Operação em Niquelândia revela extração ilegal de areia e desmatamento em área rural: Polícia Civil investiga crime ambiental com apoio técnico e institucional
Denúncia anônima levou à ação coordenada entre Polícia Civil, Polícia Técnico-Científica, Ministério Público e órgãos ambientais. Maquinário pesado operava sem licença em área de vegetação nativa suprimida. Laudo pericial vai embasar responsabilizações penais.
A Polícia Civil de Goiás deflagrou nesta quinta-feira (10), no município de Niquelândia, norte do estado, uma operação conjunta de combate a crimes ambientais na zona rural do município. A ação, motivada por denúncia anônima encaminhada pelo Ministério Público de Goiás (MP-GO), resultou na constatação de graves irregularidades ambientais, incluindo a supressão ilegal de vegetação nativa e a exploração clandestina de areia com uso de maquinário pesado.
A ofensiva foi coordenada pela Delegacia de Polícia de Niquelândia, vinculada à 18ª Delegacia Regional de Polícia (DRP), e contou com apoio de diversas unidades especializadas: a Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam), o Grupo Especial de Repressão a Narcóticos (Genarc), o Grupo de Investigação de Homicídios (GIH), além de técnicos da Polícia Técnico-Científica e representantes da Secretaria Municipal de Meio Ambiente.
Extração ilegal e dano ambiental grave
No local denunciado, os policiais encontraram máquinas pesadas em operação — incluindo escavadeiras e caminhões — realizando lavra clandestina de areia em área de proteção, sem qualquer tipo de autorização dos órgãos ambientais competentes, como a Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad) ou licenciamento junto ao Ibama.
Além da exploração mineral irregular, foi identificada a supressão significativa de vegetação nativa, o que configura crime ambiental tipificado na Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais). A área exata do dano ainda será determinada tecnicamente, mas, segundo os agentes envolvidos, os indícios de degradação são extensos.
Perícia técnica e investigação criminal
A Polícia Técnico-Científica realizou uma perícia ambiental detalhada no local, com levantamento de imagens, coleta de amostras do solo e georreferenciamento da área degradada. Um laudo técnico-ambiental está sendo elaborado e servirá como prova técnica no inquérito policial instaurado, que visa apurar com precisão as responsabilidades penais e administrativas dos envolvidos.
Ao menos seis indivíduos foram conduzidos à delegacia para prestarem depoimento. Nenhum deles apresentou documentação ambiental que justificasse a atividade em curso, o que reforça a tese de atividade clandestina organizada.
Operação multidisciplinar: repressão e prevenção
A operação se destaca pelo caráter multidisciplinar e preventivo, integrando esforços da segurança pública, controle ambiental e fiscalização do uso do solo. A atuação conjunta entre Polícia Civil, MP-GO, perícia e secretaria ambiental municipal indica um novo padrão de resposta às denúncias ambientais na região Norte de Goiás, onde há histórico de conflitos fundiários e pressão crescente sobre áreas preservadas, especialmente em zonas de mineração informal.
Fontes ligadas à investigação informaram que a área afetada está próxima a regiões de interesse ecológico e poderia impactar recursos hídricos locais — preocupação recorrente em municípios como Niquelândia, que abrigam nascentes e cursos d’água essenciais para o equilíbrio ambiental e o abastecimento urbano e rural.
Responsabilização e próximos passos
O delegado responsável pelo caso informou que o inquérito vai apurar os crimes de:
- Extração mineral sem licença (art. 55 da Lei de Crimes Ambientais);
- Dano direto à vegetação nativa (art. 38);
- Funcionamento de atividade potencialmente poluidora sem autorização (art. 60);
- Eventuais delitos correlatos, como formação de organização criminosa (art. 288 do Código Penal), caso fique comprovada atuação coordenada e reincidente.
Os equipamentos utilizados na exploração foram apreendidos e podem ser perdidos em favor da União ao final do processo, conforme prevê a legislação ambiental brasileira.
Contexto: exploração de areia e pressão sobre biomas goianos
A extração ilegal de areia é uma das formas mais recorrentes de degradação ambiental no Brasil, em especial em áreas próximas a rios e veredas, pela facilidade de acesso ao insumo e o alto valor comercial da matéria-prima usada na construção civil. Em Goiás, a prática é comum em municípios com fraca fiscalização e grande demanda por areia para abastecer polos urbanos em expansão.
Relatórios do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) e do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) já alertaram sobre o avanço da mineração irregular em regiões do Cerrado, bioma que cobre quase todo o território de Niquelândia e é considerado um dos mais ameaçados do país.
A operação representa uma resposta efetiva à crescente criminalidade ambiental que atinge áreas de preservação em Goiás, e reforça a necessidade de ações contínuas de fiscalização, repressão qualificada e responsabilização penal dos agentes envolvidos na degradação dos recursos naturais. O laudo técnico a ser apresentado nos próximos dias será crucial para embasar os autos do inquérito e possibilitar o oferecimento de denúncias pelo Ministério Público.
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