes do consórcio que subsidia parte da operação do transporte coletivo na Região Metropolitana, também não comentaram se pretendem intervir ou reforçar a interlocução para viabilizar um acordo entre as partes. Especialistas alertam que a falta de protagonismo do poder público tende a aprofundar a instabilidade do sistema.
Crise estrutural no transporte metropolitano
O episódio expõe, mais uma vez, a fragilidade estrutural do transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia. Dependente de subsídios públicos, marcado por tarifas congeladas e queda no número de passageiros, o sistema enfrenta dificuldades crônicas para equilibrar qualidade, remuneração adequada e sustentabilidade financeira.
Para o urbanista Carlos Torres Freitas, professor da UFG e especialista em mobilidade urbana, a judicialização do dissídio é um sintoma do esgotamento do atual modelo. “A negociação direta não avança porque os agentes econômicos atuam com margens estreitas, e o Estado evita assumir compromissos mais amplos. A consequência é o impasse permanente”, explica.
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