11 de dezembro de 2024
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Operação Desafino: MPGO desarticula esquema milionário de crimes cibernéticos contra compositores sertanejos

Investigações revelam uso de inteligência artificial para falsificar músicas e gerar lucros ilícitos, afetando mais de 400 canções e causando prejuízos superiores a R$ 6 milhões.
Suspeito fez uso de inteligência artificial para a prática dos crimes, por meio da criação de capas e emprego de músicas com voz feminina (Divulgação/MPGO)

O Ministério Público de Goiás (MPGO) deflagrou nesta quinta-feira (5) a Operação Desafino, uma ação coordenada para desarticular um esquema de crimes cibernéticos que explorava compositores, especialmente do gênero sertanejo. As investigações apontam que o golpe causou prejuízos estimados em mais de R$ 6 milhões, afetando mais de 400 canções, muitas delas com milhões de execuções em plataformas digitais.

O esquema operava de forma engenhosa: criminosos obtinham as guias – versões simplificadas das músicas – e as publicavam em plataformas de streaming com nomes de artistas falsos, criados com auxílio de inteligência artificial (IA). Essas músicas, graças à qualidade das composições, acumulavam milhares de reproduções, gerando receitas significativas, que eram desviadas para contas bancárias controladas pelos suspeitos.


O alcance do esquema e suas estratégias

De acordo com o CyberGaeco, grupo especializado em crimes cibernéticos, o esquema envolvia:

  • Criação de artistas falsos com perfis gerados por IA.
  • Capas repetidas e genéricas, desenvolvidas por softwares avançados.
  • Manipulação de algoritmos para aumentar artificialmente o número de reproduções nas plataformas.
  • Uso de vozes reais em guias gravadas por artistas renomados, publicadas sob nomes fictícios.

A ousadia era tamanha que até músicas de artistas nacionais reconhecidos foram incluídas no golpe. Em alguns casos, as canções mantinham o nome do compositor real dentro do arquivo submetido às plataformas, enquanto o crédito público era atribuído a nomes fictícios.


Desdobramentos da operação

Na operação, um suspeito foi preso no aeroporto de Passo Fundo (RS), após desembarcar de um voo oriundo de Guarulhos (SP). Outro mandado de busca foi cumprido em Recife (PE), onde foram apreendidos dezenas de notebooks, softwares de manipulação de streaming e outros equipamentos utilizados no esquema.

Além disso, houve o bloqueio de bens, incluindo imóveis, veículos e criptomoedas, no valor de R$ 2,3 milhões. A investigação segue em sigilo, mas já se sabe que os crimes apurados incluem violações de direitos autorais, falsa identidade e estelionato.


A origem da investigação

O caso veio à tona a partir de uma denúncia feita por uma das vítimas, corroborada por uma reportagem investigativa do UOL, que revelou indícios do esquema. A partir disso, o MPGO aprofundou as investigações, descobrindo que o golpe havia afetado um número expressivo de compositores e acumulado milhões de visualizações fraudulentas em plataformas de música.


O impacto no mercado musical

A Operação Desafino expõe uma nova faceta dos crimes cibernéticos no setor cultural. A utilização de inteligência artificial e a criação de identidades fictícias para explorar talentos reais não apenas prejudicam financeiramente os compositores, mas também questionam a integridade do mercado de streaming musical.

O MPGO reforçou que o trabalho continuará para identificar outros envolvidos no esquema e garantir que os direitos dos compositores sejam restaurados. Como afirmou um representante do órgão:
“A música é uma das expressões mais autênticas da cultura brasileira. Este golpe atinge não apenas o bolso, mas a alma dos artistas e da sociedade.”


A operação representa um marco no combate a crimes cibernéticos no Brasil, ressaltando a importância da proteção digital em um mercado cada vez mais dominado pela tecnologia.

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