O Invasor Invisível: Microplásticos Aumentam Risco de Câncer e Aceleram Progressão Tumoral, Revelam Pesquisas
Partículas presentes no ar, na água e na comida penetram em órgãos vitais, promovem inflamações crônicas e intensificam a agressividade de células cancerígenas. Especialistas alertam para um inimigo cotidiano que ameaça silenciosamente a saúde global.

O que parecia uma preocupação ambiental exclusiva dos oceanos agora se revela uma grave ameaça à saúde humana. Os microplásticos — partículas com menos de 5 milímetros de diâmetro — já foram detectados no sangue, na placenta, nos rins, no fígado, no leite materno e até nos pulmões. Segundo a oncologista clínica Ana Carolina Nobre, da Oncologia D’Or, essas partículas microscópicas, amplamente dispersas no planeta, não apenas se acumulam no organismo, mas também podem favorecer o surgimento e a progressão de diversos tipos de câncer.
Há exatas duas décadas e meia, a comunidade científica deu início à investigação dos efeitos do micro e nanoplástico sobre o corpo humano. Inicialmente vistos como passivos ambientais, eles hoje são considerados agentes ativos de risco biológico. As principais formas de exposição são alimentação, inalação de ar poluído e ingestão de água contaminada.
“Estudos mostram que o microplástico induz inflamação crônica, gera estresse oxidativo e compromete o sistema imunológico. Além disso, pode atuar como vetor para substâncias químicas altamente tóxicas, como metais pesados e hidrocarbonetos aromáticos policíclicos”, afirma Ana Carolina.
Esses compostos têm potencial mutagênico. Ou seja, interferem diretamente no DNA celular, favorecendo alterações genéticas que podem originar tumores ou potencializar os já existentes. “Há evidências de que microplásticos aceleram o processo de metástase, principalmente em tipos agressivos como o câncer de mama”, complementa a médica.
Microplásticos no organismo: um ciclo invisível, mas letal
De origem primária — produzidos deliberadamente em cosméticos e medicamentos — ou secundária — resultado da degradação de materiais plásticos no ambiente —, os microplásticos seguem um ciclo preocupante. Da indústria aos rios, dos mares ao prato: peixes, moluscos, sal marinho, água potável e até o ar que respiramos estão contaminados.
Estudos recentes publicados na Science of the Total Environment e na Environmental Health Perspectives revelaram a presença de microplásticos no interior de glóbulos brancos e plaquetas, alterando seu funcionamento e aumentando o risco de doenças hematológicas como leucemias e linfomas.
“A medula óssea, responsável por produzir células do sangue, está vulnerável. Quando atingida, desencadeia uma produção anormal de células, predispondo ao câncer”, diz Ana Carolina.
Outros órgãos, como os pulmões e o fígado, também são altamente impactados. O fígado, em especial, sofre com a acumulação de partículas e seus contaminantes, levando à fibrose hepática e ao aumento do risco de carcinoma hepatocelular.
Falta regulação, sobram riscos
Embora a ciência tenha avançado, a regulamentação global sobre microplásticos ainda é incipiente. O Parlamento Europeu começou a debater restrições a essas partículas, mas poucos países adotaram medidas eficazes para reduzir sua produção e dispersão.
O Brasil ainda carece de legislações específicas que limitem o uso de microplásticos em produtos de uso diário. Enquanto isso, a população permanece exposta a um risco crescente — e quase invisível.
O que fazer? Estratégias individuais para um problema coletivo
Apesar da ubiquidade do plástico, algumas atitudes podem reduzir a exposição individual:
- Evitar utensílios e embalagens plásticas, substituindo-os por vidro, inox ou cerâmica;
- Priorizar alimentos frescos e orgânicos, livres de embalagens e aditivos;
- Utilizar filtros de água de carvão ativado ou osmose reversa;
- Evitar o consumo de frutos do mar, em especial os de cadeias alimentares superiores;
- Optar por cosméticos naturais, com fórmulas livres de microesferas plásticas;
- Escolher roupas de fibras naturais, como algodão e linho, em vez de tecidos sintéticos que liberam partículas ao serem lavados.
“A mudança precisa começar na consciência. Cada escolha cotidiana conta. Ao reduzir a demanda por plásticos descartáveis e por produtos industrializados, reduzimos a quantidade de microplásticos em circulação no planeta e, consequentemente, os impactos sobre nossa saúde”, finaliza a oncologista.
A ciência ainda não possui todas as respostas, mas o alerta está dado. Os microplásticos deixaram de ser apenas um resíduo ambiental para se tornarem um fator emergente de risco à saúde humana. Entre hábitos de consumo e escolhas políticas, está em jogo o futuro de gerações expostas a um inimigo tão discreto quanto perigoso.
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