“Homem de 61 anos é preso em Trindade por extorsão durante romaria fingindo ser servidor e advogado”
Durante a Festa do Divino Pai Eterno, o suspeito abordava vendedores ambulantes e exigia pagamentos sob ameaça de supostas fiscalizações oficiais. Polícia Civil descobriu esquema, prendeu o homem e orienta vítimas a denunciarem.

A tranquilidade e fé que marcam anualmente a Romaria do Divino Pai Eterno, em Trindade, na Região Metropolitana de Goiânia, foram parcialmente comprometidas neste ano por um esquema criminoso de extorsão. A Polícia Civil de Goiás prendeu, na última segunda-feira (30), um homem de 61 anos acusado de se passar por servidor público e advogado para extorquir comerciantes e ambulantes durante o evento religioso que movimenta milhões de fiéis na cidade.
Segundo apuração da Delegacia Estadual de Repressão a Crimes Contra o Consumidor (Decon), o suspeito vestia uma camisa da edição de 2022 da romaria, aparentando vínculo com a Prefeitura, e abordava ambulantes que haviam alugado barracas em áreas públicas, exigindo pagamentos em dinheiro sob a ameaça de “problemas com a fiscalização”.
Extorsão disfarçada de fiscalização
De acordo com a delegada Silvana Nunes, responsável pela investigação, o homem se apresentava como funcionário público municipal e, em algumas abordagens, também como advogado. As exigências de pagamento variavam de acordo com o perfil da vítima, mas tinham um ponto em comum: o medo de serem penalizadas ou expulsas do local pela suposta “fiscalização oficial”.
“Ele usava da confiança natural depositada nos representantes do poder público durante a festa para pressionar trabalhadores vulneráveis, que apenas buscavam tirar o sustento vendendo comida, bebida e artesanato”, afirmou a delegada. A polícia já ouviu três vítimas que confirmaram a abordagem criminosa, e imagens de câmeras de segurança confirmaram a atuação do suspeito.
Negativa e contradições
Ao ser interrogado, o investigado negou as acusações. Disse viver de doações e que apenas “pediu ajuda” aos comerciantes. A versão é considerada pouco crível pela Polícia Civil, que investiga o histórico do suspeito e apura se ele já havia aplicado o mesmo golpe em edições anteriores da romaria.
Segundo informações obtidas pela reportagem, a camisa utilizada por ele era uma peça original, entregue pela Prefeitura durante a edição de 2022 a voluntários e colaboradores. O item, de uso restrito, pode ter sido obtido de forma indevida ou mantido irregularmente após o encerramento das atividades daquela edição do evento.
Nota oficial da Prefeitura e alerta à população
Em nota oficial, a Prefeitura de Trindade reforçou que nenhum servidor está autorizado a receber valores diretamente dos comerciantes. “Toda arrecadação oficial é feita exclusivamente por meio de Documento Único de Arrecadação Municipal (DUAM). Cobranças em espécie são terminantemente proibidas”, esclareceu a gestão.
A administração também reforçou que todos os servidores municipais são identificados com crachás e uniformes atualizados, e que denúncias de abordagem indevida devem ser feitas imediatamente às autoridades locais.
Romaria e movimentação econômica
A Romaria do Divino Pai Eterno é considerada a segunda maior do país em número de fiéis, atrás apenas do Círio de Nazaré, em Belém (PA). Em 2024, mais de 3 milhões de romeiros passaram por Trindade ao longo dos dez dias de festa, movimentando mais de R$ 100 milhões, segundo estimativas da prefeitura e da Associação Filhos do Pai Eterno (Afipe). A cidade, que possui cerca de 130 mil habitantes, vê sua população quase triplicar nesse período, o que exige reforço na fiscalização, segurança e serviços públicos.
A vulnerabilidade dos comerciantes e ambulantes, muitos vindos de outros estados ou com baixa escolaridade, os torna alvo fácil para práticas criminosas como a observada neste caso.
Desdobramentos e investigação
A Polícia Civil instaurou inquérito e investiga se o homem agia sozinho ou fazia parte de um esquema maior. A delegada Silvana Nunes reforça que outras vítimas podem ter sido coagidas e orienta que quem tiver sido abordado indevidamente procure imediatamente a delegacia ou utilize os canais digitais da Polícia Civil para registrar denúncia.
O caso serve de alerta para outros eventos populares de grande porte em Goiás e em todo o país, onde a ausência de identificação rigorosa e a alta movimentação financeira abrem espaço para práticas semelhantes.
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