Roubos, furtos e adulteração de fertilizantes impõem prejuízo de R$ 40 milhões e expõem vulnerabilidade logística no setor
Levantamento da ANDA revela avanço de crimes e fraudes na cadeia de adubos, concentração de ocorrências em rotas estratégicas e pressão crescente sobre transportadoras para reforçar programas de gerenciamento de riscos.

O mercado brasileiro de fertilizantes enfrenta um cenário crítico, marcado pelo avanço de crimes e irregularidades que desafiam a segurança das operações logísticas e pressionam toda a cadeia produtiva. Dados consolidados pela Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) mostram que, entre janeiro de 2021 e dezembro de 2024, roubos, furtos e adulterações de produtos causaram perdas superiores a R$ 40 milhões — um índice que revela a intensidade e a persistência do problema.
A adulteração permanece como o principal vetor de prejuízo. Nos últimos quatro anos, foram registrados 248 casos, totalizando R$ 26,9 milhões em perdas. Após redução expressiva entre 2021 e 2022, o crime voltou a crescer e registrou aumento de 57% em 2024. A maior parte dos registros envolve produtos originados do Porto de Paranaguá, um dos mais relevantes corredores de distribuição de fertilizantes do país e rota estratégica para a distribuição de cargas a longas distâncias.
Os roubos e furtos também exercem pressão crescente. De 2021 a 2024, ocorreram 222 eventos desse tipo, e 2024 marcou um salto significativo: os registros dobraram, passando de 29 para 58 ocorrências. O mapeamento geográfico evidencia forte concentração no Nordeste e no Norte. Maranhão, Pará, Mato Grosso e Paraná responderam por 91% dos casos registrados no ano passado, com o Maranhão isoladamente concentrando 70% das ocorrências — grande parte delas associada a cargas provenientes do Porto do Itaqui.
Especialistas que participaram do webinar promovido pela ANDA destacaram que esse quadro afeta diretamente a segurança alimentar, a produtividade e os custos do agronegócio nacional, já que os fertilizantes são um insumo estratégico para a sustentação do desempenho agrícola brasileiro. A combinação entre perdas financeiras, riscos operacionais e fragilidades de fiscalização indica a necessidade urgente de respostas coordenadas entre empresas, transportadoras e poder público.
Transportadoras ampliam estratégias de mitigação de riscos
Durante o encontro, a gerente de riscos da EuroChem, Ana Paula Andriolli, reforçou que o setor tem ampliado significativamente o investimento em programas de gerenciamento de riscos. Entre os eixos prioritários adotados por transportadoras e embarcadores estão o monitoramento de rotas em tempo real, a qualificação rigorosa de motoristas e o rastreamento contínuo das cargas.
Tecnologias como telemetria avançada e dispositivos de Internet das Coisas (IoT) já são consideradas essenciais para identificar desvios de percurso, avaliar o comportamento dos condutores e detectar alterações no estado da carga. Essas soluções, combinadas a protocolos preventivos e simulações de risco, reduzem a ocorrência de sinistros e fortalecem a confiabilidade das operações.
Ana Paula observa que empresas que consolidam práticas robustas de prevenção tendem a reduzir custos operacionais, melhorar a percepção de segurança junto ao mercado e negociar condições mais vantajosas com seguradoras. Além disso, a adoção de soluções tecnológicas promove ganhos de eficiência e impulsiona a modernização do setor logístico como um todo.
Dependência das rodovias agrava riscos e custos
O gerente de logística da EuroChem, Kleyton Bandeira, chamou atenção para um entrave estrutural que potencializa os problemas: a dependência quase absoluta do transporte rodoviário. Entre 2010 e 2024, 86% dos fertilizantes distribuídos no país seguiram por estradas, enquanto apenas 14% utilizaram ferrovias. A baixa eficiência da malha ferroviária e a precariedade de parte das rodovias resultam em percursos mais longos, custos elevados e maior exposição a riscos.
Entre 2010 e 2022, o custo do transporte de fertilizantes aumentou 21%, impactado pelo preço dos combustíveis, pela extensão das rotas e pelas condições de infraestrutura. Essa combinação cria ambiente favorável para acidentes, desvios, fraudes e adulterações — problemas que comprometem a qualidade técnica do produto e a confiabilidade da cadeia de suprimentos.
Segundo Bandeira, o crescimento de 450% na demanda nacional pelo insumo, em duas décadas, aliado à elevação das importações, reforça que garantir segurança e eficiência logística tornou-se tão estratégico quanto assegurar a oferta dos produtos. Ele observa que, para um país que figura entre os maiores produtores de grãos do mundo, proteger o fluxo de fertilizantes significa proteger a base da competitividade agrícola.
Setor cobra integração e rastreabilidade mais rigorosa
O panorama apresentado pela ANDA fortalece a percepção de que o combate à adulteração e ao roubo de cargas exige uma ação integrada, que envolva empresas, transportadoras, seguradoras e órgãos de segurança pública. Entre as medidas discutidas estão o fortalecimento da rastreabilidade dos produtos, a padronização de auditorias de qualidade, o compartilhamento de dados sobre ocorrências e o aprimoramento das práticas logísticas, especialmente nas rotas mais vulneráveis.
Para o setor, a mitigação de riscos não é apenas uma necessidade operacional, mas um imperativo estratégico para assegurar estabilidade, previsibilidade e competitividade a um dos pilares da economia brasileira.
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