Pecuarista é indiciada pela morte de 112 bovinos e abandono de mais de 200 animais em Santa Helena de Goiás
Investigação aponta desnutrição crônica causada por superlotação, falta de pastagem e descuido estrutural; área degradada comprometeu também nascentes próximas ao Rio Verdão

A Polícia Civil de Goiás indiciou uma pecuarista de Santa Helena de Goiás, no sudoeste do estado, pela morte de 112 bovinos por desnutrição crônica e pelo abandono de mais de 200 animais em condições precárias. A investigação, coordenada pelo delegado Luziano Carvalho, concluiu que a responsável deverá responder criminalmente por maus-tratos a animais e por dificultar a regeneração natural de nascentes, em área próxima ao Rio Verdão.
De acordo com a apuração, os animais estavam confinados em uma propriedade de 70 alqueires, dos quais apenas 30 estavam disponíveis para o rebanho. O restante da área havia sido arrendado para o plantio de soja e milho. A restrição de espaço, somada à degradação completa da pastagem, resultou em superlotação e na incapacidade de atender às necessidades nutricionais de mais de 320 cabeças de gado.
“Encontramos animais mortos às margens de nascentes, ossadas espalhadas pela fazenda e até carcaças dentro do curso d’água. Nunca havíamos registrado um caso tão cruel envolvendo um número tão elevado de animais”, relatou o delegado Luziano Carvalho.
Detalhes da investigação
A denúncia foi inicialmente apresentada pela Agência Goiana de Defesa Agropecuária (Agrodefesa) e, em julho, uma equipe da Polícia Civil encontrou 80 animais já mortos no local. A inspeção constatou que os bovinos sobreviventes eram alimentados apenas com palhadas de milho, material sem valor nutricional suficiente para sustento do gado.
O delegado destacou que a situação foi agravada pelo descaso estrutural: “Era muito gado para pouca área, sem capim, sem manejo adequado. O resultado foi morte por fome e sede.”
Um caseiro contratado pela proprietária chegou a declarar que não havia comida suficiente para alimentar todos os animais. Ainda assim, a pecuarista manteve a superlotação, o que levou ao quadro de sofrimento prolongado e às mortes por desnutrição severa.
Consequências legais e ambientais
Além da responsabilização criminal, a pecuarista deverá pagar uma multa de R$ 250 mil aplicada pelos órgãos de fiscalização. O caso também chamou a atenção da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Santa Helena de Goiás, que acompanhou a investigação e identificou prejuízos ambientais graves na região, incluindo a comprometida regeneração de nascentes próximas ao Rio Verdão, vitais para a biodiversidade local.
O inquérito agora segue para o Ministério Público de Goiás, que deve avaliar as medidas judiciais cabíveis, incluindo possível ação por crime ambiental.
Contexto e relevância
Casos de maus-tratos de grande porte em propriedades rurais expõem uma contradição no setor agropecuário goiano: enquanto o estado se destaca nacionalmente como polo de produção agroindustrial, situações de descaso revelam falhas estruturais em fiscalização, gestão de rebanho e responsabilidade ambiental.
Segundo especialistas, práticas como superlotação, arrendamento sem planejamento e ausência de manejo de pastagem não apenas violam o bem-estar animal, como também resultam em desequilíbrios ambientais e prejuízos econômicos a médio prazo.
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