Reestruturação da Comurg avança lentamente: apenas 12% dos recursos previstos foram repassados pela Prefeitura
Plano de recuperação financeira da Companhia de Urbanização de Goiânia enfrenta atrasos nos repasses e recalculação de rescisões, comprometendo cronograma de desligamentos e metas de sustentabilidade

A reorganização administrativa e financeira da Comurg (Companhia de Urbanização de Goiânia), considerada essencial para a sobrevivência da estatal, começa com sinal de alerta. Até o dia 20 de maio, apenas R$ 23,3 milhões foram repassados pela Prefeitura, o que representa pouco mais de 12% do montante total prometido para este ano: R$ 190 milhões.
O plano de reestruturação, aprovado em fevereiro, previa um cronograma agressivo para o enxugamento da folha, desligamentos voluntários e quitação de dívidas históricas. No entanto, o atraso nos repasses e falhas na estimativa das rescisões trabalhistas travaram a primeira etapa, frustrando expectativas internas e da gestão do prefeito Sandro Mabel (UB).
Cortes, mas sem desligamentos
Segundo o cronograma inicial, a Comurg deveria ter recebido R$ 19,2 milhões até maio, divididos entre duas parcelas, para dar início às rescisões de 360 trabalhadores aptos à aposentadoria. Embora o recurso esteja assegurado no plano, o valor não foi repassado integralmente porque os cálculos das rescisões precisaram ser refeitos.
A alegação da diretoria é a de que houve inconsistências na contabilidade, o que demandou uma revisão minuciosa das verbas rescisórias, sob pena de judicialização futura. Enquanto isso, o plano de desligamentos — considerado um dos pilares para viabilizar a empresa — permanece em compasso de espera.
Folha reduzida em R$ 42 milhões, mas equilíbrio ainda é meta distante
Apesar do travamento em algumas frentes, a Comurg já colhe resultados financeiros relevantes. A empresa conseguiu reduzir em 33% a folha de pagamento no primeiro trimestre de 2025, uma economia de aproximadamente R$ 42 milhões em relação ao mesmo período do ano anterior.
Esse enxugamento se deve, sobretudo, à eliminação de 77% dos cargos comissionados — de 532 para 102 — e ao corte de gratificações e funções de chefia. A atual diretoria garante que os salários de concursados e trabalhadores de carreira não foram afetados, resguardando a operacionalidade da estatal.
Metas futuras e vigilância do TCM
A expectativa da gestão Mabel é que, com os ajustes em curso, a Comurg alcance superávit já em outubro deste ano. O prefeito afirma que os cortes implementados já estão gerando uma economia mensal de R$ 30 milhões aos cofres públicos.
O plano de reestruturação prevê, além dos R$ 100 milhões para rescisões, R$ 45,3 milhões para pagamento de precatórios e R$ 45,2 milhões para cobrir déficits operacionais. Todos os valores, no entanto, estão condicionados à comprovação dos gastos e ao avanço real das metas estabelecidas.
O Tribunal de Contas dos Municípios (TCM-GO) acompanha o processo de perto e já avisou: a partir de 2025, as dívidas da Comurg passarão a ser contabilizadas como responsabilidade direta da Prefeitura, elevando a pressão por resultados concretos e equilíbrio fiscal.
Transparência e confiança em jogo
Para especialistas em administração pública, a recuperação da Comurg não depende apenas de cortes ou repasses pontuais. A credibilidade da empresa e da gestão municipal está atrelada à execução rigorosa e transparente do plano, com foco na sustentabilidade a longo prazo e na melhoria dos serviços urbanos.
Enquanto isso, Goiânia observa com expectativa e ceticismo o desfecho de uma reestruturação que pode se tornar exemplo de recuperação ou mais um caso de colapso anunciado no setor público.
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