MP exige retirada imediata da grama sintética de áreas públicas de Goiânia e impõe restauração ambiental
Estudo pericial aponta danos ambientais e risco urbano — e prefeitura acata ordem do Ministério Público de Goiás.

A Comurg, empresa de urbanização de Goiânia — cumprirá recomendação do MPGO e removerá os trechos de grama sintética instalados em canteiros centrais da cidade. A determinação abrange não apenas a retirada do material artificial, mas também a recuperação dos locais com grama natural e espécies nativas do bioma Cerrado. A ação foi motivada por parecer técnico da Coordenação de Apoio Técnico-Pericial (Catep), que concluiu que a substituição da vegetação natural por grama plástica compromete funções ambientais cruciais e pode agravar problemas urbanos, como impermeabilização do solo e risco de enchentes.
Razões técnicas e ambientais para a reversão
O laudo da Catep, invocado pelo MPGO, destaca que a grama sintética não realiza processos naturais essenciais — como evapotranspiração, troca gasosa com o solo, retenção de umidade, absorção de CO₂ e suporte à biodiversidade subterrânea (microrganismos, insetos e pequenos vertebrados) — o que elimina a fertilidade do solo e inviabiliza sua função ecológica. Além disso, por ser impermeável e não contar com sistema de drenagem, o material impede a infiltração da água da chuva, prejudicando a recarga do lençol freático e favorecendo o escoamento superficial. Em um contexto de fortes chuvas, isso pode intensificar alagamentos e enchentes.
Outro ponto grave levantado pelos peritos: o uso da grama artificial altera o microclima urbano. Por reter calor e impedir refrigeração via evapotranspiração, a grama sintética tende a elevar a temperatura superficial — fenômeno comum nas chamadas “ilhas de calor” — o que contrasta com o perfil verde e arborizado tradicional da capital.
Histórico da implantação e críticas sociais
A grama sintética fora aplicada em 2025 em trechos da Avenida Castelo Branco e da região da Rua 44, como parte de um projeto piloto da Comurg para aproveitar material estocado em gestões anteriores. A justificativa da prefeitura na época era de reduzir custos com irrigação, poda e manutenção, especialmente diante da estiagem e da dificuldade de manter gramados naturais saudáveis.
Contudo, a iniciativa dividiu críticas desde o início. Moradores relataram que, após chuvas recentes, partes da grama sintética se soltaram, evidenciando fragilidade da cobertura. A preocupação com a drenagem urbana, consequências para a biodiversidade local e descaracterização do paisagismo goianiense levou a mobilizações políticas e técnicas: a Câmara Municipal de Goiânia chegou a discutir projeto para proibir o uso de grama sintética em áreas públicas.
Caminho para reversão: plano de recuperação
O MPGO exige que, em até 20 dias úteis, a Prefeitura envie relatório técnico com mapeamento completo das áreas onde a grama sintética foi aplicada, cronograma de remoção e plano de revegetação com grama natural e plantas do Cerrado — de modo a restaurar a permeabilidade do solo, drenagem, vegetação nativa, biodiversidade e microclima.
Em nota, a Comurg confirmou a determinação e informou que tanto a remoção quanto a destinação adequada dos materiais estão em curso. O restante da grama sintética usada e estocada seria redirecionado para quadras e campos esportivos, encerrando o ciclo de testes em canteiros urbanos.
Implicações para o planejamento urbano e governança
A revogação da grama sintética em Goiânia evidencia a importância de critérios técnicos e ambientais em projetos urbanos. A decisão do MPGO reforça que estética e manutenção econômica não podem se sobrepor à sustentabilidade do solo, drenagem, biodiversidade e saúde urbana. A partir de agora, o desafio será recuperar os espaços afetados, reestabelecer as funções ecológicas e assegurar que o planejamento paisagístico privilegie soluções adaptadas ao clima e ecossistema local.
A reversão também representa sinal institucional de responsabilidade, demonstrando que erros de gestão podem — e devem — ser corrigidos quando submetidos à fiscalização e ao escrutínio técnico. Para Goiânia, a medida pode marcar o resgate de sua identidade verde e a adoção consciente de práticas urbanísticas que dialoguem com seu meio ambiente.
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