Lixo descartado de forma irregular ameaça saúde, meio ambiente e abastecimento de água em Goiás
Com mais de 38 mil casos de dengue em 2025, acúmulo de resíduos em terrenos baldios e áreas urbanas sem fiscalização agrava proliferação do Aedes aegypti, contamina solos, atinge lençóis freáticos e atrai animais peçonhentos.
Nas ruas de Goiânia, Anápolis, Aparecida e outras cidades goianas, cenas cotidianas de sacos de lixo abertos, restos de entulho, móveis velhos e até carcaças de eletrodomésticos abandonados em calçadas e terrenos baldios representam um risco silencioso que avança com gravidade: o descarte irregular de resíduos sólidos, uma prática que agride o meio ambiente e transforma centros urbanos em focos permanentes de doenças e pragas.
Com mais de 38 mil casos de dengue confirmados apenas nos primeiros meses de 2025 em Goiás, o cenário é de alerta máximo. Os dados são da Secretaria Estadual de Saúde e apontam que a proliferação do mosquito Aedes aegypti tem estreita relação com a quantidade de lixo descartado de forma irresponsável, principalmente em áreas periféricas sem coleta regular ou fiscalização.
“Basta uma tampinha de garrafa para que dezenas de ovos do Aedes sejam depositados. Imagine o impacto de sofás, pneus e embalagens deixados a céu aberto?”, explica Daniel Graziani, gerente de controle de animais sinantrópicos, em entrevista à TV Anhanguera.
Escorpiões, cobras e ratos: a fauna que se adapta à sujeira
O lixo doméstico descartado em lugares impróprios também atrai animais sinantrópicos — aqueles que convivem com humanos nos espaços urbanos e rurais, como escorpiões, baratas, ratos, cobras e moscas.
Segundo Graziani, esses animais se aproveitam de ambientes desordenados para se esconder, se alimentar e se reproduzir, aumentando o risco de acidentes e doenças como leptospirose, tifo, febre amarela e envenenamentos por picadas.
Bairros como Vila Canaã, Setor Vera Cruz e Jardim Novo Mundo, por exemplo, acumulam diversas notificações por aparecimento de escorpiões nas últimas semanas, conforme relatórios da vigilância ambiental da capital. Em muitos casos, os moradores registraram invasões dos animais dentro das próprias residências, especialmente nos períodos mais secos.
Lixo urbano contamina águas subterrâneas e prejudica abastecimento
Além do impacto imediato na saúde da população, o lixo descartado de forma irregular gera um problema ambiental de longo prazo: a contaminação do solo e dos lençóis freáticos. Resíduos orgânicos e materiais perigosos como pilhas, óleos, tintas e plásticos liberam substâncias tóxicas que se infiltram lentamente no solo e alcançam os aquíferos subterrâneos — fontes naturais de abastecimento de água potável para milhões de pessoas no estado.
Estudos do Instituto Federal de Goiás (IFG) em parceria com a UFG indicam que a presença de lixões clandestinos em áreas rurais próximas a nascentes já provocou aumento de coliformes fecais e metais pesados em pequenos cursos d’água da Região Metropolitana de Goiânia.
Em locais como Aparecida de Goiânia e Trindade, córregos urbanos apresentam trechos mortos ou contaminados, o que compromete a biodiversidade aquática e impõe custos extras ao tratamento da água potável realizada pelas concessionárias.
Solução começa dentro de casa: educação, fiscalização e reciclagem
Especialistas em saúde pública e meio ambiente concordam que a mudança começa com o cidadão: separar o lixo corretamente, respeitar os dias de coleta, descartar resíduos volumosos em pontos de coleta específicos e evitar jogar entulho ou lixo doméstico em terrenos baldios.
Campanhas municipais e estaduais de conscientização, no entanto, ainda são tímidas diante da gravidade do problema. Faltam também políticas públicas mais rigorosas de fiscalização e punição. A Prefeitura de Goiânia, por exemplo, registrou mais de 4 mil denúncias de descarte irregular em 2024, mas aplicou menos de 300 multas efetivas.
Em entrevista à TV Brasil Central, o ambientalista e urbanista Carlos Roberto Viana aponta que a falta de planejamento urbano e de políticas de resíduos sólidos eficazes “é um dos maiores desafios ambientais enfrentados pelas cidades brasileiras no século XXI”.
O que fazer em caso de descarte irregular perto de casa?
Se você identificar lixo sendo descartado em locais inadequados, pode denunciar às prefeituras pelos seguintes canais:
- Goiânia: 156 ou app Prefeitura 24h
- Anápolis: 3902-2882 – Ouvidoria da Semma
- Aparecida de Goiânia: 3545-5900 – Secretaria de Meio Ambiente
É possível também acionar equipes de zoonoses em caso de infestação de escorpiões, baratas ou roedores, ou pedir fiscalização ambiental em caso de risco à saúde coletiva.
Um futuro limpo depende de todos
O lixo que jogamos fora não desaparece: ele volta, muitas vezes, em forma de doenças, desequilíbrios ecológicos e tragédias urbanas evitáveis. Em tempos de emergência climática e crises sanitárias recorrentes, cuidar do resíduo doméstico é também um gesto de responsabilidade coletiva.
Como afirmou o sanitarista Luiz Fernando Carvalho, do Instituto Saúde e Cidadania:
“O lixo urbano é, acima de tudo, um reflexo do cuidado que temos — ou deixamos de ter — com nossa própria casa, que é a cidade.”
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