Preso em Goiás mandante da chacina que deixou oito mortos em garimpo na divisa entre Amapá e Pará
Investigação aponta envolvimento de policiais militares e uso de violência armada em disputa por área de garimpo ilegal; operação mobilizou forças estaduais e federais
Um homem de 46 anos, identificado como o suposto mandante da chacina que resultou na morte de oito pessoas em um garimpo ilegal na fronteira entre o Amapá e o Pará, foi preso no sábado (16), em Samambaia, no Distrito Federal, durante operação coordenada pela Polícia Civil de Goiás (PC-GO) em parceria com forças federais e estaduais. O crime, ocorrido no dia 4 deste mês, chocou o país não apenas pela brutalidade, mas também pelo envolvimento de agentes públicos no massacre.
Segundo as investigações conduzidas pela Polícia Civil do Amapá (PC-AP), além do mandante, cinco policiais militares, um guarda civil municipal e um garimpeiro teriam participado da execução. Outro homem também foi preso neste fim de semana, suspeito de ter favorecido a fuga do principal investigado.
A operação que resultou nas prisões — denominada Operação Integrada — envolveu equipes especializadas da Polícia Civil goiana, como o Grupo Antissequestro, o Grupo Especial de Investigação Criminal de Luziânia, a Delegacia Estadual de Investigação de Homicídios, além de apoio logístico da Central de Flagrantes e do Pronto Atendimento ao Cidadão. A ação contou ainda com suporte do Laboratório de Operações Cibernéticas do Ministério da Justiça e Segurança Pública.
Para o secretário nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, a prisão representa um marco no enfrentamento do crime organizado em áreas de exploração mineral ilegal:
“Quando União e estados atuam de forma articulada, os resultados são expressivos. Essa operação demonstra a força de um trabalho conjunto diante de um crime de grande repercussão nacional”, afirmou.
Contexto da chacina
De acordo com a apuração da PC-AP, o ataque ocorreu em uma área de garimpo ilegal às margens do rio Jari, região marcada por conflitos territoriais e disputas armadas pelo controle da extração de ouro. Nove garimpeiros foram surpreendidos por homens armados enquanto negociavam a compra de terras.
A principal linha de investigação aponta que as vítimas podem ter sido confundidas com assaltantes de ouro que vinham atuando na região dias antes. A execução foi caracterizada por violência extrema: os corpos foram encontrados em diferentes pontos da mata e do rio, e veículos utilizados pelo grupo foram incendiados, evidenciando tentativa de ocultação de provas.
As vítimas
As oito vítimas foram identificadas como:
- Antônio Paulo da Silva Santos, o “Toninho”, 61 anos, de Cedro (MA);
- Dhony Dalton Clotilde Neres, o “Bofinho”, 35 anos, de Itaituba (PA), garimpeiro legalizado em Calçoene (AP);
- Elison Pereira de Aquino, o “Dinho”, 23 anos, de Laranjal do Jari (AP), trabalhava no transporte de combustível; deixou esposa grávida;
- Gustavo Gomes Pereira, o “Gustavinho”, 30 anos, de Ourilândia do Norte (PA), residia em Macapá, casado e pai de um bebê de 1 ano; não tinha vínculo com o garimpo;
- Jânio Carvalho de Castro, o “Jane”, natural de Bom Jesus do Tocantins (PA), garimpeiro legalizado em Calçoene (AP);
- José Nilson de Moura, o “Zé Doido”, 38 anos, de Lagoa da Pedra (MA);
- Luciclei Caldas Duarte, o “Tripa”, 39 anos, de Laranjal do Jari (AP), piloto de motor usado pelo grupo;
- Paulo Felipe Galvão Dias, 30 anos, de Capitão Poço (PA).
O caso permanece sob investigação da Polícia Civil do Amapá, com apoio da Polícia Federal e do Ministério da Justiça, que acompanham a apuração em razão da gravidade e das possíveis ramificações do crime.
Um retrato da violência no garimpo
A chacina expõe novamente os riscos da expansão desordenada do garimpo ilegal na Amazônia, onde conflitos armados, envolvimento de agentes públicos e facções criminosas se sobrepõem às fragilidades do Estado. Organizações de direitos humanos têm alertado que áreas de mineração irregular se tornaram zonas de disputa letal, em que trabalhadores, lideranças comunitárias e até famílias inteiras ficam expostos à violência.
O mandante e os demais investigados devem responder por homicídio qualificado, associação criminosa e ocultação de cadáver, além de possíveis crimes conexos relacionados à atividade garimpeira ilegal.
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