Sem anestesiologistas, Maternidade Nascer Cidadão suspende atendimentos em Goiânia
Unidade interrompe serviços após rompimento com cooperativa de médicos; dívida de mais de R$ 1,4 milhão motivou paralisação, e gestantes enfrentam incerteza sobre assistência
A Maternidade Nascer Cidadão, referência em partos de média complexidade em Goiânia, suspendeu todos os atendimentos na noite desta quinta-feira (21), após a saída dos médicos anestesiologistas responsáveis pelos procedimentos da unidade. A decisão, comunicada pela Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc), expôs um impasse financeiro com a Cooperativa dos Médicos Anestesiologistas do Estado de Goiás (Coopanest-GO), que cobra uma dívida acumulada de R$ 1.431.967,53, referente a serviços prestados desde setembro de 2024.
O diretor técnico da maternidade, Harley Ricardo Rodrigues, formalizou a suspensão em ofício, argumentando que, sem anestesiologistas, não seria possível garantir a segurança de gestantes e recém-nascidos em casos que exigem analgesia, cesarianas ou procedimentos emergenciais. A decisão foi amparada no Código de Ética Médica, que orienta a suspensão de atividades quando não há condições mínimas de assistência segura.
A crise do contrato
Em nota, a Coopanest-GO afirmou que a paralisação é resultado do descumprimento de obrigações financeiras por parte da Fundahc. A cooperativa ressaltou que manteve os serviços ativos por quase um ano, mesmo diante do não pagamento.
“O atendimento só foi interrompido agora diante da completa ausência de propostas para a negociação da dívida. Nossos médicos sempre demonstraram respeito à população, mas não há como manter a escala sem qualquer perspectiva de regularização”, declarou a entidade.
A cooperativa havia notificado a Fundahc de que a interrupção ocorreria em 15 de agosto, mas adiou o prazo na expectativa de que a dívida fosse renegociada. Sem avanços, a paralisação se tornou inevitável.
Impactos imediatos
A suspensão atinge diretamente partos normais e cesarianas, além de procedimentos como curetagem uterina, todos dependentes de anestesia. Em resposta, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) informou ter deslocado equipes técnicas à maternidade para avaliar os casos em andamento e redirecionar pacientes a outras unidades da rede.
“Estamos reorganizando os fluxos de atendimento para garantir que nenhuma gestante fique sem assistência”, disse a pasta em nota oficial.
Apesar da medida emergencial, não há definição sobre a retomada das atividades na Nascer Cidadão. Enquanto o impasse financeiro permanece, mulheres que buscariam atendimento na unidade precisarão ser encaminhadas a hospitais da capital que já enfrentam alta demanda, como o Hospital Materno-Infantil.
O que está em jogo
A crise escancara a fragilidade da relação contratual entre a Fundahc e a Coopanest-GO, além de revelar os efeitos imediatos de atrasos de repasses públicos na assistência básica à população. A maternidade, construída para ser referência em partos humanizados, passa a simbolizar a dificuldade de gestão em áreas essenciais da saúde.
Especialistas ouvidos pela reportagem avaliam que a ausência de anestesiologistas compromete a qualidade e a segurança do atendimento, já que procedimentos obstétricos frequentemente envolvem intercorrências que exigem resposta imediata.
Sem acordo à vista, a resolução dependerá da capacidade da prefeitura de Goiânia em honrar os compromissos financeiros ou firmar um novo modelo de contratação que assegure a continuidade dos serviços.
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