Samir Xaud assume CBF e promete reestruturar calendário com no máximo 11 datas para Estaduais
Presidente eleito discursa por renovação, transparência e fortalecimento institucional, anuncia foco em fair play financeiro, arbitragem profissionalizada e criação da liga de clubes. Promessa de mudanças já gera dúvidas sobre viabilidade e apoio político.

A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem um novo presidente. Samir de Araújo Xaud, advogado de 41 anos, foi eleito neste domingo (25) com promessas ambiciosas de reformular o calendário nacional, reduzir o peso dos campeonatos estaduais — que passariam a ter no máximo 11 datas — e modernizar a governança da entidade. Sua eleição, com 103 votos entre os 46 colégios eleitorais presentes, consolida a influência de uma coalizão de federações estaduais e clubes médios, interessados em oxigenar os bastidores da CBF, mas sem abrir mão de seus interesses regionais.
Xaud sucede Ednaldo Rodrigues, destituído judicialmente no fim de 2024. Em seu primeiro pronunciamento, adotou tom conciliador e institucional. “Não cheguei até aqui sozinho. Essa será uma gestão marcada por renovação e agregação”, disse, ao mesmo tempo em que reconheceu os avanços do antecessor. “As conquistas da última gestão são patrimônio do futebol brasileiro”, afirmou.
Um novo calendário com velhas tensões
A proposta mais ousada anunciada por Xaud foi a redução do calendário dos campeonatos estaduais para um máximo de 11 datas — uma fala que diverge do comunicado oficial da CBF, que mencionava 12. A diferença pode parecer pequena, mas é sintomática de uma das maiores fraturas do futebol nacional: a tensão entre clubes das séries A e B, que disputam o calendário com federações que vivem dos Estaduais.
“Vamos implementar imediatamente mudanças significativas, com respeito aos Estaduais, mas com foco na racionalização e na sustentabilidade da temporada”, afirmou. O presidente eleito fez questão de destacar que a redução de datas não significa esvaziamento: “Eles são fundamentais para a economia local, para revelar talentos e manter viva a identidade regional do nosso futebol”.
No entanto, bastidores revelam resistência. Pelo menos nove federações estaduais já sinalizaram preocupação com a perda de receitas e visibilidade. Clubes menores, que têm nos Estaduais sua principal — e por vezes única — fonte de renda, também veem o plano com ceticismo.
Fair play financeiro e arbitragem profissional
Xaud também prometeu modernizar o sistema de fair play financeiro, inspirando-se em modelos europeus. “Não podemos permitir que clubes gastem o que não têm. Teremos uma régua clara, transparente e justa”, declarou. A proposta inclui auditorias obrigatórias, punições mais severas e incentivos para práticas de boa gestão.
Outra prioridade será o investimento na profissionalização da arbitragem, com um novo centro de capacitação e avaliação constante dos quadros. A medida busca reduzir as recorrentes polêmicas que abalam a credibilidade do futebol brasileiro. Segundo fontes da nova diretoria, o objetivo é tornar o setor autônomo, com salários fixos e metas de desempenho.
A Liga e o desafio político
A criação de uma liga nacional de clubes, projeto que se arrasta há anos, volta à pauta. Mas agora sob a promessa de mediação da CBF, não mais como adversária do processo. “Vamos mediar e não bloquear. A Liga pode ser um instrumento moderno de comercialização e governança, se feita de forma transparente”, disse Xaud.
Contudo, líderes da Libra e da Liga Forte União, principais grupos de clubes que disputam o protagonismo da liga nacional, receberam a fala com cautela. A nova gestão será testada logo nos primeiros meses, com a discussão do calendário de 2026, em meio à janela internacional de transferências e aos preparativos para a Copa América.
Seleção Brasileira e o sonho do Hexa
Ao comentar sobre a seleção, Xaud reiterou apoio ao técnico Carlo Ancelotti e reforçou a missão de reconectar o torcedor com a “Amarelinha”. “Queremos que o povo volte a se emocionar com a Seleção. Que ela represente as cores do Brasil: amarelo, azul, verde e branco”, discursou.
O presidente encerrou o pronunciamento com um aceno à conquista do hexacampeonato mundial, sonho que parece distante, mas que ainda mobiliza paixões.
Quem é Samir Xaud?
Desconhecido do grande público até poucos anos atrás, Samir Xaud fez carreira como advogado e dirigente da Federação de Roraima, seu estado natal. Foi assessor jurídico da própria CBF e tem bom trânsito entre as federações do Norte e Nordeste. Nos bastidores, é visto como nome de consenso entre forças antes rivais, principalmente após a crise política que destituiu Ednaldo Rodrigues.
Além dele, foram eleitos oito vice-presidentes, incluindo nomes tradicionais como Fernando Sarney e Michelle Ramalho, representando o equilíbrio entre renovação e manutenção de antigas forças.
Com promessas audaciosas e discurso conciliador, Xaud inicia sua gestão com desafios colossais. Reduzir o calendário, modernizar a gestão e unificar interesses historicamente antagônicos será, no mínimo, um teste de habilidade política. Afinal, a bola, no Brasil, continua sendo muito mais do que um jogo. É poder, identidade e economia.
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