Justiça desbloqueia R$ 57 milhões para saúde em Goiânia: paliativo frente à crise bilionária
Liberação judicial alivia momentaneamente a rede pública de saúde, mas escândalos e rombo financeiro desafiam soluções definitivas.

Em uma decisão que proporciona alívio temporário para o Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiânia, a Justiça determinou nesta quarta-feira (18) o desbloqueio de R$ 57 milhões do Fundo Municipal de Saúde (FMS). Esses recursos, retidos desde o início do mês em razão de irregularidades investigadas na Secretaria Municipal de Saúde (SMS), serão utilizados para quitar dívidas acumuladas com unidades hospitalares e fornecedores.
Destino do montante: priorizações e gargalos
Dos R$ 57 milhões, R$ 15 milhões ficarão sob a gestão do interventor da SMS, Márcio de Paula Leite, enquanto os R$ 42 milhões restantes serão repassados a hospitais contratualizados. O Hospital Araújo Jorge, referência no tratamento oncológico, recebeu R$ 9,2 milhões, reduzindo parte de sua dívida, que soma R$ 55,3 milhões. A Santa Casa de Misericórdia também foi contemplada, recebendo quase R$ 4 milhões.
Por outro lado, a situação da Fundação de Apoio ao Hospital das Clínicas (Fundahc) segue crítica. Responsável pelas três maternidades municipais, a Fundahc não teve os valores prometidos de R$ 12 milhões creditados até o momento, agravando um déficit que ultrapassa R$ 88 milhões. A inadimplência levou trabalhadores à greve, prejudicando o atendimento.
Crise nas maternidades: impacto no atendimento
A greve dos trabalhadores das maternidades municipais paralisou parcialmente as atividades, com atendimentos restritos a emergências. Relatos de servidores indicam situações extremas, como a necessidade de “vaquinhas” para custear transporte ao trabalho. Na Maternidade Nascer Cidadão, um dos principais polos de atendimento às gestantes da região, o quadro de crise se reflete em longas esperas e falta de materiais essenciais.
Em assembleia marcada para esta quinta-feira (19), o Sindicato dos Trabalhadores do Sistema Único de Saúde no Estado de Goiás (Sindsaúde) discutirá a possível amplificação da greve, trazendo riscos de paralisação generalizada na rede municipal.
Escândalos e foragidos: o contexto da crise

Enquanto os problemas financeiros ganham destaque, os desdobramentos da investigação de corrupção na SMS lançam luz sobre gestões anteriores. O ex-secretário Wilson Pollara e o ex-secretário-executivo Quesede Ayres Henrique, ambos considerados foragidos, são apontados como responsáveis por desvios milionários. Pollara, que alegou estar em tratamento médico em São Paulo, teve um habeas corpus negado.
Soluções de longo prazo: desafios e caminhos
Apesar do impacto imediato dos R$ 57 milhões, especialistas alertam que o montante está longe de sanar o rombo financeiro estimado em mais de R$ 1 bilhão. Segundo a promotora Marlene Nunes Freitas Bueno, do Ministério Público de Goiás, é fundamental reavaliar a gestão orçamentária e garantir maior transparência.
“A crise atual é reflexo de anos de planejamento inadequado e falta de controle. Além de medidas emergenciais, é preciso estruturar uma política de financiamento que assegure estabilidade”, destacou.
Enquanto isso, a população segue enfrentando os impactos de uma rede de saúde fragilizada, com filas crescentes e atendimento precário. Resta saber se as promessas de reorganização da gestão municipal se converterão em soluções efetivas ou apenas em mais paliativos temporários.
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