Prefeitura de Goiânia Retoma Uso de Fichas de Papel no Combate à Dengue Após Rescisão de Contrato de Tablets
Decisão visa contenção de gastos, mas levanta preocupações sobre eficiência no monitoramento de endemias.

A Prefeitura de Goiânia determinou que os agentes de combate às endemias (ACEs) voltem a utilizar fichas de papel para registrar visitas domiciliares no combate à dengue. A mudança ocorre após a rescisão do contrato com a empresa Horizon Inovação e Tecnologia, que fornecia tablets para a coleta de dados em tempo real.
A decisão, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), visa reduzir custos operacionais, mas levanta preocupações sobre a eficiência e transparência no monitoramento da proliferação do Aedes aegypti. O sistema estadual que centraliza informações sobre endemias não recebe atualizações de Goiânia há cinco meses, dificultando a análise e a estratégia de combate ao mosquito.
Mudança e Impactos na Fiscalização
Em fevereiro de 2024, a Prefeitura assinou um contrato de R$ 3,5 milhões com a Horizon Inovação e Tecnologia para modernizar a fiscalização contra a dengue. O uso de tablets permitia que as informações fossem registradas digitalmente e georreferenciadas, agilizando o trabalho dos agentes e integrando dados epidemiológicos.
Contudo, o contrato foi encerrado em 24 de março de 2025, e a SMS determinou a devolução dos dispositivos eletrônicos. Agora, os agentes voltam a preencher fichas manualmente, o que pode gerar lentidão no processamento de dados e aumentar a margem de erro nas informações.
A SMS argumenta que a medida não prejudicará o serviço, pois as visitas seguem como prioridade da atual gestão. No entanto, até o momento, a pasta não apresentou uma alternativa digital gratuita, como o e-SUS Território, desenvolvido pelo Ministério da Saúde.
Divergências nos Dados e Falta de Transparência
A Prefeitura afirma ter realizado 925,8 mil visitas domiciliares nos primeiros três meses de 2025, sendo que:
788,5 mil imóveis foram inspecionados
145,5 mil estavam fechados
13,1 mil apresentavam focos do Aedes aegypti
Entretanto, essas informações não foram lançadas no Sistema Integrado de Monitoramento Aedes Zero (Simaz), do governo estadual. A última atualização feita pelo município no sistema ocorreu em outubro de 2024, quando foram registradas apenas 559 visitas.
A Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO) enfatizou que a adesão ao Simaz é voluntária, mas reforçou que a ausência de dados compromete o planejamento e a eficácia das ações de combate à dengue, zika e chikungunya.
“O fornecimento contínuo de informações permite um acompanhamento preciso da disseminação do mosquito, facilitando a adoção de medidas preventivas e emergenciais”, destacou a SES-GO.
Prefeitura Inicia Vistorias Compulsórias
Além da mudança nos registros, a Prefeitura de Goiânia iniciou nesta quinta-feira (3) uma força-tarefa para vistoriar imóveis fechados e abandonados. A ação é realizada na Região Noroeste, que apresenta a maior taxa de infestação da capital, com 834 casos a cada 100 mil habitantes.
A operação envolve auditores da Vigilância Sanitária, ACEs, guardas civis e chaveiros para acessar propriedades desocupadas e eliminar possíveis focos do mosquito. A medida tem respaldo na Lei Federal 13.301/2016, que permite o ingresso forçado de agentes públicos em locais considerados de risco sanitário.
Até o momento, Goiânia registra:
8,3 mil casos confirmados de dengue em 2025
17 óbitos suspeitos (2 confirmados)
A SMS prometeu retomar a alimentação do Simaz e já iniciou a capacitação de sua equipe para integrar os dados ao sistema estadual.
O Que Diz a Empresa Horizon?
A Horizon lamentou o encerramento do contrato e afirmou que estava em fase de integração de dados entre o município e o Simaz. Segundo a empresa, essa etapa não estava prevista em contrato, mas havia sido iniciada devido à gravidade do aumento de casos de dengue.
“Nosso compromisso era facilitar o fluxo de informações entre agentes de saúde e gestores, garantindo eficiência no combate às endemias”, destacou a empresa em nota.
A decisão de retomar as fichas de papel levanta preocupações sobre a transparência e agilidade no combate à dengue em Goiânia. A falta de atualização no sistema estadual de monitoramento e a ausência de uma alternativa tecnológica gratuita podem comprometer a eficácia das ações.
Enquanto a SMS justifica a medida como uma contenção de gastos, especialistas alertam que a falta de um sistema digital atualizado pode resultar em respostas mais lentas e menos estratégicas no controle da doença.
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