Homem é preso em Goiânia por vender cogumelos alucinógenos e realizar cerimônias espirituais com substâncias proibidas
Suspeito usava escritório do pai, advogado, para manipular e vender psilocibina, substância alucinógena ilegal no Brasil; Operação “Toad” investigava o caso há seis meses
Um homem foi preso em flagrante na manhã desta quinta-feira (26), durante a operação “Toad”, por vender e manipular cogumelos alucinógenos no escritório do pai, advogado renomado em Goiânia. A investigação, que durou cerca de seis meses, revelou que o suspeito produzia e comercializava substâncias ilegais, como psilocibina, extraída dos cogumelos psilocybe cubensis, em forma de chocolates e cápsulas, e realizava cerimônias espirituais que prometiam tratar depressão e ansiedade com o uso dessas substâncias.
Segundo o delegado Francisco Costa, responsável pela investigação, o homem utilizava uma sala alugada no escritório do pai, localizado em uma área nobre da capital, para armazenar e manipular os cogumelos. O espaço era usado para a produção dos alucinógenos que, posteriormente, eram distribuídos por todo o Brasil via Correios. A operação resultou no cumprimento de três mandados de busca e apreensão em locais ligados ao suspeito, incluindo o escritório de advocacia, onde foi encontrada uma grande quantidade de cogumelos, além de chocolates e cápsulas com a substância proibida.
“Guia espiritual” e faturamento milionário
Durante as investigações, a Polícia Civil descobriu que o homem se autodenominava guia espiritual e utilizava as cerimônias como um disfarce para o tráfico de drogas. Ele alegava que os cogumelos tinham propriedades medicinais e eram usados em tratamentos alternativos para distúrbios mentais, como depressão e ansiedade. Cada sessão espiritual custava cerca de R$ 2,5 mil, e o suspeito chegava a faturar R$ 50 mil por mês com a venda dos produtos. Além das cerimônias, ele vendia as substâncias diretamente, enviando pelos Correios para diversas regiões do Brasil.
Os cogumelos alucinógenos são conhecidos por induzir estados alterados de consciência devido à presença de psilocibina, substância que provoca efeitos psicodélicos e, em muitos países, é estudada como possível tratamento para doenças mentais. No Brasil, no entanto, o uso e a comercialização da substância são proibidos, e ela é classificada como droga ilícita, semelhante a substâncias como LSD.
Operação “Toad” e a prisão do suspeito
A prisão do suspeito ocorreu durante a fase final da Operação Toad, nomeada em referência aos sapos, animais frequentemente associados ao universo dos alucinógenos e enteógenos, e que investigava o tráfico de psilocibina na capital goiana. Segundo o delegado Francisco Costa, a operação foi minuciosa e exigiu meses de monitoramento devido à complexidade da rede de distribuição e aos cuidados que o suspeito tomava para não ser detectado pelas autoridades.
“No escritório do pai, encontramos uma grande quantidade de cogumelos, tanto in natura quanto já processados, além de chocolates e cápsulas contendo a substância alucinógena. Ele já era investigado há meses por tráfico de drogas, e essa prisão foi um passo importante para desarticularmos o esquema”, disse o delegado.
Posição do advogado e da OAB-GO
O pai do suspeito, cujo nome também não foi divulgado, é um advogado respeitado na cidade, mas, segundo as investigações, não há indícios de que ele soubesse das atividades ilícitas que o filho realizava em uma sala do seu escritório. “Ele foi liberado após a operação, já que não encontramos elementos que provem o envolvimento dele no tráfico”, informou o delegado.
Em nota, a Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Goiás (OAB-GO) afirmou que acompanhou a operação realizada pela Polícia Civil no escritório do advogado e destacou que ele não é o alvo das investigações, reiterando que todo o processo será acompanhado de perto para garantir a legalidade das ações policiais.
Tratamento alternativo ou tráfico de drogas?
O uso de substâncias psicodélicas para fins terapêuticos tem sido um tema controverso, especialmente em países como o Brasil, onde a legislação ainda é rígida em relação a essas substâncias. Apesar de existirem estudos promissores sobre o uso controlado de psilocibina para o tratamento de transtornos como depressão e estresse pós-traumático, o comércio e uso recreativo continuam sendo ilegais.
No entanto, o suspeito, ao se promover como um “guia espiritual” que oferecia tratamentos alternativos, misturou as fronteiras entre práticas religiosas e tráfico de drogas. “Ele usava esse pretexto para justificar o uso de substâncias proibidas, mas no fundo, era uma rede de tráfico organizada e lucrativa”, declarou Francisco Costa.
A prisão do suspeito reabre o debate sobre a regulamentação de substâncias psicodélicas no Brasil e até que ponto práticas consideradas alternativas podem ser utilizadas como cobertura para o tráfico de drogas.
O homem, que agora está à disposição da Justiça, foi autuado por tráfico de drogas, um crime grave que pode acarretar penas pesadas, dependendo da sentença final. Enquanto isso, as investigações continuam para identificar possíveis colaboradores e outros clientes que possam estar envolvidos na rede de distribuição de psilocibina.