20 de dezembro de 2025
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Morre Lindomar Castilho, ícone da música romântica cuja trajetória foi marcada por um feminicídio histórico

Cantor goiano, autor de sucessos populares, teve a carreira atravessada pelo assassinato de Eliane de Grammont, crime que expôs a face mais brutal da violência contra a mulher no Brasil
(Reprodução / Instagram Lili De Grammont)

Morreu em Goiânia, aos 85 anos, o cantor Lindomar Castilho, um dos nomes mais populares da música romântica brasileira entre as décadas de 1970 e 1980. A morte foi confirmada pela filha, Lili De Grammont, por meio de publicações nas redes sociais. A família não divulgou a causa. O sepultamento ocorre neste sábado (20), no Cemitério Santana, na capital goiana.

Dono de um repertório que alcançou grande difusão nacional, Lindomar emplacou sucessos como “Tapas e Beijos” e “Você é doida demais”, canções que atravessaram gerações, figuraram em trilhas sonoras de televisão e consolidaram seu nome como presença frequente em rádios, programas de auditório e palcos do país. O êxito artístico, no entanto, passou a conviver de forma indissociável com um crime que redefiniu sua biografia pública.

Em 1981, Lindomar assassinou a tiros a cantora Eliane de Grammont, sua ex-esposa, durante uma apresentação dela em um bar na cidade de São Paulo. Eliane tinha 26 anos. O homicídio, cometido em local público e diante de testemunhas, provocou comoção nacional e se tornou um dos casos mais emblemáticos da violência contra a mulher no Brasil, ainda em um período no qual o tema raramente era tratado como questão estrutural.

Condenado a 12 anos de prisão, o cantor cumpriu parte da pena e deixou o sistema prisional na década de 1990. Apesar de tentativas posteriores de retomar a carreira, o crime passou a acompanhar de forma permanente qualquer menção ao seu nome, suscitando debates sobre responsabilização, memória, justiça e os limites entre obra artística e conduta pessoal.

Ao anunciar a morte do pai, Lili De Grammont publicou um texto contundente, no qual refletiu sobre finitude, responsabilidade e as consequências irreversíveis da violência. Em sua manifestação, ela destacou que o assassinato da mãe não interrompeu apenas uma vida, mas desestruturou de forma definitiva uma família inteira. Eliane foi morta quando Lili tinha apenas dois anos.

Em suas palavras, a perda da mãe e a prisão do pai produziram um vazio prolongado, marcado por rupturas afetivas, ausência e desconfiança, transformando relações familiares em cicatrizes permanentes. O relato público da filha tem sido reconhecido como parte importante da preservação da memória de Eliane de Grammont, frequentemente lembrada como vítima de um crime que ajudou a expor a gravidade da violência de gênero no país.

A morte de Lindomar Castilho encerra uma trajetória marcada por contrastes profundos: de um lado, o sucesso popular e o reconhecimento artístico; de outro, um crime que ultrapassou a esfera individual e se tornou símbolo de um problema social persistente. Seu falecimento reabre, inevitavelmente, o debate sobre como o Brasil lida com a memória de figuras públicas cuja obra convive com atos de extrema violência, especialmente quando essas ações deixaram marcas históricas e irreparáveis.

Confira o texto da filha Lili De Grammont:

Hoje um ciclo se encerra…

O que te faz ser quem você é? As palavras não são suficientes para explicar o que estou sentindo! Só sinto uma humanidade imensa, sinto o tanto que estamos nesta terra para evoluir. Sinto o poder das coisas que verdadeiramente importam.

Meu pai partiu! E como qualquer ser humano, ele é finito, ele é só mais um ser humano que se desviou com sua vaidade e narcisismo. E ao tirar a vida da minha mãe também morreu em vida. O homem que mata também morre. Morre o pai e nasce um assassino, morre uma família inteira.

O que fica é: Somos finitos, nem melhores e nem piores do que o outro, não somos donos de nada e nem de ninguém, somos seres inacabados, que precisamos olhar pra dentro e buscar nosso melhor, estar perto de pessoas que nos ajudem a trazer a beleza pra fora e isso inclui aceitarmos nossa vulnerabilidade.

Assim me despeço do meu pai, com a consciência de que a minha parte foi feita com dor sim, mas com todo o amor que aprendi a sentir e expressar nesta vida.

Se eu perdoei? Essa resposta não é simples como um sim ou não, ela envolve tudo e todas as camadas das dores e delícias de ser, um ser complexo e em evolução.

Diante de tudo isso, desejo que a alma dele se cure, que sua masculinidade tóxica tenha sido transformada.

Pai, tudo é fulgaz, não somos donos de nada e nem de ninguém. O que fica é a essência! O que fica é o religar, das almas que se conectam. O poder exige responsabilidade. Escolha sua melhor parte! Somos luz e sombra, tenha coragem de escolher sua luz.

Me despeço com a certeza de que essa vida é uma passagem e o tempo é curto para não sermos verdadeiramente felizes, e ser feliz é olhar pra dentro e aceitar nossa finitude e fazer de cada dia um pequeno milagre.

Pai, descanse e que Deus te receba, com amor… E que a gente tenha a sorte de uma segunda chance.

Lili

Tags: #Cultura #MúsicaBrasileira #Feminicídio #Justiça #MemóriaHistórica

Marcus

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