Secretário suspeito de desviar R$ 4,8 milhões em Palmelo deixa bens como “garantia” na prefeitura
Exonerado, Gilmar Martins Dias Júnior teria falsificado extratos bancários por mais de um ano para ocultar desvios sistemáticos. Polícia Civil apura o caso.
O município de Palmelo, no sudeste de Goiás, tornou-se centro de uma investigação que envolve o suposto desvio de ao menos R$ 4,8 milhões dos cofres públicos, atribuídos ao ex-secretário de Finanças, Gilmar Martins Dias Júnior. Segundo o prefeito Renato Damásio Resende (Podemos), o ex-servidor entregou à administração pública um carro de luxo e a escritura de um imóvel, antes de desaparecer.
A suspeita, segundo a atual gestão, surgiu após a constatação de um padrão de vida incompatível com o salário de Gilmar, que recebia R$ 5 mil mensais. O prefeito relata que o então secretário teria passado a circular com veículos avaliados em até R$ 500 mil, além de demonstrar envolvimento em transações imobiliárias e comerciais de alto valor.
A investigação inicial revelou que o ex-secretário teria utilizado um esquema baseado na manipulação de credenciais bancárias duplas para realizar os desvios. O sistema exigia duas senhas para a liberação de pagamentos — uma dele próprio e outra de servidores distintos. Segundo o prefeito, Gilmar solicitava rotineiramente o bloqueio das senhas dos colegas, obtendo novas credenciais para operar sozinho.
— “Ele enganava a equipe técnica e a contabilidade com extratos bancários falsificados, perfeitamente replicados em aparência ao documento oficial do banco. Com isso, os balancetes eram fechados sem levantar suspeitas imediatas”, afirmou Damásio.
O caso, segundo o chefe do Executivo municipal, vem ocorrendo há pelo menos 15 meses. O suposto esquema só foi descoberto após denúncias informais sobre a ostentação do ex-secretário. Uma apuração interna rápida já identificou, segundo o prefeito, movimentações suspeitas de aproximadamente R$ 2 milhões. Após as primeiras suspeitas, a prefeitura acionou a Polícia Civil, o Ministério Público e o Poder Judiciário, além de bloquear imediatamente as contas municipais.
A Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra a Administração Pública (Dercap) conduz a investigação. Em nota oficial, a Polícia Civil informou que as diligências estão em andamento e que o inquérito corre em sigilo, diante da gravidade dos indícios e do valor potencialmente desviado.
A defesa de Gilmar nega as acusações. Por meio de nota, seus representantes afirmam que ele “atua com lisura na administração pública desde 2017” e que é “vítima de perseguição política, sendo indevidamente transformado em bode expiatório”. Afirmam ainda que o ex-secretário apresentará sua versão dos fatos no momento oportuno, “com provas que desmentem as alegações feitas pela atual gestão”.
Trajetória no poder público
Gilmar Martins ingressou na Prefeitura de Palmelo em 2017, ocupando diferentes cargos comissionados em áreas financeiras e administrativas. Em fevereiro de 2024, foi nomeado secretário de Finanças, função na qual permaneceu até julho deste ano, quando foi exonerado após o início da apuração interna.
Apesar de Palmelo ter pouco mais de 2 mil habitantes e orçamento municipal limitado, a dimensão do caso acendeu alerta entre órgãos de controle estadual. O município, até o momento, tenta reaver parte dos valores desviados, tendo recuperado cerca de R$ 70 mil em espécie, além dos dois veículos supostamente adquiridos com verba pública.
A apuração continua, e novas diligências podem revelar outros nomes envolvidos na suposta fraude contábil que, segundo a prefeitura, foi planejada com sofisticação e regularidade.
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