Laticínio Transforma Resíduos em Fertilizante e Irrigação Sustentável, Impulsionando Produtividade e Conservação

Em um exemplo notável de sinergia entre indústria e meio ambiente, a Marajoara Laticínios, localizada em Hidrolândia, na região metropolitana de Goiânia, implementou um sistema engenhoso que não apenas trata sua água residual com alta eficiência (superior a 90%), mas também transforma subprodutos do processo em valiosos recursos para a agricultura e a pecuária local. Celebrando o Dia Nacional da Conservação do Solo (14 de abril), a iniciativa da Marajoara demonstra como a aplicação de tecnologia e uma visão sustentável podem gerar benefícios mútuos para a produção de alimentos e a preservação dos recursos naturais em Goiás, estado com o terceiro maior rebanho bovino do Brasil.

A Estação de Tratamento de Água (ETE) da Marajoara, que processa a água utilizada na produção de seus mais de 10 itens lácteos (incluindo leites diversos, cremes e leite condensado, com uma capacidade de envase superior a 12 mil litros por hora), gera mensalmente cerca de 300 toneladas de uma biomassa rica em proteínas e nutrientes essenciais para o solo. Consciente do potencial desse resíduo, a indústria obteve aprovação ambiental em 2018 para o Projeto Biomassa, que destina gratuitamente esse fertilizante orgânico para pecuaristas vizinhos cadastrados.

“Essa biomassa é muito rica em matéria orgânica e em micro e macronutrientes para o solo”, explica Vinícius Junqueira, diretor geral da Marajoara Laticínios. Antes da distribuição, a empresa realiza análises do solo das propriedades beneficiadas, garantindo uma aplicação mais eficiente e direcionada. Um dos produtores que colhe os frutos dessa iniciativa é Emerson Oliveira, que diariamente recebe caminhões-pipa carregados com a biomassa em sua fazenda. “Desde que comecei a jogar a biomassa no capim, passei a colocar mais gado no espaço e diminuí a necessidade de ração”, relata Oliveira, evidenciando o aumento da produtividade e a redução de custos proporcionados pelo projeto.

A Marajoara avançou em sua busca por soluções sustentáveis com o desenvolvimento do projeto de Fertirrigação, uma iniciativa que utiliza a água tratada em sua ETE para irrigar uma área de pastagem de 160 mil m² adjacente à indústria. Anteriormente, essa água, já purificada, era descartada no Córrego Grimpas. Desde 2021, o sistema de fertirrigação direciona essa água de reuso para manter a produtividade do pasto durante todo o ano, independentemente das condições climáticas.

“Com esse projeto de fertirrigação, conseguimos dar uma destinação mais sustentável para essa água”, afirma Vinícius Junqueira. Três bombas instaladas em tanques de água tratada impulsionam o líquido por quase um quilômetro de tubulações até alcançar cerca de 600 aspersores, cada um com um raio de alcance de até 11 metros. O sistema, com uma vazão média de 75 mil litros por hora, reaproveita impressionantes um milhão de litros de água a cada 12 horas, com um manejo rotativo do pasto dividido em piquetes que quintuplicou a produtividade. Uma vantagem adicional é a possibilidade de suplementar o pasto diluindo nutrientes nos próprios tanques da ETE, simplificando o processo de adubação.

A bióloga Daniela Souza Silva, que assessorou a Marajoara no desenvolvimento do projeto, destaca um benefício ambiental crucial: a recarga dos aquíferos locais. “Com esse sistema de fertirrigação, parte da água é absorvida pela planta, no caso o capim do pasto, parte é evaporada e uma parte significativa vai para o lençol freático”, explica a consultora, demonstrando o ciclo virtuoso criado pela iniciativa.

A combinação dos projetos Biomassa e Fertirrigação representa uma abordagem pioneira e integrada de sustentabilidade no setor industrial, oferecendo um protótipo de eficiência para a pecuária, um dos pilares da economia goiana. O reconhecimento veio em 2021, quando a Marajoara conquistou o primeiro lugar na categoria Elementos Naturais da 19ª edição do Troféu Seriema, uma premiação de âmbito nacional concedida pelo Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Goiás (Crea-GO).

Para Vinícius Junqueira, a premiação é um endosso importante da visão da Marajoara, que desde sua fundação prioriza a inovação e o cuidado com os recursos hídricos e o solo. “Com investimento em inovação e empenho, podemos garantir o retorno de água ao lençol freático e sua disponibilidade futura. Nosso exemplo poderá também estimular outras empresas a adotar a prática 100% sustentável nos próximos anos, pois é um caminho sem volta”, conclui o diretor, sinalizando um futuro mais verde e produtivo para a agropecuária goiana.

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