Pressão por instalação da CEI do Limpa Gyn expõe racha entre Paço e Câmara Municipal
Prefeito Sandro Mabel mantém postura de enfrentamento e vereadores avaliam riscos políticos diante da iminência da comissão de inquérito sobre contratos de limpeza urbana em Goiânia

A criação da Comissão Especial de Inquérito (CEI) do Limpa Gyn, que pretende investigar contratos e serviços de coleta de resíduos sólidos em Goiânia, tornou-se o principal ponto de tensão entre o Executivo e a Câmara Municipal. Em reunião realizada nesta segunda-feira (18), no Paço, o prefeito Sandro Mabel (União Brasil) manteve o tom de confronto com os vereadores e reiterou que não pretende negociar a retirada de assinaturas do requerimento que viabiliza a investigação.
Segundo relatos de parlamentares presentes, Mabel chegou a afirmar que “já não se importa mais com a instalação da CEI”, sinalizando que, se a comissão for instaurada, poderá inclusive colaborar com seus trabalhos. O recado foi interpretado como uma estratégia de endurecimento diante da pressão política, contrastando com a prática de seu antecessor, Rogério Cruz (SD), que adotava acordos para conter crises com o Legislativo.
Clima de insatisfação na Câmara
A fala do prefeito ampliou o desconforto entre os vereadores, que aproveitaram o encontro para reiterar queixas antigas contra o Executivo, como a falta de acesso a secretários, atrasos no pagamento de emendas impositivas e demora na efetivação de nomeações políticas. Nos bastidores, cresce a percepção de que a CEI, inicialmente vista como instrumento de pressão para destravar demandas corporativas, pode ganhar corpo e se tornar um elemento de desgaste para ambas as partes.
Parlamentares chegaram a discutir a possibilidade de sobrestar a comissão por 60 dias, sob o argumento de avaliar os resultados da coleta feita pelo consórcio. No entanto, a proposta foi rapidamente descartada, diante do receio de que a manobra fosse interpretada como recuo ou negociação com o Paço.
Estratégia do Executivo
Apesar do discurso de indiferença, Mabel intensificou nos últimos dias os esforços para enfraquecer o movimento. Durante o recesso legislativo, ligou individualmente para vereadores, promoveu um almoço no Paço e chegou a convidar os 37 parlamentares para uma visita à sede do Consórcio Limpa Gyn. O objetivo foi reconstruir pontes e tentar desmobilizar o grupo de 16 vereadores — entre independentes e aliados da base — que assinaram o requerimento.
Ainda há expectativa de que parte desses parlamentares possa recuar, retirando suas assinaturas antes da publicação oficial do pedido no Diário Oficial do Município (DOM).
Parecer jurídico e impasse político
Horas antes da reunião, a Procuradoria-Geral da Câmara emitiu parecer contrário à participação do líder do governo, Igor Franco (MDB), como membro da comissão. O documento, assinado pelo procurador-geral Kowalsky Ribeiro, sustenta que a presença do líder governista desvirtua a finalidade da CEI, concebida como instrumento de minoria parlamentar. O parecer, entretanto, tem caráter apenas opinativo e não inviabiliza juridicamente a comissão.
Para aliados do prefeito, a permanência de Franco como líder tornou-se insustentável, e sua eventual saída já é tratada como “questão de tempo”.
Próximos passos
Com o parecer emitido, o presidente da Câmara, Romário Policarpo (PRD), deve encaminhar o requerimento para publicação no DOM, ato que oficializa o processo. Após esse passo, as lideranças partidárias terão 48 horas para indicar os membros da comissão, respeitando a proporcionalidade das bancadas.
Policarpo, contudo, mantém cautela. Em declarações recentes, disse ter reservas quanto à efetividade de comissões de inquérito, lembrando que experiências anteriores não trouxeram resultados concretos à população. Essa postura é interpretada como tentativa de “ganhar tempo” e construir uma saída política menos traumática.
Um teste de força
A disputa em torno da CEI do Limpa Gyn se consolidou como o primeiro grande teste da gestão Mabel na relação com a Câmara Municipal. Ao mesmo tempo em que a oposição vê na comissão uma oportunidade de fiscalização, a base governista enfrenta dilemas entre manter a lealdade ao prefeito ou preservar espaço político em ano pré-eleitoral.
Nos próximos dias, a indefinição sobre a instalação ou não da comissão deverá evidenciar até onde vai a disposição de Mabel em manter o confronto e até onde os vereadores estão dispostos a sustentar a pressão sem comprometer suas próprias agendas.
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