5 de dezembro de 2025
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Tarifaço dos EUA ameaça R$ 1,3 bilhão do PIB goiano: impacto se espalha por cadeias produtivas e desafia resposta do Estado

Medidas protecionistas do governo norte-americano afetam exportações goianas de carnes e açúcar, com reflexos em setores estratégicos da economia estadual. Estudo do IMB detalha efeitos em cascata e empresários cobram ações mais estruturadas do governo federal.
Governador Ronaldo Caiado com integrantes do setor produtivo na apresentação de medidas para proteger a economia goiana. (Wesley Costa / O Popular)

A recente imposição de tarifas de até 50% pelos Estados Unidos sobre produtos brasileiros ameaça provocar um recuo de R$ 1,36 bilhão no Produto Interno Bruto (PIB) de Goiás, segundo projeções do Instituto Mauro Borges (IMB) e da Federação das Indústrias do Estado de Goiás (Fieg), com suporte da Confederação Nacional da Indústria (CNI). O impacto atinge diretamente as exportações de carne bovina e açúcar, produtos líderes da pauta goiana nos embarques para o mercado norte-americano, e se estende indiretamente a diversas cadeias produtivas e logísticas.

A medida, que consta de um decreto do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump, reacende preocupações com o protecionismo comercial em meio às tensões geopolíticas globais. Apesar de isenções concedidas a 694 produtos brasileiros, itens estratégicos para Goiás — como carnes in natura e açúcar orgânico — foram mantidos na lista de taxação máxima, frustrando expectativas do setor produtivo local.


Carnes e açúcar: os pilares em risco

Dados consolidados pelo IMB mostram que a carne bovina fresca, refrigerada ou congelada lidera as exportações goianas para os Estados Unidos, com US$ 152,7 milhões embarcados em 2024. O açúcar e os melaços aparecem na sequência, com US$ 80,8 milhões, seguidos por couro (US$ 20,1 milhões), café não torrado (US$ 11,6 milhões) e óleos e gorduras animais (US$ 8,6 milhões).

“O efeito direto é sobre empresas que exportam esses produtos, mas o impacto indireto se espalha para outros setores fundamentais da economia goiana”, afirma Erik Figueiredo, diretor executivo do IMB. Segundo ele, o estudo se baseia em uma matriz de insumo-produto, modelo econométrico que mapeia as interligações entre setores e estima os efeitos em cascata de choques econômicos.

A estimativa do IMB aponta para uma retração de até R$ 340,1 milhões no PIB goiano apenas nas cadeias de carne, laticínios e pesca, sem considerar os efeitos difusos em transporte terrestre, comércio, energia, insumos agropecuários e serviços especializados.


Setor produtivo: entre frustração e adaptação

Para o presidente da Fieg, André Rocha, a exclusão de carnes e açúcar das isenções anunciadas foi um revés significativo. “Houve ganho parcial para o Brasil, mas Goiás permanece no cerne do problema. Estimamos que o impacto final pode superar R$ 1,4 bilhão, e isso exige um novo tipo de reação”, afirmou, sinalizando articulações com o governo estadual e a CNI para ampliar mecanismos de crédito e suporte.

Na agricultura, os efeitos já são sentidos com força. O presidente da Faeg, José Mário Schreiner, diz que cerca de US$ 248 milhões em exportações anuais do agro goiano estão sob risco imediato. “Frigoríficos já pararam produções, e o setor está buscando novos mercados, mas isso leva tempo”, declarou ao POPUL@R, destacando a morosidade da reação federal: “Falta articulação em Brasília. O governo estadual tem se movimentado, mas está limitado.”


Resposta estadual: crédito pontual e atuação seletiva

O governo estadual, por meio do secretário da Economia, Francisco Sérvulo, descarta um pacote generalizado de apoio e afirma que as ações serão personalizadas, a partir de demandas específicas de empresas mais vulneráveis ao mercado norte-americano.

“Estamos atuando caso a caso. A maior medida já está em vigor, com o Fundeq e o Fundep oferecendo empréstimos ponte com equalização de juros para empresas com grande exposição às exportações para os EUA”, explica. Ele cita solicitações de apoio feitas por empresas de ração animal e de carne de tilápia, altamente dependentes daquele mercado.

A posição do Estado, no entanto, é limitada. “Não temos condições de socorrer conglomerados de grande escala. Estamos focando nas empresas que não têm acesso a outras ferramentas de mitigação”, conclui.


Especialistas alertam para endividamento futuro

Apesar dos esforços locais, economistas apontam riscos na adoção de políticas de crédito emergenciais. Para o especialista em finanças Marcus Antônio Teodoro, a solução via endividamento deve ser encarada com cautela. “A medida resolve o problema de fluxo de caixa no curto prazo, mas compromete a capacidade de pagamento no futuro. O setor pode sair ainda mais fragilizado se não houver um plano estrutural de redirecionamento de mercado”, alerta.


Um desafio que transcende Goiás

A crise evidenciada pelo tarifaço revela a fragilidade do agro e da indústria nacional diante das oscilações comerciais globais. Goiás, por sua vocação exportadora em proteínas e derivados, sente com mais intensidade os efeitos do protecionismo. Sem uma política federal coordenada de defesa comercial, estados como Goiás permanecem vulneráveis às decisões de grandes potências, com poucas alternativas imediatas de compensação.

Embora haja otimismo moderado quanto à readequação de mercados, o momento exige ação coordenada e estratégica — algo que, até agora, tem sido insuficiente. Como define José Mário Schreiner: “O mercado se adapta. Mas no meio do caminho, muitos ficam pelo acostamento.”

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Marcus

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