LER/DORT: A Epidemia Oculta do Trabalho e Seus Impactos na Previdência e Saúde Pública
Diagnósticos crescem no Brasil, afastando milhares de trabalhadores anualmente. Especialistas explicam direitos previdenciários, prevenção e desafios do sistema.

Lesões por Esforços Repetitivos (LER) e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT) estão entre as principais causas de afastamento do trabalho no Brasil. De acordo com o Ministério da Saúde, essas condições são as mais comuns entre as doenças ocupacionais e atingem principalmente trabalhadores que realizam movimentos repetitivos, permanecem em posturas inadequadas ou executam tarefas sob alta carga física e mental.
O problema tem números alarmantes. Entre 2007 e 2016, o país registrou 67.599 casos de LER/DORT, representando um aumento de 184% nesse período. Já em 2019, quase 39 mil trabalhadores foram afastados de suas atividades devido a essas doenças. Segundo dados mais recentes do INSS, em 2023, mais de 10 mil trabalhadores solicitaram afastamento por doenças relacionadas a essas lesões.
Embora as estatísticas sejam altas, os especialistas alertam que os números reais podem ser ainda maiores, já que muitos casos não são notificados ou sequer diagnosticados corretamente. “Muitos trabalhadores sofrem com dores crônicas, mas não procuram atendimento por medo de perder o emprego ou por desconhecimento sobre seus direitos”, afirma a reumatologista Camila Zubeidi, especialista em doenças ocupacionais.
Direitos previdenciários e trabalhistas para quem sofre com LER/DORT
O advogado previdenciarista Jefferson Maleski, do escritório CCS Advogados, esclarece que trabalhadores diagnosticados com LER/DORT podem ter direito a benefícios do INSS, dependendo do grau de incapacidade.
- Auxílio-doença (incapacidade temporária): concedido a trabalhadores segurados que precisam se afastar temporariamente devido às lesões.
- Aposentadoria por invalidez (incapacidade permanente): caso o trabalhador não consiga mais exercer sua função, pode solicitar a aposentadoria por invalidez, hoje chamada de benefício por incapacidade permanente.
- Benefício de Prestação Continuada (BPC/LOAS): para aqueles que não contribuem com o INSS, mas comprovam deficiência e baixa renda (renda familiar per capita de até um quarto do salário mínimo).
- Estabilidade no emprego: trabalhadores afastados por auxílio-doença acidentário têm garantia de estabilidade por 12 meses após o retorno ao trabalho.
- Reabilitação profissional: o INSS pode encaminhar trabalhadores para cursos de capacitação no SENAI e SENAC, para que possam ser reinseridos em novas funções.
Além dos benefícios previdenciários, o trabalhador pode buscar na Justiça indenizações por danos morais e materiais, caso fique comprovado que o empregador negligenciou as condições adequadas de trabalho.
Principais sintomas e formas de tratamento
A reumatologista Camila Zubeidi destaca os principais sintomas de LER/DORT, que podem surgir de forma gradual:
- Dor persistente nas costas, pescoço, ombros, mãos ou braços.
- Sensação de inchaço, formigamento ou fraqueza muscular.
- Dificuldade para realizar movimentos antes simples, como segurar objetos ou digitar.
O tratamento pode variar de acordo com o estágio da doença e inclui:
- Fisioterapia e reabilitação para aliviar a dor e restaurar a mobilidade.
- Uso de medicamentos (analgésicos e anti-inflamatórios) para controle da inflamação.
- Mudanças na rotina de trabalho, com adaptações ergonômicas e redução de esforços repetitivos.
- Em casos graves, cirurgia pode ser necessária para corrigir danos estruturais.
Como prevenir LER/DORT?
A prevenção dessas doenças passa por cuidados básicos no ambiente de trabalho e na rotina diária. Segundo especialistas, algumas medidas eficazes incluem:
Postura correta: manter a coluna alinhada e evitar sobrecarga nos membros superiores.
Pausas regulares: levantar-se, alongar e movimentar-se a cada 30 a 60 minutos.
Atividade física: exercícios físicos ajudam a fortalecer músculos e articulações.
Ergonomia: ajustar cadeiras, mesas e monitores para uma postura mais saudável.
Redução de estresse: tensão emocional também pode agravar quadros de LER/DORT.
Impacto econômico e desafios do sistema de saúde
As LER/DORT representam não apenas um problema de saúde pública, mas também um impacto significativo na economia brasileira. O crescimento do número de afastamentos sobrecarrega o INSS, aumenta os custos das empresas e reduz a produtividade da força de trabalho.
A implementação de programas de prevenção e a melhoria das condições de trabalho são essenciais para frear esse avanço. “Investir em ergonomia, treinamento e conscientização é mais barato para as empresas do que arcar com afastamentos e indenizações”, pontua Maleski.
No Dia Mundial de Combate à LER/DORT, celebrado em 28 de fevereiro, o alerta se reforça: prevenir e tratar essas doenças é um compromisso que deve envolver trabalhadores, empresas e o poder público. Afinal, a saúde ocupacional é um direito fundamental de todos.
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